MEDIÇÃO DE TERRA

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sábado, 1 de março de 2014

Bilionário doará fortuna em bolsas para instituições de caridade, pesquisa e ciências médicas na Noruega


Sem filhos, o empresário Olav Thon afirmou que colocará cerca de 90% dos seus US$ 4,1 bilhões em uma fundação

Bilionário doará fortuna em bolsas para instituições de caridade, pesquisa e ciências médicas na Noruega Kyrre Lien/NYTNS
Thon é filho de uma família de agricultores do vilarejo de Al, ao noroeste de Oslo, e trabalhava desde os 7 anos como pastor de ovelhas nas montanhas Foto: Kyrre Lien / NYTNS
Steven Erlanger
Olav Thon, 90 anos, é quase tão velho quanto a Noruega moderna, que se tornou independente da Suécia em 1905. Porém, atualmente, depois de passar de um menino pobre das montanhas ao habitante mais rico da Noruega, ele não tem certeza se a independência foi uma boa ideia.
A rápida ocupação da Noruega pela Alemanha Nazista na primavera de 1940 poderia nunca ter acontecido se a Noruega ainda fosse parte da Suécia, que nunca foi ocupada, afirmou.
— O nacionalismo era muito forte na Noruega em 1905, no sentido de que nos libertássemos da Suécia, mas devo dizer que não tenho certeza absoluta de que essa foi uma boa decisão; a Alemanha ocupou nosso país entre 1940 e 45. E se houvesse apenas um país escandinavo, talvez não fosse tão fácil realizar a ocupação.
O comentário é um dos exemplos de como ele gosta de misturar as coisas e se posicionar contra o consenso à esquerda que domina o país. Thon é um homem de negócios extremamente bem sucedido que não tem medo de apoiar a direita política em um dos países mais ricos e mais cheios de impostos do mundo, onde o dinheiro do petróleo e do gás natural financia um sistema de bem-estar social que transforma o trabalho praticamente em uma escolha de vida.
Ele gosta de roupas claras e nada sofisticadas, preferindo tecidos com xadrez colorido, um chapéu de lã cor-de-rosa que se tornou sua marca registrada e gravatas-borboleta verdes para mostrar que ele é um homem simples do povo que conseguiu um lugar entre o povo chique da cidade.
Ele sempre foi um crítico de Estados grandes e seu fardo fiscal — que paga de bom grado, preferindo não se tornar um exilado fiscal —, e teme o impacto da imigração nesta que era uma Noruega pequena, essencialmente rural e monoétnica.
Contudo, ele causou rebuliço ao fazer propagandas de página inteira nos jornais em favor do Parti Progressista anti-imigração, antes das eleições de setembro, que colocaram o partido no governo pela primeira vez como parceiro júnior do Partido Conservador, depois de oito anos de coalizões lideradas pelo Partido Trabalhista.
Thon, que é casado, mas não tem filhos, virou notícia novamente no ano passado quando anunciou que daria parte de sua fortuna a uma fundação, preservando boa parte de sua empresa e concedendo milhões de dólares em bolsas para instituições de caridade, de pesquisa e de ciências médicas.
Estima-se que sua fortuna seja de cerca de 25,4 bilhões de kroner (ou cerca de 4,1 bilhões de dólares); ele afirmou que colocará cerca de 90% desse montante na fundação, que será comandada por uma diretoria de sete membros, comandada por ele. Ele afirmou que daria ao menos 50 milhões de kroner ao ano (ou cerca de 8 milhões de dólares) em bolsas para inovação e pesquisa científica.
Falando em um inglês lento, mas fluente, ele reconhece que parte de sua ideia, uma vez que não tem herdeiros, tem o objetivo de preservar o futuro de sua empresa. Entretanto, ele ridicularizou a ideia de que estaria criando uma fundação de caridade para fugir dos impostos, destacando que o governo atual havia prometido eliminar o imposto de renda, de qualquer maneira.
Ao longo de uma entrevista de uma hora realizada durante um almoço no primeiro hotel do grupo de Thon, o Bristol, ele foi gracioso e engajado, feliz em falar sobre todos os assuntos e até em rir de si mesmo por conta de suas roupas extravagantes, afirmando que elas não passam de "uma jogada de marketing".
Thon é filho de uma família de agricultores do vilarejo de Al, na região montanhosa de Hallingdal, ao noroeste de Oslo. O nome do vilarejo vem da palavra norueguesa para "vala" ou "ravina", e o jovem Thon, que trabalhava desde os 7 anos como pastor de ovelhas nas montanhas, cresceu rápido e conquistou um espaço na capital do jovem país, Oslo.
Ele é um empreendedor nato que começou caçando raposas, vendendo suas peles e entrando no negócio das peles finas, exportando as raposas norueguesas e importando pele de karakul. Isso lhe rendeu o apelido de "a raposa" — o homem mais rico da Noruega, John Fredriksen, que vive em exílio fiscal no Chipre, é conhecido como "o grande lobo" — e ensinou lições importantes, afirmou.
Thon, em busca de exemplos nos EUA, começou a construir um império imobiliário, comprando e construindo hotéis e shoppings. O Grupo Olav Thon é dono de cerca de 500 propriedades, incluindo mais de 65 hotéis em quatro países, e 90 shoppings, com um lucro bruto em 2012 de 260 milhões.
Entretanto, seus pontos de vista continuam encarquilhados. Ele acredita que os jovens noruegueses ficaram moles com o dinheiro do petróleo e o Estado de bem-estar social:
— Não dá para alimentar o gato com creme fresco e comida na cozinha e esperar que ele saia por aí caçando ratos.
E ele teme o crescimento descontrolado da população:
— Será que é uma boa ideia ter 20 bilhões de pessoas vivendo no mundo?
Erna Solberg, a primeira-ministra da Noruega, afirmou que Thon a lembrava do famoso conto de fadas norueguês sobre o Askeladden, ou o Menino das Cinzas, "o cara esperto que, contra todas as probabilidades, sempre fica com a princesa, herda metade do reino e tem dois irmãos idiotas".
— Acho que essa imagem de Olav Thon sempre foi uma espécie de conto de fadas norueguês. E ele ainda vive uma vida muito simples. É claro que ele deu alguns benefícios para a sociedade norueguesas e, nos últimos 10 ou 20 anos, ele financiou muitas atividades apreciadas pelos noruegueses, especialmente atividades ao ar livre, caminhadas e passeios de esqui no interior do país.
Thon deu algum dinheiro a seus parentes, mas é famosos por não ter herdeiros. No entanto, provavelmente refletindo sobre suas próprias decisões a esse respeito, ele afirmou:
— Não sei quantas empresas comprei na vida e a maioria delas comprei de filhos cujos pais haviam morrido e eles dizem: 'Agora estamos livres, você não quer comprar a empresa?'
Quanto a ter filhos, Thon afirmou:
— Acredito que a vida é tão interessante para mim que nunca senti falta de filhos. Da hora que acordo até a hora de ir dormir a vida é tão interessante, e eu sou saudável e livre, o que não é fácil quando temos uma família.
ZERO HORA

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