O ministro da Justiça deixará o cargo se o projeto que concebeu sofrer
lesões profundas durante os trabalhos de parto. Coluna de Augusto Nunes:
Sergio Moro encerrou prematuramente a vida de magistrado para
comandar o Ministério da Justiça e da Segurança Pública por acreditar
que, no novo cargo, disporia dos instrumentos legais necessários para
intensificar o combate à corrupção cinco estrelas e, simultaneamente,
desencadear a guerra inadiável às organizações criminosas que controlam o
sistema penitenciário, o tráfico de drogas e o contrabando de armas.
Amparado nas promessas de Jair Bolsonaro, avalizadas pelo ministro Paulo
Guedes, Moro precisou de poucas semanas para redesenhar o perfil do
ministério, montar uma equipe altamente qualificada e apresentar ao país
a chamada Lei Anticrime.
A reação da bandidagem com foro privilegiado foi imediata. Deputados e
senadores na mira da Lava Jato sempre tiveram seu grande Satã no juiz
que personificava a mais bem-sucedida operação anticorrupção da
história. O presidente da Câmara, por exemplo, adiou por prazo
indeterminado o exame, nas comissões e no plenário, da Lei
Anticorrupção. Ao pedir mais pressa, Moro foi qualificado por Rodrigo
Maia de “funcionário de Jair Bolsonaro”. Ao tentar avançar pela rota do
Senado, o ministro não demorou a perceber que está lidando com um bando
também ansioso por desidratar o projeto.
É nesse quadro que se insere a tentativa de retirar do ministério de
Moro o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) ─ órgão
cuja atuação ampliou notavelmente a eficácia da Lava Jato. Sem o apoio
ostensivo do presidente da República e do governo, sob o olhar omisso de
parlamentares que se elegeram incensando o condutor da Lava Jato, o
ministro luta praticamente sozinho para manter hasteada uma das
principais bandeiras eleitorais de Jair Bolsonaro.
Conheço suficientemente Sergio Moro para afirmar que ele deixará o
ministério se o projeto que concebeu sofrer lesões profundas durante os
trabalhos de parto. Tampouco será silenciado pela oferta de uma vaga no
Supremo. Pouquíssimos habitantes do mundo político brasileiro acreditam
na existência de homens honrados. Moro provará que a espécie não foi
extinta.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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