BLOG ORLANDO TAMBOSI
A decisão do governo de tentar baixar o valor dos utilitários para recriar o “carro popular” não passa de demagogia de alto custo. Guilherme Macalossi para a Gazeta do Povo:
Ainda
que o arcabouço fiscal tenha passado na Câmara dos Deputados (e isso só
foi possível com o apoio de bancadas que não estão necessariamente
alinhadas com o lulopetismo), sua efetividade ainda está por ser
comprovada. O texto foi aprimorado pelo deputado Claudio Cajado, que,
como relator, introduziu gatilhos de contenção de gastos que inexistiam
no projeto original. Serão suficientes? Serão efetivos? Veremos. A regra
dá algum nível de previsibilidade, mas, para tanto, precisará ser
seguida. E esse é o problema.
Lula
e seus desenvolvimentistas de estimação não param de criar despesas. A
última foi uma nova desoneração sobre o setor automotivo. É uma
contradição aberrante. Em abril, o ministro da Fazenda bateu duro nesse
tipo de política (não sem alguma razão). Fernando Haddad chegou a dizer
que abriria o “caixa preta”, revelando o CNPJ de empresas que receberam
deduções de impostos. Agora terá de se virar para pagar o boleto de mais
uma, queimando parte da margem fiscal do tal arcabouço recém votado.
Em
recente entrevista para a revista Veja, o economista e ex-secretário de
política econômica do Ministério da Fazenda, Marcos Lisboa, apontou
para um dos mais deletérios problemas da administração pública
brasileira: a qualidade do gasto. “A agenda é sempre crescer gastos
significativamente sem avaliar o passado”, disse. É exatamente o que
acontece com a desoneração sobre automóveis.
A
decisão do governo de tentar baixar o valor dos utilitários para
recriar o “carro popular” não passa de demagogia custosa, e que não vai
beneficiar os mais pobres. O que se vai parir é um carro populista, que
custa caro. Metade da população tem renda média inferior a R$ 600. Na
melhor das projeções, o preço dos veículos deverá cair 11%. Um carro que
custa R$ 68 mil, mesmo após a redução, continuará distante do cidadão
médio, que se locomove por meio dos cada vez mais depauperados sistemas
de transporte coletivo.
Segundo
dados da Receita Federal, entre 2001 e 2021 a indústria automotiva
amealhou R$ 69 bilhões em benefícios fiscais concedidos pela União.
Nesse cálculo não se somam os investimentos dos demais entes federados.
Os números provam que o montante não impactou na geração de postos de
trabalho, nem no crescimento do país.
Foi
no governo Dilma Rousseff, aliás, em que as desonerações alcançaram seu
auge. No setor automotivo, ela o zerou o IPI sobre carros, gerando
também um enorme problema de caixa nos municípios, que são abastecidos
com recursos desse imposto por meio do Fundo de Participação. O Produto
Interno Bruto (PIB), entretanto, não reagiu.
Ao
todo ela torrou R$ 458 bilhões em diversos pacotaços de incentivo
buscando desesperadamente aquecer uma economia que já estava condenada
pelo PT à recessão. Os lulopetistas acham que, talvez por alinhamento
cósmico, agora isso possa dar certo.
Há
quem tenha sérias dúvidas de que o cálculo do arcabouço fiscal feche.
Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, disse ao Brazil
Journal que “quando você lê o resto do arcabouço e começa a fazer conta,
e não precisa mais do que aritmética elementar, você descobre o
seguinte: não há como o governo cumprir essa meta, a não ser que ele
tenha um aumento muito grande carga tributária, que eu não sei como ele
vai obter”.
Certamente
não será possível com elevação de carga tributária. O próprio Arthur
Lira deixou isso claro numa entrevista na rádio Band News: “Não há
possibilidade nenhuma de o Congresso aprovar aumento de impostos”. O
problema é que a lógica do atual governo não é de equalizar as despesas
com as receitas, ainda que o arcabouço tenha esse aparente objetivo. Por
isso Lula anunciou a desoneração sobre os combustíveis, mesmo sem o
aval do Ministério da Fazenda, e nem dando os detalhes de como vai
operacionalizar a coisa. “Gasto público é vida”, dizia Dilma,
contrariando a matemática, que é exata, mas não fascista.
Postado há 1 week ago por Orlando Tambosi
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