MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Notícias de Portugal: "O Rio está seco".

 



O dr. Rio possui uma espécie de “estratégia”: havendo a paciência necessária, um dia os destinos da nação caem-lhe no regaço, através do cargo de primeiro-ministro. Ou de vice, que já o satisfaz. A verve de Alberto Gonçalves via Observador:


Um sonho por realizar será uma mentira / Ou será coisa pior / Que me empurra para o rio / Embora eu saiba que o rio está seco (Bruce Springsteen, “O Rio”)

Vai para duas décadas, durante os dois minutos em que reparei no assunto, o dr. Rio pareceu-me um autarca razoável na medida em que irritou as pessoas certas. Desde que é chefe do PSD, o dr. Rio irritou as pessoas erradas. No caso, a pessoa errada: eu próprio. Enquanto líder da oposição, se é que podemos dizer assim, o dr. Rio irritou-me imenso. O dr. Rio assume um “estilo” (palavra dele). E esse é que é o problema.

O seu “estilo” de fazer oposição consistiu em não fazer oposição nenhuma. Nestes seis anos em que, coadjuvado por uma parelha de agremiações leninistas, o PS levou a cabo um projecto sem precedentes de conquista do Estado, submissão da sociedade e atraso do país, o dr. Rio manteve-se genericamente calado. Às vezes, dava uns pios, raramente para criticar os socialistas, frequentemente para facilitar os respectivos avanços e prepotências – por exemplo na supressão dos debates quinzenais e das liberdades a pretexto da Covid. Em regra, porém, o dr. Rio só abria a boca para criticar dissidentes internos do seu “estilo”, ou os jornalistas que não “passavam” devidamente o “estilo” ao eleitorado. Com regularidade, o dr. Rio também falava para informar os incréus da localização geográfica do PSD, que ora está ao centro-esquerda, ora ao centro, ora em qualquer lugar que não afugente o dr. Costa e não comprometa o sonho do dr. Rio: ser convocado pelo dr. Costa para escoar as migalhas do poder.

Mas tudo isso é passado. Agora, o dr. Rio promete oposição a sério. Agora, em pleno processo de “directas” no PSD, o dr. Rio garante que nem sequer fará campanha contra Paulo Rangel para se concentrar nos ataques ao governo. Agora não contem com piedade ou cedências. Agora é que elas mordem. Agora, meus amigos, é que vai ser. E o que tem sido? O costume: o dr. Rio ocupa o tempo a insultar a cáfila de malfeitores empenhada em enxotá-lo do cargo. Nos intervalos, admite toda a sorte de acordos, alianças, pactos, tratos e contratos, incluindo, principalmente, com o PS. O dr. Rio não tem cura. E o pior é que ele não se acha doente. Num certo sentido, o dr. Rio não está doente. Este é o seu estado normal.

Com o respeito possível, o dr. Rio não parece um sujeito brilhante. Como muitos sujeitos limitados, acha-se portador da Verdade, com maiúscula. Sem maiúscula, o dr. Rio possui uma espécie de “estratégia”. O homem convenceu-se que, havendo a paciência necessária, a dele e a dos militantes do PSD, um dia os destinos da nação caem-lhe no regaço, através do cargo de primeiro-ministro, ou do cargo de vice, que já o satisfaz. Não é uma ideia demasiado absurda, ou pelo menos não é mais absurda que a nossa paisagem “institucional” (tosse). Se figuras do calibre do prof. Marcelo e do dr. Costa chegaram onde chegaram, são legítimas as ambições, aliás modestas, do dr. Rio. Em teoria, a “estratégia” não é má. Na prática, a “estratégia” é péssima, e as consequências devastadoras.

É que, perdido em guerras no partido e na vastidão do próprio umbigo, o dr. Rio esquece-se da existência de um país. E que o país, que nem sempre deve ser confundido com os portugueses, não suporta (na acepção de “resistir”) a continuação do caldo de desonestidade, arbitrariedade e fanatismo colectivista que há anos o dr. Rio vem suportando (na acepção de “permitir”, “ajudar” ou “aplaudir de pé”). Para cada português que não seja o dr. Rio e os aficionados assumidos ou disfarçados do dr. Rio, a sobrevivência ou o falecimento políticos do dr. Rio são de uma monumental irrelevância. Num mundo ideal, a função do dr. Rio seria oferecer uma alternativa à selvajaria do PS, de modo a contrariar o PS e, se a coisa corresse benzinho, a derrotar o PS. No mundo real, o dr. Rio não o fez, não o faz e, a julgar pelas recorrentes ameaças de “bloco central”, não o fará. Porque não quer, porque não sabe e se calhar porque não pode: descontadas a contabilidade de um e a manha do outro, pouca ideologia distingue o dr. Rio do dr. Costa.

No fundo, e à superfície, é simples: o PS, aquele que se alia a comunistas ou aquele que não se distingue de comunistas, está a caminho de nos reduzir a uma filial ibérica do “bolivarismo”. Até ver, sozinho ou acompanhado, o PSD é a única força partidária capaz de o impedir. Está provado que o PSD do dr. Rio não salvará a pátria. Entretido a tentar salvar o dr. Rio, o PSD do dr. Rio nem salvará o PSD. Antes que o dr. Rio enterre literalmente o PSD, convirá que o PSD enterre figurativamente o dr. Rio.

