MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

O capitalismo à brasileira e o descompasso civilizacional de nosso país


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Charge do Toupeira (Arquivo Google)
Flávio Saliba
O Tempo
Falar da crise brasileira anda meio cansativo. Fazer o quê? Invocar a Noruega ou a Dinamarca? Só se for por oposição a tudo o que não temos ou não somos como brasileiros, tal o descompasso civilizacional que nos separa.
Refiro-me aqui, pela enésima vez, às ideias de Norbert Elias, que nos ajuda a entender por que somos assim e não assado, por que matamos mais do que em qualquer outro lugar do planeta, por que nos comportamos como infratores contumazes no trânsito, por que assaltamos com requintes de perversidade, por que roubamos e nos corrompemos tanto, por que chegamos mesmo a cogitar se somos um povo inferior.
AMORALIDADE – Ao analisar a passagem do feudalismo ao capitalismo, ou seja, à modernidade, Elias descreve minuciosamente o refinamento dos hábitos e dos comportamentos, primeiro, nas elites e, posteriormente, nas demais camadas sociais, num processo de crescente homogeneização social. Tal homogeneização decorre da igualdade propiciada pela generalização das relações de mercado e pela consequente instauração de uma moral única e válida para todos.
No Brasil, onde nem a lei é aplicada igualitariamente, como esperar que, em meio a tamanhas desigualdades sociais, fosse instaurada uma moral única e válida para todos? É provável que, entre nós, tenha se instaurado, ao contrário, uma amoralidade única e válida para todos.
Falso capitalismo – Os intelectuais de esquerda, em especial, insistem na crença de que nossos males são produzidos pelo capitalismo, e não pela sua ausência, pela debilidade das relações de mercado e, portanto, pela existência de um Estado e de uma vida política dominados por antigas e predadoras oligarquias. Talvez com alguma dose de exagero, o velho Roberto Campos afirma que “o liberalismo econômico, assim como o capitalismo, não fracassou na América Latina. Apenas não deu o ar de sua graça”.
QUATRO MODELOS – Em recente artigo publicado na revista “Veja”, André de Barros observa que William Baumol distingue pelo menos quatro formas de capitalismo: o de países dominados por oligarquias; o modelo em que o governo tudo decide, o centrado em grandes companhias e o de nações onde que prevalece o capitalismo empreendedor. Cada nação combina elementos desses quatro tipos.
Baumol sugere o afastamento das versões oligárquica e estatal; ora, alguém tem dúvida de que a versão brasileira de capitalismo seja exatamente essa combinação nefasta que inibe o empreendedorismo, a concorrência e a instauração de uma verdadeira sociedade de mercado? São essas as condições históricas indispensáveis à emergência de sociedades livres, igualitárias, democráticas e, portanto, favoráveis à emergência de uma moral única e válida para todos.
Infelizmente, as próprias nações que estiveram na vanguarda desse processo hoje presenciam um brutal processo de concentração de renda que pode minar as bases do igualitarismo e da cidadania. O que dizer, então, de sociedades como a brasileira, que nem sequer atingiram as etapas anteriores que levam ao desenvolvimento econômico, à democracia e à civilidade?
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