MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 19 de junho de 2021

Ao se envolverem com teorias conspiratórias, os Imbecis ganham seus 15 minutos de fama

 


Segundo James Fetzer, ataques foram uma encenação para enganar o povo. (Foto: Steve Ludlum/The New York Times)

Ataque a Torres Gêmeas deram origem a várias teorias

Eduardo Affonso
O Globo

Quase 50 anos separam as declarações de que as redes sociais dariam voz a uma legião de imbecis e que chegaria o dia em que todos teriam seus 15 minutos de fama. Teria Andy Warhol vislumbrado a internet e a cultura dos conspiracionistas? Ou pensava apenas nas subcelebridades instantâneas e deu a deixa para Umberto Eco ampliar o escopo da profecia, de modo a incluir a infâmia?

A palavra “imbecil”, em sua origem, designava “o que não se aguenta de pé”. Por extensão, foi aplicada aos tolos, àqueles cujas ideias não se sustentam. Isso antes de o insustentável ganhar fama e um megafone virtual para apregoar suas elucubrações.

TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO – A verdade pode ser enunciada de forma límpida. A mentira, para convencer, precisa ser cheia de cantinhos. Daí as teorias da conspiração serem tão elaboradas: quanto mais estapafúrdias, mais poderosas. Elas consistem num sistema dotado de razoável coerência, em que se estabelece um encadeamento lógico entre (falsas) causas e (discutíveis) consequências — ou vice-versa.

E são tão caras aos imbecis por lhes dar a ilusão de deter conhecimento — diferentemente do pensamento mágico, que não exige muita coordenação motora dos neurônios. O até então in bacillum (literalmente, “sem cajado”) se sente apoiado por um arremedo de razão.

O Sapiens — ensinou Yuval Harari — é capaz de se unir em tribos graças à ficção partilhada. A conspiração tem o mesmo propósito: congregar os imbecis em torno de coisas “que só eles sacaram”: a Nova Ordem Mundial, a Big Pharma, os reptilianos, a existência de fascistas no armário e de comunistas embaixo da cama.

OS ANTIVACINAS – Algumas conspirações são inócuas (o terraplanismo, os teóricos dos antigos astronautas), mas é por causa dos “antivax” que sarampo e poliomielite — quase erradicados — estão voltando.

E que a Covid-19 faz mais vítimas do que seria de esperar numa época em que se sabe tanto de virologia e infectologia. Negar a doença continua sendo o mecanismo de defesa preferido por quem não consegue lidar com a angústia que ela provoca.

Há hoje excesso de informação e escassez de compreensão. Sabemos que o cientista tem crenças e expectativas — por isso, experimentos precisam ser replicáveis e estudos passam por revisão. Há um método, que valida — ou não — o que a ciência produz.

NOTÍCIA FALSA – O imbecil tem ligação emocional com a conclusão. Tudo é arquitetado para confirmar sua hipótese. O que não convém é adulterado ou descartado.

Quem cria notícia falsa ou teoria conspiratória desconstrói os fatos e os rearranja numa narrativa que lhe seja favorável. Quem compartilha — sem verificar as fontes — tem consciência, intimamente, dessa falsidade. Acredita na mentira que é de seu interesse. Desmascarado, cria nova conspiração contra os mecanismos de checagem de conteúdo.

A internet, segundo Eco, “promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade” — do seu simulacro de verdade, agora com audiência amplificada. Resta saber quanto tempo ainda vão durar — e a que custo — esses 15 minutos de fama.

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