Um parágrafo pequenino para o dr. Rangel. O dr. Rangel, candidato decorrente de múltiplos compromissos, tem uma enorme virtude: não é o dr. Rio. Falta perceber quem é. Restam umas semanas.
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Ideias de heróis politicamente corretos para levar diversidade à Marvel (ou DC)


Elaborei uma lista com 7 super-heróis politicamente corretos para a Marvel. Mas a DC também pode usar, se quiser. A crônica de Paulo Polzonoff para a Gazeta do Povo:


Não sei se vocês curtem essa coisa de super-herói e se viram que o novo filme da Marvel, “Eternals”, tem uma heroína surda. Dizem os releases, para a alegria dos progressistas, que a ideia é promover a inclusão, aumentar a representatividade, combater o preconceito. Aquela coisa de sempre que, a gente sabe, começa bem, mas só até alguém propor uma lei que preveja pena de morte para os surdofóbicos e repara$ão para os surdos.

Pensando nisso, elaborei uma lista com 7 super-heróis politicamente corretos para a Marvel. Mas a DC também pode usar, se quiser. São heróis que seguramente abrangerão um amplo espectro dos consumidores desse tipo de coisa e que pegam muito, mas muito bem mesmo para aqueles que querem sinalizar virtude nas redes sociais. Não por acaso, o primeiro deles é o Supercancelador. Mas me adianto. Vamos ao primeiro intertítulo:

Supercancelador


Também chamado de Homoim (Homem Moralmente Imaculado), o Supercancelador é um herói anão que usa os poderes do anonimato e da covardia para cancelar todos os que dizem coisas que o desagradam. Seu arqui-inimigo é a dupla Fato & Bom Senso. E não se pode nem aventar a hipótese de, na verdade, o Supercancelador ser um vilão, e não um herói. Porque quem disser isso estará sendo racista e homofóbico, e corre o risco de ser supercancelado por esse superanão moral.

Superobesas




Originalmente no singular, a Superobesas é tão tão tão gorda que seu campo gravitacional acabou atraindo um plural só para si. A Superobesas não voa, obviamente – e nem precisa. Usando as escaras superafiadas que surgem por entre suas múltiplas camadas de tecido adiposo, a Superobesas luta contra o sexismo e a saúde, personificados em dois vilões: a linda, estonteante e magra Miss Miss e o malévolo, mas ultrassaudável, Dr. IMC.

Superelu

Superelu tem uma habilidade muito importante e muito atual: elu flui de gênero ao menor sinal de perigo. Ou de necessidade. Se, digamos, está numa rua deserta e escura, elu se transforma num destemido ele. Agora, se nessa mesma rua deserta e escura por algum motivo houver uma loja da Louis Vitton, elu vira ela sem nem pestanejar. Dotado de um conhecimento infinito, elu também usa seu superpoder para se adaptar às mais diversas atividades. Elu se transforma em ele quando precisam de um jogador de futebol e se transforma em ela quando precisam de uma modelo, por exemplo. A arqui-inimigo do Superelu é a Dona Biologia, uma senhorinha que, depois de cada ato de malvadeza (como seus tuítes transfóbicos), solta o bordão “Aonde é que isso vai parar?”. Vale dizer que o Superelu forma um bem-sucedido par com o Supercancelador.

Superpacheco

Quem vê assim o Superpacheco na rua, todo engravatadinho e carregando consigo uma pasta executiva cheia de supercarimbos, não dá nada por ele. Mas basta que o Superpacheco veja um problema que ele se põe a agir, a escrever leis carregadas de supermesóclises que, daqui a 20 ou 30 anos, com sorte resolverão todas as formas de injustiça. Agora mesmo, enquanto escrevo essas linhas, Superpacheco age no Congresso para que seja aprovada uma PEC que inclui “segurança climática” como garantia Constitucional.

Supernoia




Esse é o mais controverso dos heróis da Liga da Lacração. Pouco se sabe sobre as origens do Supernoia. Mas, se disserem que ele surgiu na Cracolândia, eu acredito. Seu uniforme consiste de uma cueca por sobre uns trapos e uma camiseta da campanha de Maluf em 1989. Apesar do nome e de votar no PSOL, o Supernoia é bonzinho e combate o tráfico de drogas, por assim dizer, fumando todo o crack que encontra pela frente.

Superpacífico

Não deixe o cabelo rastafari, as roupas de hippie e a fala sonolenta o enganarem. Ao menor descuido do vilão General Taurus o Superpacífico tira um berimbau do seu cinto de utilidades (que inclui também muita massa epóxi e garrafas pet) e se põe a fazer discursos contra as armas e em favor dos direitos das mulheres no Afeganistão. Quando não está promovendo roda de capoeira para assassinos (digo, vítimas da sociedade), o Superpacífico usa seus dons de promotor de hashtag para promover abraços à Lagoa Rodrigo de Freitas.

Superpaulinho

O que é aquilo? É um pássaro?! É um avião?! Não! É o Superpaulinho, professor sindicalizado que usa seus superpoderes de mobilização da catiguria para promover greves eternas e para impedir a volta das aulas enquanto houver um mísero coronaviruzinho no ar. Quando não está voando à toa por aí, Superpaulinho passa seu tempo disseminando a doutrina paulofreireana pelos bancos escolares do mundo todo, com seu inesquecível bordão “Não tem problema escrever iscola”.

* Ilustrações de Eli Vieira.

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