MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 3 de março de 2014

Blocos de carnaval mantêm tradição da folia de rua nos bairros de Maceió


Desde a década de 30, os blocos ganham destaque no carnaval.
Desfiles chamam atenção de quem passa e arrastam pessoas para a folia.

Do G1 AL

Ruas foram tomadas por foliões (Foto: Waldson Costa/ G1)Ruas Sá e Albuquerque fica tomada por foliões
durante o Jaraguá Folia. (Foto: Waldson Costa/ G1)
O bairro de Jaraguá já é conhecido tradicionamento pelos maceioenses como um polo de carnaval. As prévias começam na sexta-feira, com o Jaraguá Folia, e prosseguem com o desfile do Pinto da Madrugada, na orla da Praia de Pajuçara. Mas uma tradição ainda se mantém nos dias da festa de Momo em outros bairros da capital: o desfile de blocos de rua.
Com camisas padronizadas, na maioria das vezes, e acompanhados por uma orquestra, os blocos chamam atenção e arrastam moradores dos bairros para a folia. Em Maceió, os blocos de rua são consagrados desde a década de 30, mas perderam força nos útimos anos, com a falta de apoio do poder público. Este ano, porém, retornam com força pra resgatar a tradição.
De acordo com o pesquisador do Museu de Imagem e Som de Alagoas (MISA), Gilberto Leite, o aporte financeiro oferecido pela prefeitura da capital garantiu a estrutura necessária para o desfile neste carnaval. "Maceió vive um novo momento no que diz respeito às manifestações e produções culturais. Com o carnaval não poderia ser diferente", avalia.
Só neste ano em Maceió, são mais de 100 blocos de rua espalhados pelos bairros da cidade. “Ao tempo que o carnaval cresce muito em número de foliões, vai haver uma descentralização da festa que ocorria nos municípios. Muita gente vai preferir passar os quatro dias em Maceió, ao invés de se deslocar para o litoral, porque novos blocos surgiram, são outras opções. Isso faz com que haja uma distribuição melhor pela cidade e mais opções para o folião circular”, comenta o pesquisador.
Rua do Comércio, na década de 50, durante bloco de rua. (Foto: MISA)Rua do Comércio, na década de 50, durante bloco de rua. (Foto: MISA)
Foram os blocos de rua que, lá na década de 30, abriram caminho para outros blocos e para as escolas de samba. Os mais tradicionais arrastavam centenas de simpatizantes ao som de seus conjuntos de frevo. Eram vários, como “Cara Dura”, “Sai da frente”, “Cavaleiro do Monte”, “Vou botar fora” e o “Vulcão”, da Polícia Militar (PM), este último desfila até hoje nas prévias carnavalescas da capital.
Nas décadas de 30, 40 e 50 os blocos de rua costumavam desfilar na Rua do Comércio, no Centro, até a Avenida da Paz, no bairro de Jaraguá. Esses blocos saíam com a elite da época. A classe média e baixa se restringia a aproveitar os blocos da periferia de Maceió. "Tinham dois tipos de festas, as de salão e as de rua. Os mais ricos da época, faziam limões de cera para jogar nas pessoas em bailes fechados. Já na festa de rua, a diversão era garantida com água, tripa de proco, farinha, ovo e tomate podre. Esses eram mais populares”, disse.
Tradicional boneca gigante é hoje um importante símbolo do carnaval em Jaraguá. (Foto: Reprodução/TV Gazeta)Tradicional boneca gigante, a mamãe é hoje um
importante símbolo do carnaval em Jaraguá.
(Foto: Reprodução/TV Gazeta)
Mais tarde, o bloco "Filhinhos da Mamãe", fundado em 1983 pela iniciativa de um grupo de amigos de classe média, buscava resgatar o frevo na cidade para os jovens que já não tinham espaço entre os mais ricos, os chamados "filhinhos de papai". No primeiro desfile do bloco, fantasiados de bebês, saíram da rua da praia e foram até a Praça Moleque Namorador, porque lá, eles poderiam atrair foliões, resgatando a tradição de passar nas casas, buscando pessoas para a folia.
Um dos fundadores do bloco, Ronaldo de Andrade, diz que, nos desfiles, eles faziam uma encenação teatral, como forma de protesto, em frente aos lugares que precisavam de uma atenção por parte das autoridades, a exemplo do tradicional bairro de Jaraguá, já abandonado naquela época, a espera de revitalização e incentivo cultural. "Não sei se conseguimos, mas no ano que fizemos isso, o Jaraguá voltou a ser visto pelas autoridades e continua sendo até hoje o bairro de maior concentração nas prévias carnavalescas", disse.
O carnaval de rua era mais badalado em pontos específicos, como a Rua do Comércio, a Praça Moleque Namorador e o bairro de Bebedouro, com grandes festas que aconteciam no sábado de Zé Pereira, à noite, com desfiles que saíam da cidade de Rio Largo e passavam por Bebedouro até chegarem à Avenida da Paz, no bairro de Jaraguá.
Moleque namorador, um passista famoso no carnaval. (Foto: MISA)Moleque namorador, um passista famoso no
carnaval. (Foto: MISA)
Moleque namorador
Na memória do carnaval de Maceió, existe a presença de um personagem marcante. Armando Veríssimo Ribeiro, mais conhecido como Moleque Namorador, famoso e premiado passista que acabou morrendo novo, com cerca de 30 anos, de tuberculose. No dia 7 de setembro de 1961, o prefeito da época, Sandoval Caju, deu nome à praça que seria conhecida como reduto do carnaval, no bairro da Ponta Grossa.
A praça é até hoje um dos pontos de maior concentração de foliões em Maceió. “Quando se falava de Moleque Namorador, na época, todos já sabiam que era um famoso passista. Hoje em dia não há quem não conheça a praça e onde ela está localizada”, afirmou Leite.
Na última sexta-feira (28), a Praça Moleque Namorador foi escolhida para receber a abertura oficial do carnaval em Maceió. Ao som do tradicional frevo pernambucano, o bairro de Ponta Grossa recebeu o rei e a rainha de Momo, que deram o pontapé inicial da festa promovida Prefeitura de Maceió, por meio da Fundação Municipal de Ação Cultural (Fmac), com o tema “Nas Ondas de Edécio”.
"Acho que o carnaval é mais democrático hoje e tem tudo para ficar cada dia mais democrático. O carnaval de rua continua sendo importante para a cultura da nossa cidade. Tanto que já se fala em alguns blocos tradicionais saírem sem cordas, isso jamais aconteceria há 5 anos. Os valores estão mudando", afirma.

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