Por João Carlos Loebens
As
duas medidas propostas pelo governo para tributar rendimentos de
super-ricos em fundos exclusivos e offshores podem ser consideradas um
começo para a justiça fiscal, para mudar essa regra brasileira ruim e
inconstitucional do “quanto mais rico menos imposto paga”. A
Constituição diz que a tributação sobre a renda deve ser universal e
progressiva.
O
sistema tributário brasileiro, nos dias de hoje, apresenta uma
característica geral que poderia ser assim resumida: quanto mais pobre,
mais imposto paga; quanto mais rico, menos imposto paga. Super-rico
brasileiro, então, não paga praticamente nada.
Neste
mês, o governo federal emitiu duas medidas para tributar alguma coisa
dos rendimentos (“salários”) dos super-ricos brasileiros. Opa! Mexeu
comigo! Será que você é super-rico ou conhece algum?
Não
precisa ficar preocupado, muito provavelmente não é contigo, pois
99,999% dos brasileiros serão beneficiados com as duas medidas. Por
exemplo, se a soma do seu patrimônio for de R$ 10 milhões de reais, você
não será afetado, pois a taxação não é sobre bens. Não se trata de
tributação sobre o patrimônio. A tributação é sobre os rendimentos
(“salário”) de aplicações para quem tem mais de R$ 10 milhões de reais
sobrando para aplicar em fundos financeiros fechados.
A
primeira iniciativa do governo federal é a Medida Provisória 1.184,
para tributar fundos de investimento de aproximadamente 2.500 pessoas
super-ricas (0,001% da população do Brasil), que tem regras
privilegiadas só para eles, e não pagam tributo. São os chamados fundos
fechados, com aplicação financeira inicial ou mínima de 10 milhões de
reais.
E
quanto seria o rendimento/salário para uma aplicação desse tipo?
Suponhamos uma aplicação mínima de 10 milhões a uma taxa de 1% ao mês,
que daria um rendimento/salário de R$ 100.000,00 reais/mês, hoje sem
pagar nada de imposto de renda. Já os demais brasileiros, com
rendimentos/salário a partir de R$ 2.112,00 estão obrigados a pagar IR,
com alíquota de até 27,5% para rendimentos superiores a R$ 4.664,00
reais.
Você
quer ser um bilionário? Uma dica do que seria necessário fazer: você
junta um milhão de reais por ano. Faça isso por mil anos. Juntando R$
1.000.000,00/ano por 1.000 anos, ao final você será um super-rico
bilionário. Simples, não? A explicação ou justificativa dada para essa
concentração de renda bilionária estaria na meritocracia, que pode ser
melhor entendida nos esclarecimentos do livro “A tirania do mérito”, do
escritor estadunidense Michael Sandel.
A
Forbes listou no Brasil, em 2022, 62 bilionários (oligarcas?), sendo o
maior deles Jorge Paulo Lemann, com uma fortuna estimada de R$ 71
bilhões. Lemann é controlador da Ambev, tem participação na Burger King e
a empresa 3G Capital, nova “dona” da Eletrobras. Cabe lembrar que o
Lemann, juntamente com Sicupira e Teles (outros dois bilionários
brasileiros da lista da Forbes, Ambev, Eletrobras …), foram os
protagonistas do recente escândalo, fraude ou rombo da Americanas, algo
em torno de R$ 40 bilhões.
Voltando
às medidas apresentadas pelo governo. A proposta é igualar a tributação
desses fundos exclusivos, ou fechados, cobrando de 15% a 22,5% sobre os
rendimentos, igual aos fundos abertos de investimento que os demais
brasileiros aplicam, como por exemplo no Tesouro Direto (qualquer pessoa
pode aplicar no Tesouro Direto usando seu computador de casa – bem
melhor que a poupança).
A
arrecadação prevista sobre os rendimentos desses fundos fechados dos
super-ricos é de R$ 24 bilhões até 2026, que daria para financiar, por
exemplo, 30% do Minha Casa Minha Vida. É uma iniciativa importante para
reduzir desigualdades nesse nosso país, o mais desigual do mundo!
A
segunda medida é um Projeto de Lei para tributar os rendimentos de
capital aplicado em países denominados “paraísos fiscais”, que eu
prefiro chamar de países “esconderijos fisco-criminais”, como Suíça,
Ilhas Cayman, Luxemburgo e Emirados Árabes. O principal produto
financeiro que esses países vendem é a ocultação de dinheiro/patrimônio,
normalmente de origem ilícita (dinheiro de roubo, tráfico,
corrupção/sonegação/desvios), e principalmente escondem esses recursos
para possibilitar que os donos super-ricos possam fugir da obrigação de
pagar impostos no país de origem, como os demais cidadãos são obrigados a
pagar.
No
chamado “PL das Offshores e Trusts”, a proposta é taxar os rendimentos
do capital de brasileiros aplicado no exterior com alíquotas
progressivas de zero a 22,5%. A média mundial é 30 a 40%. Só o Brasil
não cobra!
Essas
duas medidas podem ser consideradas um começo para a justiça fiscal,
para mudar essa regra brasileira ruim e inconstitucional do “quanto mais
rico menos imposto paga”. A Constituição diz que a tributação sobre a
renda deve ser universal e progressiva.
No
Congresso Nacional, os super-ricos têm muitos representantes! E é
justamente o Congresso, através dos Deputados e Senadores, que precisa
aprovar essas medidas. E então, os super-ricos pagarão algo de imposto
de renda sobre os seus rendimentos/salários dessas aplicações
específicas? Vai depender do Congresso, vai depender do seu Deputado e
do seu Senador.
- Professor, auditor fiscal e integrante do Instituto Justiça Fiscal (IJF)
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