Os
hospitais universitários (HUs) não estão distribuindo o leite Nan Soy.
São várias unidades hospitalares em todas as regiões do Brasil e, por
isso, a mensagem se espalha facilmente. Em 2015, ela já circulava em
Sergipe e, na época, o HU do estado divulgou uma nota de esclarecimento para desmentir o boato.
O conteúdo voltou a ser compartilhado e também já foi desmentido em Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Alagoas.
O Hospital Universitário Prof. Alberto Antunes, que fica em Alagoas,
informou, inclusive, que a instituição não oferece programa ou ação que
faça qualquer tipo de doação.
Como ter acesso ao leite
A
informação falsa viraliza facilmente porque a fórmula infantil tem alto
custo e, dessa forma, não é acessível para famílias de baixa renda.
Em 2019, o Ministério da Saúde divulgou a
informação de que ofereceria fórmulas alimentares a crianças alérgicas
em até 180 dias, o que poderia beneficiar mais de 38,5 mil pacientes por
meio das unidades públicas de saúde. No entanto, à Agência Tatu,
a assessoria de comunicação do MS informou que, além do anúncio da
gestão anterior não detalhar o funcionamento da aquisição, não existem
programas específicos para o fornecimento do produto, mas que poderia
garantir o suprimento mediante solicitação dos municípios.
“O
Ministério da Saúde realiza o repasse de verbas para estados e
municípios e as secretarias estaduais e municipais de saúde organizam os
serviços de saúde oferecidos nas localidades, conforme critérios
estabelecidos para inclusão e exclusão que buscam sanar, principalmente,
as demandas de maior ocorrência, respeitando os princípios de
efetividade e economicidade das ações de saúde. Para informações sobre
fluxo de dispensação de fórmulas, deve-se consultar a secretaria
municipal ou estadual de saúde”, informou o Ministério da Saúde.
Tramita na Câmara Federal o Projeto Lei 4204/2021 para
tornar obrigatória a distribuição gratuita e contínua de leite sem
lactose para crianças de até 4 anos com alergia, mas desde fevereiro de
2022 o projeto está em análise pela Comissão de Seguridade Social e
Família. Caso volte a tramitar e seja aprovado na Câmara, o projeto
ainda precisa de aprovação no Senado e da sanção pela Presidência da
República.
Algumas iniciativas de distribuição desse tipo de fórmula são de municípios e estados, a exemplo da Secretaria Municipal de Saúde de Aracaju (SE). Em Juiz de Fora (MG), uma lei municipal foi aprovada em 2022 para garantir o fornecimento. A cidade de São Paulo também tem uma legislação municipal que especifica o fornecimento de fórmulas especiais por meio de recurso próprio. Já o estado do Ceará mantém um programa para ajudar no tratamento dessas crianças com o incentivo do uso do leite materno.
Judicialização
As
fórmulas indicadas a crianças com alergia ao leite de vaca não integram
a lista de medicamentos e composições gerenciada pela Comissão Nacional
de Incorporação de Tecnologias no SUS, como lembrou a Secretaria de
Estado de Saúde de Alagoas (Sesau). Por isso, a pasta justificou a falta
de acesso direto ao produto, sendo preciso uma ação judicial para que
pais de crianças alérgicas consigam acesso ao leite Nan Soy e produtos
alimentares semelhantes.
“Alagoas,
assim como os demais estados brasileiros, fornece medicamentos e formas
lácteas que constam na lista do Sistema Único de Saúde (SUS). Diante
disso, as formas lácteas disponibilizadas são o PKU, destinado a
pacientes com Fenilcetonúria, além do Nestogeno, que é voltado para
crianças de mães vivendo com HIV, que não podem ser amamentadas com
leite materno”, informou a Sesau por meio de nota.
A
judicialização é a única alternativa para muitos pais que tentam
garantir acesso à fórmula láctea. Na plataforma jurídica Jusbrasil, é
possível verificar que existem mais de 5 mil referências ao termo
“alergia à proteína do leite de vaca”, ou seja, são milhares de
casos que acabam precisando ser resolvidos na Justiça.
Em
Maceió, a Secretaria Municipal de Saúde informou que para ter acesso a
esse tipo de suplemento, os pais residentes na capital alagoana devem
acionar a Defensoria Pública, pois “não há um programa que forneça
diretamente”.
Nordeste Sem Fake
A editoria Nordeste Sem Fake,
da Agência Tatu, monitora diariamente diversas redes sociais em busca
de publicações com conteúdos potencialmente falsos. Mais checagens de
fatos estão disponíveis no site.
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