Esses microrganismos destroem e modificam os alimentos que ingerimos, facilitam a absorção dos alimentos e produzem moléculas benéficas. Elas são parte de nosso corpo e tem uma função importante em nossa vida. Artigo do biólogo Fernando Reinach para o Estadão:
Por que algumas pessoas vivem mais de 100 anos? A longevidade
se deve a uma combinação de fatores. Eles vão da constituição genética à
sorte, passando pela alimentação, hábitos de vida, estresse e até poluição. Agora foi descoberta mais uma possível explicação para a longevidade: os tipos de microrganismos que habitam o intestino.
Possuímos
centenas de tipos de microrganismos no sistema digestivo. É o que
chamamos de microbioma intestinal. Nas últimas décadas, com métodos
rápidos de sequenciamento genético e caracterização de moléculas, essa
mistura de seres vivos tem sido estudada em detalhe. Descobrimos que os
bichinhos que lá habitam mudam ao longo da nossa vida, dependem de nossa
alimentação e podem ser alterados pelos remédios que ingerimos. Esses
microrganismos destroem e modificam os alimentos que ingerimos,
facilitam a absorção dos alimentos e produzem moléculas benéficas. Elas
são parte de nosso corpo e tem uma função importante em nossa vida.
Cientistas
estão comparando o microbioma de japoneses de diferentes idades. Um
grupo inclui 160 pessoas com mais de 100 anos: os centenários. Outro
grupo inclui 112 idosos (entre 85 e 89 anos) e um terceiro grupo 47
jovens (entre 21 e 55 anos). O objetivo do trabalho é descobrir se
existe algo de diferente no microbioma de pessoas centenárias que
explique a longevidade. Ao fazer a lista dos microrganismos presentes
nas pessoas dos três grupos, os cientistas descobriram que os
centenários possuem uma quantidade muito maior de um conjunto específico
de bactérias. O genoma de cada uma dessas bactérias foi sequenciado
para entender seu papel no intestino dos centenários. Sessenta e oito
tipos de bactérias foram estudados em detalhe.
Foi
descoberto que essas bactérias possuem um conjunto de genes capazes de
modificar os ácidos biliares presentes no intestino. Ácidos biliares são
moléculas produzidas pelo nosso fígado, estocados na vesícula biliar, e
injetados no intestino durante o processo digestivo. Eles têm um papel
importante e bem conhecido em nossa digestão. O que os cientistas
descobriram é que as bactérias presentes nos centenários produzem
enzimas capazes de transformar parte desses ácidos biliares em outras
moléculas. Uma delas é o ácido isoalolithocolico. (ILCA). Nosso genoma
não possui os genes para produzir o ILCA e ele é produzido nos
centenários por um conjunto de enzimas presentes nos microrganismos que
vivem no intestino dessas pessoas. O interessante é que os cientistas
descobriram que o ILCA é um potente antibiótico capaz de matar bactérias
prejudiciais à saúde como a Clostridioides difficile e a Enterococcus
faecium.
Esses
resultados demonstram que no microbioma de pessoas centenárias (e não
em pessoas mais jovens) existem bactérias capazes de transformar
componentes da nossa bile em poderosos antibióticos. Falta saber se a
presença desses antibióticos é parte da explicação para sua longevidade.
Se isso for comprovado, talvez um dia seja possível colonizar o
intestino das pessoas com esses microrganismos e, talvez, alongar nossa
vida.
Mais informações: Novel bile acid biosynthetic pathways are enriched in the microbiome of centenarians. Nature
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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