BLOG ORLANDO TAMBOSI
A julgar pelos juristas que acham os cartazes dignos de pena (de prisão), não tarda que a sanção se torne de fato penal. O episódio da Régua foi um teste, e correu bem ao PS. A crônica semanal de Alberto Gonçalves para o Observador:
Ao
contrário do que se tem dito, racismo não é quando um homem quiser. Se
fosse, os tribunais nem seriam chamados a julgar se uma declaração ou
gesto é racista: bastava a palavra do ofendido e o assunto morria ali,
com a devida distribuição de condenações e multas. Por coerência, aliás,
esse extraordinário princípio aplicava-se a uma data de crimes.
Doravante, o sujeito vigarizado não precisaria provar a vigarice,
bastando jurar pela sua saudinha para meter o vigarista na cadeia –
ainda que o vigarista, coitado, desconheça por completo o vigarizado e
entre na cela a espernear inocência. Faz sentido? Nenhum, mesmo que as
autoproclamadas vítimas sejam pessoas impossível e idealmente
confiáveis. Agora imaginem que a autoproclamada vítima é o dr. Costa. E
riam com gosto.
O
riso é a reacção natural e imediata ao “racismo” que, a 10 de Junho, o
dr. Costa “viu” nos cartazes do Peso da Régua. Mas depois lembramo-nos
do Peso do Esquadro socialista e apetece chorar. Informada das
caricaturas que os professores empunhavam desde Fevereiro, a central de
propaganda do partido, que com a central da corrupção é a única coisa
que ali trabalha em condições, previu as circunstâncias, compôs a cena e
num ápice lançou os serviçais a gritarem na “net” que Sua Excelência, o
primeiro-ministro, acabara de ser alvo de enxovalho racial no antigo
Dia da Raça. Claro que a representação “suína” é recorrente nas sátiras
ao poder e nunca possuiu qualquer conotação étnica. Não importa: o PS
ordenou e os serviçais obedeceram com o zelo do costume, sem pararem
para pensar no ridículo da situação. Esta gente não pára nem pensa.
Os
que param e pensam um bocadito, embora não o suficiente para desagradar
ao chefe, optaram por desvalorizar a questão do “racismo” e seguir pela
via do “mau gosto”. Os cartazes são de “mau gosto”, explicaram diversos
especialistas em estética, incluindo o moço que, no Expresso de há
quatrocentos anos, enfiou um preservativo no nariz do Papa e reduziu
Netanyahu a um cão. Talvez sim, talvez não. Faço três perguntas: quem
decide? Que interessa? Quando é que, em décadas ou séculos, os protestos
civis primaram pelo “bom gosto”? Suspeito que quando a imagem de Pedro
Passos Coelho era enfeitada com o bigode de Hitler, um exercício de
sofisticação renascentista.
Obviamente,
o problema não está nos cartazes. O problema está no respectivo alvo:
não é admissível criticar o dr. Costa. Aliás, é essa a impressão que o
episódio da Régua pretende infiltrar no famoso “inconsciente colectivo”,
a de que há limites, e a de que tais limites se ultrapassam no momento
em que se perde o respeitinho, e a subserviência, perante o Glorioso
Chefe. É certo que, à superfície, o simulacro de indignação também
ajudou a depreciar as manifestações dos professores. E a distrair da
TAP, do SNS, da Justiça, da inflação, dos juros, do fisco, da baderna
geral e da penúria crescente. Porém, o real objectivo da histeria é
anunciar novos tempos, tempos em que insultar caciques constitui
blasfémia. Por enquanto, a sanção é apenas social. A julgar pelos
esforços do dr. Santos Silva em atropelar a liberdade de expressão e
pelos juristas que acham os cartazes dignos de pena (de prisão), não
tarda que a sanção se torne de facto penal. O episódio da Régua foi um
teste, e correu bem ao PS.
Após
conquistar o país “institucional”, o PS cuida de calar o pedaço que
sobra. A tarefa de esquartejar isto entre negociatas e incompetência
exige impunidade, que está garantida, e agradece sossego, que se tenta
garantir. Conforme se atesta por exemplo na Venezuela, governar uma
nação rumo ao desastre não é compatível com as reclamações da ralé. É
preferível que a maioria silenciosa permaneça literalmente silenciosa. E
temerosa. Por recearem humilhação pública, e – ai, Jesus! – acusações
de “radicalismo”, muitos já assimilavam as directivas do PS sobre os
“extremos” em que não votar (suprimindo 12% dos eleitores) e sobre as
“causas” a abraçar (os delírios “de género” e similares). Agora somos
instruídos sobre as boas maneiras de discordar, a etiqueta do queixume. E
parte da própria “direita” acata tudo para parecer bem.
Não
é grande ideia. Não convinha que o avassalador domínio material do PS
se alargasse ao domínio “simbólico”. Não dava jeito que, além de
esvaziar-nos o bolso, o PS nos empobrecesse o espírito com tamanha
facilidade. É por isso que, ao invés de um episódio a esquecer, os
cartazes do dr. Costa devem ser lembrados. E exibidos até à exaustão,
nas “redes sociais”, nas chapeleiras dos carros, nas mesas dos
escritórios, nas t-shirts de Verão, nas varandas dos apartamentos. Na
América, é frequente ver casas humildes ornamentadas com enormes
bandeiras que rezam: “F… Biden!”, e sem as reticências. A humildade não é
sinónimo de resignação ou medo. Riam do “racismo” e ignorem o “mau
gosto”. Péssimo gosto tem o socialismo: sabe a opressão e miséria.
Postado há 1 week ago por Orlando Tambosi
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