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Num animado trenzinho, gaúchos cisgêneros se engatavam com catarinenses neonazistas e paranaenses não binários, “todes” se alternando na posição de locomotiva e carro restaurante. Agamenon Mendes Pedreira para a revista Crusoé:
Para
mim só existem dois sexos: o meu e o da Isaura, a minha patroa. Mas
gênero tem vários e foi pensando nisso que embiquei essa semana na
direção de São Paulo onde se realizou a famosa Parada do Orgulho
LGBTPQP+. No começo, a parada era só Gay mas outros participantes que
ficaram de fora (com trocadilho, por favor) fizeram questão de entrar no
lance, de dentro para fora, é claro incorporando cada um as suas
letrinhas.
É
o caso dos trans, criaturas atormentadas que não se conformam com suas
anatomias de nascença e querem trocar de sexo. Embora não seja um
representante dessa orientação sexual, sempre troquei de sexo,
principalmente quando a Isaura, a minha patroa, não quer cumprir com as
suas obrigações conjugais. Só me resta então, procurar alguém que aceite
sujeitar-se aos impulsos degenerados de minha libido avantajada.
A
troca de sexo, hoje em dia, é coisa muito comum. O cidadão, cidadã ou
cidadãe pode trocar o seu sexo seminovo por outro zero quilometro.
Ele(a) ou (ãe), pode a dar o sexo usado de entrada (ou de saída) e
financiar o saldo em até 24 meses sem juros no cartão. O presidanto Luis
Inácio Lira da Silva, o Janja (o) ou (e), está pensado em lançar o
“sexo popular” para que o pobre brasileiro tenha grana para trocar de
gênero e, além da picanha (o) ou (e), possa comer uma coisinha diferente
no fim de semana com os amigos.
Se
você está pensando em mudar de sexo recomendo dar uma passada nestes
feirões de fim de semana que rolam nos imensos e desertos
estacionamentos de supermercado. Lá se pode encontrar boas ofertas de
sexo, pouco rodados e ainda em bom estado. Sem compromisso, é claro.
Mas
deixa voltar para a parada gay que sempre foi vista como uma ameaça à
família brasileira. Ledo e Ivo engano, o que vi foi algo bem diferente.
Crianças, jovens, homens e mulheres de todos os formatos e configurações
encheram a Avenida Paulista num rolê careta e conservador. Até mesmo
adversários políticos se uniram por algumas horas, deixando de lado suas
posições sexuais e ideológicas. Vi a ministra do Turismo, com o Centrão
à mostra, em cima de um carro alegórico trocando beijos e abraços com o
Jean Wyllys e o Carlos Bolsonaro, o filho 24, vestido de Índio.
Num
animado trenzinho, gaúchos cisgêneros se engatavam com catarinenses
neonazistas e paranaenses não binários, “todes” se alternando na posição
de locomotiva e carro restaurante. Quando deu meio-dia (com trocadilho e
tudo), entrou em campo a gigantesca delegação baiana liderada pela
Daniela Mercury e pelo Nizan Guanaes que comemorava ao lado da Luiza
Trajano a conquista da conta do lubrificante KY.
Ninguém
era de ninguém e a atmosfera era de puro sexo, tudo transmitido ao vivo
pela Jovem Pansexual e pelo colunista Léo Dias que faturou mais de 1
bilhão de reais para não divulgar a presença de simpatizantes do
movimento que não querem sair do armário. Ora, quem sai do armário é
bicha pobre. Bicha rica sai do closet.
Também
encontrei lá o Dr. Auzio Varella que distribuía camisinhas para quem
quisesse esticar no Minhocão mesmo porque São Paulo não pode parar.
Depois de tanta comemoração, comecei a sentir um enorme peso nas costas,
um bafo quente no cangote e uma estranha sensação na contramão de um
lugar remoto da minha encanecida anatomia. Como minha coluna está em
frangalhos, é “muita coisa nas costas”, dei por encerrada a minha
participação na manifestação e voltei para casa onde a Isaura, a minha
patroa, aguardava saudosa o meu retorno ao lado do encanador, do
entregador do iFood, do rapaz da NET e do influenciador digital que não
saem lá de casa.
No
caminho fiquei matutando: ninguém consegue juntar nem meia dúzia de
gatos pingados na Paulista para exigir mais Educação e mais Saúde,
apanhar menos da Polícia, acabar com a corrupção, defender a Democracia e
outros assuntos menores de 20 cm. O brasileiro é um povo curioso e,
justamente por ser muito curioso, faz questão de comparecer aos milhões
na passeata LGBTPQP#$%ˆ&@#$%+ pra conferir de perto quem “joga água
fora da bacia”. No fundo (e bota isso bem no fundo, se faz o favor)
somos um bando de caretas e conservadores.
Agamenon Mendes Pedreira é jornalista fluido não-binário.
Postado há 1 week ago por Orlando Tambosi
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