O dr. Rio possui uma espécie de “estratégia”: havendo a paciência necessária, um dia os destinos da nação caem-lhe no regaço, através do cargo de primeiro-ministro. Ou de vice, que já o satisfaz. A verve de Alberto Gonçalves via Observador:
Um
sonho por realizar será uma mentira / Ou será coisa pior / Que me
empurra para o rio / Embora eu saiba que o rio está seco (Bruce
Springsteen, “O Rio”)
Vai
para duas décadas, durante os dois minutos em que reparei no assunto, o
dr. Rio pareceu-me um autarca razoável na medida em que irritou as
pessoas certas. Desde que é chefe do PSD, o dr. Rio irritou as pessoas
erradas. No caso, a pessoa errada: eu próprio. Enquanto líder da
oposição, se é que podemos dizer assim, o dr. Rio irritou-me imenso. O
dr. Rio assume um “estilo” (palavra dele). E esse é que é o problema.
O
seu “estilo” de fazer oposição consistiu em não fazer oposição nenhuma.
Nestes seis anos em que, coadjuvado por uma parelha de agremiações
leninistas, o PS levou a cabo um projecto sem precedentes de conquista
do Estado, submissão da sociedade e atraso do país, o dr. Rio manteve-se
genericamente calado. Às vezes, dava uns pios, raramente para criticar
os socialistas, frequentemente para facilitar os respectivos avanços e
prepotências – por exemplo na supressão dos debates quinzenais e das
liberdades a pretexto da Covid. Em regra, porém, o dr. Rio só abria a
boca para criticar dissidentes internos do seu “estilo”, ou os
jornalistas que não “passavam” devidamente o “estilo” ao eleitorado. Com
regularidade, o dr. Rio também falava para informar os incréus da
localização geográfica do PSD, que ora está ao centro-esquerda, ora ao
centro, ora em qualquer lugar que não afugente o dr. Costa e não
comprometa o sonho do dr. Rio: ser convocado pelo dr. Costa para escoar
as migalhas do poder.
Mas
tudo isso é passado. Agora, o dr. Rio promete oposição a sério. Agora,
em pleno processo de “directas” no PSD, o dr. Rio garante que nem sequer
fará campanha contra Paulo Rangel para se concentrar nos ataques ao
governo. Agora não contem com piedade ou cedências. Agora é que elas
mordem. Agora, meus amigos, é que vai ser. E o que tem sido? O costume: o
dr. Rio ocupa o tempo a insultar a cáfila de malfeitores empenhada em
enxotá-lo do cargo. Nos intervalos, admite toda a sorte de acordos,
alianças, pactos, tratos e contratos, incluindo, principalmente, com o
PS. O dr. Rio não tem cura. E o pior é que ele não se acha doente. Num
certo sentido, o dr. Rio não está doente. Este é o seu estado normal.
Com
o respeito possível, o dr. Rio não parece um sujeito brilhante. Como
muitos sujeitos limitados, acha-se portador da Verdade, com maiúscula.
Sem maiúscula, o dr. Rio possui uma espécie de “estratégia”. O homem
convenceu-se que, havendo a paciência necessária, a dele e a dos
militantes do PSD, um dia os destinos da nação caem-lhe no regaço,
através do cargo de primeiro-ministro, ou do cargo de vice, que já o
satisfaz. Não é uma ideia demasiado absurda, ou pelo menos não é mais
absurda que a nossa paisagem “institucional” (tosse). Se figuras do
calibre do prof. Marcelo e do dr. Costa chegaram onde chegaram, são
legítimas as ambições, aliás modestas, do dr. Rio. Em teoria, a
“estratégia” não é má. Na prática, a “estratégia” é péssima, e as
consequências devastadoras.
É
que, perdido em guerras no partido e na vastidão do próprio umbigo, o
dr. Rio esquece-se da existência de um país. E que o país, que nem
sempre deve ser confundido com os portugueses, não suporta (na acepção
de “resistir”) a continuação do caldo de desonestidade, arbitrariedade e
fanatismo colectivista que há anos o dr. Rio vem suportando (na acepção
de “permitir”, “ajudar” ou “aplaudir de pé”). Para cada português que
não seja o dr. Rio e os aficionados assumidos ou disfarçados do dr. Rio,
a sobrevivência ou o falecimento políticos do dr. Rio são de uma
monumental irrelevância. Num mundo ideal, a função do dr. Rio seria
oferecer uma alternativa à selvajaria do PS, de modo a contrariar o PS
e, se a coisa corresse benzinho, a derrotar o PS. No mundo real, o dr.
Rio não o fez, não o faz e, a julgar pelas recorrentes ameaças de “bloco
central”, não o fará. Porque não quer, porque não sabe e se calhar
porque não pode: descontadas a contabilidade de um e a manha do outro,
pouca ideologia distingue o dr. Rio do dr. Costa.
No
fundo, e à superfície, é simples: o PS, aquele que se alia a comunistas
ou aquele que não se distingue de comunistas, está a caminho de nos
reduzir a uma filial ibérica do “bolivarismo”. Até ver, sozinho ou
acompanhado, o PSD é a única força partidária capaz de o impedir. Está
provado que o PSD do dr. Rio não salvará a pátria. Entretido a tentar
salvar o dr. Rio, o PSD do dr. Rio nem salvará o PSD. Antes que o dr.
Rio enterre literalmente o PSD, convirá que o PSD enterre
figurativamente o dr. Rio.
