Artigo de Roberto González e Liza Gellerman, publicado originalmente na National Review e traduzido para a Gazeta do Povo:
A Venezuela é uma catástrofe humana. A evidência é cruelmente visível
e não pode ser explicada pelos defensores da tirania. Muitas pessoas
apaixonadas por teorias desmascaradas há tempos nutriam grandes
esperanças de que na Venezuela — apesar da enorme evidência histórica e
empírica demonstrando o contrário — a promessa do socialismo
funcionaria, não haveria perda de liberdades ou o país entraria em
colapso.
Olhando para o século 20, deveríamos nos voltar para alguns dos mais
proeminentes pensadores que viveram em condições semelhantes e
dissecaram suas experiências para que nós aprendêssemos algo. A crise da
Venezuela é um bom exemplo das duras lições aprendidas por uma geração,
mas esquecidas pela geração seguinte.
Em 1944, Friedrich Hayek advertiu em ‘O Caminho para a Servidão” que a
tirania inevitavelmente ocorre quando um governo exerce controle total
da economia através do planejamento central. Mais de meio século depois,
começando com a revolução de Hugo Chávez, a Venezuela iniciou seu
próprio caminho para a servidão, expropriando milhares de empresas e até
indústrias inteiras.
As companhias mais afortunadas partiram antes que fosse tarde demais,
enquanto os negócios que restavam foram entregues aos militares
venezuelanos, sob cuja supervisão eles foram negligenciados até virar
ruínas. Numa típica demonstração de guerra de classes, o governo
publicamente tratava os donos de empresas como antipatrióticos,
gananciosos lacaios dos interesses americanos, alegando que a pobreza na
Venezuela tinha sido um resultado direto de sua existência.
O Chavismo criou uma atmosfera de desconfiança em que ninguém se
sentia seguro o suficiente para investir na Venezuela. Mais importante,
os tribunais não eram mais o lugar para receber reparação. Desde 1999, o
Judiciário venezuelano foi sistematicamente empilhado com juízes leais
ao executivo.
Vinte anos após o socialismo se apossar do país, a Venezuela atingiu o
fundo do poço em todos os índices possíveis de desenvolvimento. Hoje,
90% dos venezuelanos vivem abaixo da linha da pobreza e as taxas de
inflação ultrapassam 1 milhão por cento. Um número recorde de crianças
está morrendo de desnutrição, e quase todos os hospitais do país estão
inoperantes ou precisam de suprimentos médicos básicos. As freqüentes
quedas de energia em todo o país deixaram, às vezes, até 70% da
Venezuela no escuro. A agenda socialista de Chávez pretendia estar a
serviço de toda a nação, mas, como Hayek nos lembra, "a busca de alguns
dos ideais mais estimados. . . [produz] resultados totalmente diferentes
daqueles que esperávamos. "
Um excelente exemplo desse divórcio entre intenções e conseqüências
reais é o controle de preços. Em 2014, a Lei do Preço Justo congelou o
preço dos bens e serviços e estabeleceu uma pena de até 14 anos de
prisão para aqueles apanhados "acumulando" ou contrabandeando comida. Há
vários exemplos na história econômica que revelam as conseqüências do
controle de preços, que afetam o equilíbrio estabelecido através da
interação entre oferta e demanda.
O controle de preços na Venezuela deu origem a longas filas,
prateleiras vazias e, finalmente, cidadãos famintos. O governo
estabeleceu preços artificialmente baixos, o que resultou em uma demanda
exorbitante e no consumo excessivo de bens básicos. Por outro lado, os
produtores começaram a ganhar menos porque se tornou inútil vender seus
produtos dentro da Venezuela.
Em vez disso, eles começaram a enviar seus produtos para o exterior
ou para o mercado negro, no qual os vendedores podem ir presos por sua
atividade e geralmente precisam pagar propinas para continuar operando.
Esses riscos são refletidos em preços mais altos. As consequências reais
das políticas equivocadas de Chavismo são reveladoras: os venezuelanos
perderam uma média de dez quilos em 2017.
O governo autoritário de Nicolás Maduro sobre a Venezuela é a próxima
peça do quebra-cabeça hayekiano. O sucessor escolhido por Chávez cavou
um poço ainda mais fundo para o país. A explicação de Hayek de "Por que o
pior chega ao topo" em seu livro ‘Caminho para a Servidão’ é
particularmente útil para entender o estado atual da Venezuela nas mãos
de Maduro.
Nas palavras de Hayek, em algum momento um ditador tem que "escolher
entre desconsiderar a moral comum e o fracasso", neste caso o fracasso
significando a perda de poder sobre as vidas das pessoas. Esta é a
razão, argumentou Hayek, de que os inescrupulosos e desinibidos têm
maior probabilidade de permanecer no poder em uma sociedade que tende ao
totalitarismo. Tragicamente 75 anos após a publicação de ‘Caminho para a
Servidão’.
Maduro e seus apaniguados têm respondido ao clamor de mudança dos
famintos e desesperados colocando coletivos revolucionários
ultraviolentos em ação na esperança de que milhões de pessoas recebam a
mensagem: fiquem quietinhos em casa, e assistam — impotentes — como a
noite da ditadura continua os engolfando.
Enquanto a maioria dos venezuelanos sofre, Maduro janta em
restaurantes luxuosos e presenteia sua família com aventuras
extravagantes. O comportamento corrupto do presidente é um reflexo de
seu círculo íntimo, composto quase inteiramente de vigaristas.
Para citar alguns, Diosdado Cabello, segundo no comando, que serviu
como presidente da Assembléia Constituinte sob Maduro, é o chefe de uma
organização internacional de tráfico de drogas conhecido como o Cartel
de los Soles, juntamente com Néstor Reverol, ministro do interior e da
justiça.
Os sobrinhos de Maduro, conhecidos na mídia como os narco-sobrinhos,
estão presos nos Estados Unidos por seu envolvimento com o tráfico de
drogas. Enquanto isso, o ex-vice-presidente da Maduro, Tarek El Aissami,
agora ministro da Indústria e Produção Nacional, tem agido como um
embaixador para a organização terrorista Hezbollah, convidando seus
militantes para treinar com as Farc na Venezuela. Estas são apenas
algumas das pessoas que conduziram o país ao caos e que têm seguido
Maduro fielmente, enquanto o resto do país sofre com a fome, saques,
doença e pobreza extrema.
Cada dia que Maduro permanece no poder representa outro dia em que o
mundo cede aos princípios destrutivos do autoritarismo. O povo
venezuelano se livrará desses ladrões mais cedo ou mais tarde, mas o
mundo deveria ter aprendido uma lição com Hayek, da primeira vez.
Roberto Gonzalez é um associado jurídico sênior e Liza Gellerman é pesquisadora jurídica júnior da Human Rights Foundation.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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