Mais de 70 mulheres sobem na vara de bambu, a cada desfile.
Agremiação comemora 20 anos de fundação, na folia de 2013.
Bloco Mulher na Vara desfila há 20 anos na segunda-feira de Carnaval, em Olinda (Foto: Divulgação)
Era o ano de 1993 e Luciana Pinto seguia o bloco Pé Inchado, em Olinda,
quando torceu o tornozelo. A jovem, conhecida por Pintinho, estava com
todo gás ainda para brincar na folia de Momo. Solidários, colegas
arrumaram uma vara de goiabeira, onde ela sentou-se e foi carregada
pelas ladeiras do Sítio Histórico. Foliões que observavam a cena
gritavam: "olha a mulher na vara!". Foi assim que Pintinho inaugurou uma
tradição que já dura 20 anos. Toda segunda-feira de carnaval, mais de
70 mulheres encaram a tarefa de subir na vara, virando as estrelas da
festa.Foi a mãe do contador Carlos Porciúncula, o que arrumou a vara de goiabeira, no começo da história, que alertou ao filho que aquela brincadeira podia virar um bloco carnavalesco. "É que naquele mesmo dia [de 1993], muitas mulheres já queriam subir na vara e muita gente começou a nos seguir, de forma espontânea mesmo", comenta Carlos, fundador e presidente da agremiação.
Pintinho voltou a subir na vara em 2010; hoje, ela mora
nos Estados Unidos (Foto: Divulgação)
Atualmente, os amantes do bloco reúnem-se a partir das 10h em frente à
casa de n° 221, na Rua da Boa Hora, no bairro do Varadouro, em Olinda.
Há dois anos, uma batucada de samba anima a concentração. O desfile
começa, geralmente, a partir do meio-dia e dura cerca de duas horas,
animada pela orquestra do maestro Lessa. "A gente segue um roteiro
alternativo, porque precisamos de espaço para passar com a vara e não
criar confusão com ninguém", afirma Carlos Porciúncula.nos Estados Unidos (Foto: Divulgação)
São necessários seis homens "sarados" para levar a vara, feita de bambu. Ela mede cinco metros e tem cerca de três polegadas de espessura. Alguns espaços são envoltos com espuma, porque lá ficam os sofridos ombros dos carregadores. A vara precisa ser o mais reta possível, para facilitar o equilíbrio da mulher, que sobe com o auxílio dos foliões. A última vara durou dez carnavais e a substituta já está pronta.
Vara democrática
A única regra do bloco é que só mulher pode subir na vara. "A vara é bem democrática. Sobe desde dona Dá, a madrinha do bloco, com 74 anos, a criança de um ano. Tem mulher que se alvoroça, às vezes, e acaba caindo lá de cima, acontece. Também ocorre da mulher bonita ser aplaudida, outras são vaiadas. Alguns nos confundem com [o bloco] A Porta, onde quem sobe tem que tirar a roupa. O nosso não tem isso, até porque não dá para fazer quase nada em cima de uma vara", brincou Samuel Costa, um dos diretores da agremiação.
Samuel, a vara nova e Carlos (Foto: Divulgação)
A foliã Erika Cavalcanti contou ao G1 que realizou um
sonho antigo ao subir na vara, no ano de 2009. "Sempre tive vontade, mas
era casada e meu marido tinha ciúmes. Mudado o estado civil, estava
esperando que alguns amigos tomadores de conta da minha vida me
esquecessem um pouquinho, para criar coragem. E então, quando pensei que
ninguém estava por perto, com o coração acelerado, quase subindo pela
boca, subi na vara pela primeira vez, e fiz bonito, me equilibrei bem
com a sombrinha de frevo na mão e gingando. Muito bom aquele carnaval",
relembra.Samuel Costa acredita que a folia em Olinda está melhorando a cada ano. Porém, ainda tem algumas críticas. "Acho que poderia melhorar a fiscalização sobre o uso dos sprays. Aquelas pistolas de água também não são legais. E aumentar a quantidade de banheiros públicos. Um ponto positivo foi a proibição de som eletrônico [nas casas], porque ajudou muito o desfile dos blocos", falou.
Prévia
O Mulher na Vara sobrevive com ajuda de patrocínios, além da venda de camisas e festas organizadas para arrecadar dinheiro. A verba serve para confeccionar as camisas, pagar a orquestra, a batucada e a bebida entregue na concentração do bloco. Para se ter uma ideia do gasto, é preciso cerca de R$ 12 mil para o desfile acontecer.
No sábado (12), o bloco une-se à agremiação Tá Maluco, que comemora 30 anos de fundação, em uma prévia carnavalesca. A festa será no Clube Atlântico, no Carmo, em Olinda. Maestro Lessa, a Escola de Samba Preto Velho e o DJ Pepe Jordão são as atrações. O ingresso custa R$ 40 (inteira) e R$20 (meia entrada).
Mais de 70 mulheres sobem na vara durante duas horas de desfile (Foto: Divulgação)
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