Um
parágrafo pequenino para o dr. Rangel. O dr. Rangel, candidato
decorrente de múltiplos compromissos, tem uma enorme virtude: não é o
dr. Rio. Falta perceber quem é. Restam umas semanas.
Ideias de heróis politicamente corretos para levar diversidade à Marvel (ou DC)
Elaborei uma lista com 7 super-heróis politicamente corretos para a Marvel. Mas a DC também pode usar, se quiser. A crônica de Paulo Polzonoff para a Gazeta do Povo:
Não
sei se vocês curtem essa coisa de super-herói e se viram que o novo
filme da Marvel, “Eternals”, tem uma heroína surda. Dizem os releases,
para a alegria dos progressistas, que a ideia é promover a inclusão,
aumentar a representatividade, combater o preconceito. Aquela coisa de
sempre que, a gente sabe, começa bem, mas só até alguém propor uma lei
que preveja pena de morte para os surdofóbicos e repara$ão para os
surdos.
Pensando
nisso, elaborei uma lista com 7 super-heróis politicamente corretos
para a Marvel. Mas a DC também pode usar, se quiser. São heróis que
seguramente abrangerão um amplo espectro dos consumidores desse tipo de
coisa e que pegam muito, mas muito bem mesmo para aqueles que querem
sinalizar virtude nas redes sociais. Não por acaso, o primeiro deles é o
Supercancelador. Mas me adianto. Vamos ao primeiro intertítulo:
Supercancelador
Também
chamado de Homoim (Homem Moralmente Imaculado), o Supercancelador é um
herói anão que usa os poderes do anonimato e da covardia para cancelar
todos os que dizem coisas que o desagradam. Seu arqui-inimigo é a dupla
Fato & Bom Senso. E não se pode nem aventar a hipótese de, na
verdade, o Supercancelador ser um vilão, e não um herói. Porque quem
disser isso estará sendo racista e homofóbico, e corre o risco de ser
supercancelado por esse superanão moral.
Superobesas
Originalmente
no singular, a Superobesas é tão tão tão gorda que seu campo
gravitacional acabou atraindo um plural só para si. A Superobesas não
voa, obviamente – e nem precisa. Usando as escaras superafiadas que
surgem por entre suas múltiplas camadas de tecido adiposo, a Superobesas
luta contra o sexismo e a saúde, personificados em dois vilões: a
linda, estonteante e magra Miss Miss e o malévolo, mas ultrassaudável,
Dr. IMC.
Superelu
Superelu
tem uma habilidade muito importante e muito atual: elu flui de gênero
ao menor sinal de perigo. Ou de necessidade. Se, digamos, está numa rua
deserta e escura, elu se transforma num destemido ele. Agora, se nessa
mesma rua deserta e escura por algum motivo houver uma loja da Louis
Vitton, elu vira ela sem nem pestanejar. Dotado de um conhecimento
infinito, elu também usa seu superpoder para se adaptar às mais diversas
atividades. Elu se transforma em ele quando precisam de um jogador de
futebol e se transforma em ela quando precisam de uma modelo, por
exemplo. A arqui-inimigo do Superelu é a Dona Biologia, uma senhorinha
que, depois de cada ato de malvadeza (como seus tuítes transfóbicos),
solta o bordão “Aonde é que isso vai parar?”. Vale dizer que o Superelu
forma um bem-sucedido par com o Supercancelador.
Superpacheco
Quem
vê assim o Superpacheco na rua, todo engravatadinho e carregando
consigo uma pasta executiva cheia de supercarimbos, não dá nada por ele.
Mas basta que o Superpacheco veja um problema que ele se põe a agir, a
escrever leis carregadas de supermesóclises que, daqui a 20 ou 30 anos,
com sorte resolverão todas as formas de injustiça. Agora mesmo, enquanto
escrevo essas linhas, Superpacheco age no Congresso para que seja
aprovada uma PEC que inclui “segurança climática” como garantia
Constitucional.
Supernoia
Esse
é o mais controverso dos heróis da Liga da Lacração. Pouco se sabe
sobre as origens do Supernoia. Mas, se disserem que ele surgiu na
Cracolândia, eu acredito. Seu uniforme consiste de uma cueca por sobre
uns trapos e uma camiseta da campanha de Maluf em 1989. Apesar do nome e
de votar no PSOL, o Supernoia é bonzinho e combate o tráfico de drogas,
por assim dizer, fumando todo o crack que encontra pela frente.
Superpacífico
Não
deixe o cabelo rastafari, as roupas de hippie e a fala sonolenta o
enganarem. Ao menor descuido do vilão General Taurus o Superpacífico
tira um berimbau do seu cinto de utilidades (que inclui também muita
massa epóxi e garrafas pet) e se põe a fazer discursos contra as armas e
em favor dos direitos das mulheres no Afeganistão. Quando não está
promovendo roda de capoeira para assassinos (digo, vítimas da
sociedade), o Superpacífico usa seus dons de promotor de hashtag para
promover abraços à Lagoa Rodrigo de Freitas.
Superpaulinho
O
que é aquilo? É um pássaro?! É um avião?! Não! É o Superpaulinho,
professor sindicalizado que usa seus superpoderes de mobilização da
catiguria para promover greves eternas e para impedir a volta das aulas
enquanto houver um mísero coronaviruzinho no ar. Quando não está voando à
toa por aí, Superpaulinho passa seu tempo disseminando a doutrina
paulofreireana pelos bancos escolares do mundo todo, com seu
inesquecível bordão “Não tem problema escrever iscola”.
* Ilustrações de Eli Vieira.
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