Se
a eleição fosse hoje, mostra a pesquisa XP (cujo interesse no tema é
oferecer aos clientes informações que orientem seus investimentos), Lula
bateria Bolsonaro no primeiro turno e no segundo. No segundo turno,
todos os candidatos, menos um, bateriam Bolsonaro. Doria empataria com
ele.
Bolsonaro
tem 60% de rejeição. Seu teto, portanto, é 40%. Difícil ganhar um
segundo turno com mais da metade do eleitorado contra. E tem mais: as
Forças Armadas, que em janeiro de 2019 tinham 60% de índice de
confiança, caíram para 48%. O que mudou no panorama foi a presença de
Bolsonaro.
Enfim,
há uma série de fatores que indicam que o presidente está fora do páreo
(nas notas abaixo, estão alguns deles). Mas há um fator que tem de ser
levado em conta: a eleição não é hoje. E um presidente, com a caneta na
mão, é sempre um candidato temível. Lembremos que, acima de tudo e de
todos, a reeleição é o objetivo de Bolsonaro. Pode-se dizer que não, que
pensa em se perpetuar no poder sem voto. No fundo, é a mesma coisa:
sabe que seu estilo de governar por atrito não será perdoado ao deixar o
cargo. Ele sabe e seus filhos sabem. Fora do poder, sabem também que
seus aliados, mesmo que pareçam pazuellos, ficarão ao lado de quem
controlar o Diário Oficial.
Em
2022, por lenta que seja, a vacinação atingirá a maior parte do país.
Um auxílio-emergência de bom calibre muda votos, sim. Com maior número
de beneficiados e um reforço no Bolsa Família, até Paulo Guedes ganha
voto.
Lá fora...
Lembre-se
de Trump: teve mais votos na tentativa de reeleição do que na eleição.
Teve mais votos do que qualquer candidato anterior à Presidência. Foi
preciso trabalhar duro para ganhar. E ele ainda tenta provar que venceu.
...aqui dentro
No
auge das revelações do Mensalão, Lula em baixa, estava tudo pronto para
o impeachment. Mas a decisão das oposições foi deixá-lo sangrando no
poder para batê-lo pelo voto. Ele tinha a caneta. Recuperou-se e venceu.
No passado
Em
agosto de 1954, a multidão que ocupava o Rio exigia a deposição do
presidente Getúlio Vargas. Os heróis do país eram de oposição: Carlos
Lacerda, o brigadeiro João Adil de Oliveira (que chefiou o Inquérito
Policial-Militar, IPM, que mostrou aquilo que o próprio Getúlio chamou
de “mar de lama”), o brigadeiro Eduardo Gomes, maior nome da
Aeronáutica, o major Rubens Vaz, morto num atentado de getulistas contra
Carlos Lacerda.
Na
madrugada de 24 de agosto, Getúlio se matou. De manhã, a multidão tinha
virado getulista, queria escalpelar os oposicionistas, atacou as
oficinas de O Globo e da Tribuna da Imprensa. E motivou a frase clássica
do brigadeiro Eduardo Gomes, quando o motorista perguntou se queria
sair rápido dali: “Não tão rápido que pareça fuga, nem tão devagar que
pareça provocação”. O humor do eleitorado é menos constante do que os
políticos desejam.
Um, dois...
A
inflação subiu para 8,3% em 12 meses, puxada em grande parte pela conta
de luz; há risco iminente de apagão da eletricidade. As exportações da
agropecuária crescem, o que leva os preços de óleo, carne, frango e
porco a subir de tal maneira que o consumo de carnes caiu um terço. O
desmatamento na Amazônia é recorde pelo terceiro ano seguido. As
relações com os EUA vão mal – tanto que o Brasil está fora das doações
de imunizantes. Com a China, vão pior, atrasando a entrega de
componentes essenciais de vacinas.
...três, quatro
O
número de mortos por Covid está próximo de 500 mil. Bolsonaro disse que
o Tribunal de Contas da União o informou de que o número é menor, o TCU
o desmentiu. Houve uma leve melhora da economia, puxada por São Paulo,
mas 14,5 milhões de desempregados continuam desempregados. Há assessores
do Planalto investigados por fazer guerra digital, com dinheiro do
Tesouro, contra adversários políticos. Um ministro é investigado pela
Polícia Federal por corrupção. Provou-se que ofertas de vacina foram
ignoradas.
Puxando pela memória
Com
essas histórias bobinhas, Bolsonaro espera se livrar de algo bem mais
difícil: explicar seu telefonema ao primeiro-ministro da Índia, apelando
para que fornecesse mais matéria-prima a dois laboratórios de
companheiros, grandes produtores de cloroquina. Eles fabricam, ele faz a
propaganda.
Mas
ele é o presidente, pode trabalhar para criar fatos e mudar debates. E
tem um ano para isso. As eleições, não esqueçamos, serão em 2022.
Como é mesmo?
O
Supremo decidiu que se pode realizar a Copa América no Brasil. E que é
que tem o Supremo com isso? Que questão constitucional está envolvida?
Sou contra a Copa América no Brasil, não é hora de atrair turistas. Mas
não entendo nem que tenham pedido ao STF que proibisse a Copa América
nem que o STF tenha aceitado julgar esse pedido.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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