Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais de domingo, 27 de junho:
*
O Ministério da Saúde comunicou ao Congresso, em documento oficial, a
compra de 20 milhões de doses de Covaxin. O ministro da Saúde garantiu
que o Ministério não comprou Covaxin. Um dos dois está mentindo. Pior: o
ministro Queiroga, bolsonarescamente, foi grosseiro ao responder. Disse
que estava falando em português. Mais ou menos: as vacinas de fato não
vieram nem foram pagas. Mas isso porque um funcionário, duramente
pressionado, tem um irmão deputado. E deputado bolsonarista, daqueles
que acreditavam que o presidente não admitiria a compra de doses
superfaturadas em 1.000%.
*
Ao lado das mentiras, o besteirol. O ministro Onyx Lorenzoni, fazendo
cara de bravo, disse que o presidente determinou que a Polícia Federal
faça investigações sobre os denunciantes – não sobre o caso, mas apenas
sobre os denunciantes. Como já se investiga o assunto, trata-se, creio,
de coação no curso do processo. E que história é essa de “o presidente
determinou”? A Polícia Federal deixou de ser um órgão de Estado e passou
a ser a polícia do Governo? Peguem o Google: Moro acusou Bolsonaro de
ter esse objetivo, e Bolsonaro desmentiu. Agora, Onyx confirmou o que
Bolsonaro desmentiu.
*
Quem centralizou a compra de vacinas antes que fossem contratadas pelo
Ministério da Saúde foi um coronel, Elcio Franco, segundo homem do
ministro Pazuello. O Ministério da Saúde é bonzinho: não se abalou com
os mil por cento de superfaturamento.
Se não é a denúncia, emplaca a compra.
Informação (ou não)
De
acordo com o documento enviado ao Congresso, a pedido do deputado
Gustavo Fruet, esta é a quantidade e a marca das doses já contratadas:
Astrazeneca / encomenda tecnológica - 100,4 milhõesAstrazeneca / importação TED Fiocruz - 12 milhõesCovax Facility - 42.511.800CoronaVac - 100 milhõesSputnik V / União Química - 10 milhõesCovaxin / Bharat Biotech - 20 milhõesPfizer - 100.001.070Janssen - 38 milhões
A vacina mais cara é a produzida pela Índia. Custa 50% mais que Pfizer ou CoronaVac. E ainda não está homologada pela Anvisa.
É cedo
Note:
o presidente Bolsonaro está especialmente mais agressivo. Insulta as
repórteres – o que é simples: está sempre rodeado por segurança armada, o
que certamente o deixa mais corajoso. Na sexta e no sábado, fez com que
crianças arrancassem as máscaras, sem qualquer motivo. De um bebê, que a
mãe desavisada pôs em seu colo, puxou a máscara, deixando-a à mercê de
seus perdigotos - e do hálito, mas aí provavelmente não há problema:
esse bafo liquida qualquer coronavírus, qualquer bactéria, qualquer
protozoário.
Os motivos da raiva
Assistir
ao desmonte de uma operação como a indiana é triste. Pior é ver que,
como no caso de Roberto Jefferson, foi um aliado que botou tudo no chão.
Ah, a maldita mania de não cumprir as promessas, achando que tudo acaba
passando! E passa: o pessoal do Mensalão foi passado a ferro. O caro
leitor nunca tinha ouvido falar nesse parlamentar? Pois é: o Waldomiro,
no caso Mensalão, era desconhecido e de baixo escalão. Roberto Jefferson
o chamava de “petequeiro”. Violaram, com Luiz Miranda, a regra básica
dos políticos: “na minha ninguém põe”.
Na do maninho também não.
E agora, Jair?
A
coisa é tão complicada que o Gabinete do Ódio passou imediatamente a
investir contra Luiz Miranda. Imaginemos que tudo o que disseram dele
seja verdade. E daí? Se é pilantra, que seja denunciado e julgado. Mas,
sendo ou não pilantra, o que se discute é se os documentos que apresenta
são ou não verdadeiros. Velhos tempos: há muitos anos, levantando um
escândalo de corrupção para o Jornal da Tarde, levei a matéria pronta ao
diretor do JT, Ruy Mesquita. Ele leu e comentou: “Puxa, você
entrevistou só bandidos”. Expliquei: são as fontes disponíveis. Se o sr.
me mandasse escrever sobre religião, eu ouviria D. Paulo, Madre Teresa
de Calcutá, o padre Julio Lancelotti. Boi preto conhece boi preto. Quem
dá informação sobre bandidos são os bandidos que convivem com eles”.
A reportagem foi aprovada.
Demora, mas...
Falta
mais de um ano para as eleições de 2022. A pesquisa Ipec (um novo
instituto, formado por antigos funcionários do Ibope, que faz sua
primeira pesquisa sobre 2022) levanta que Lula ganha no primeiro turno,
com 49%. É mais que Bolsonaro (23%), Ciro Gomes (7%), João Doria (5% -
empatados tecnicamente), Mandetta (3% - tecnicamente empatado com
Doria). Brancos e nulos, 10%. Não sabem ou não respondem, 3%. Bolsonaro
tem tempo de reagir. Mas essa vantagem de Lula sobre ele deve irritá-lo
profundamente.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

Nenhum comentário:
Postar um comentário