Poucas vezes a
degradação criada no país ficou tão clara quanto no desvairado
"julgamento" do presidente Michel Temer, escreve J. R Guzzo (via Augusto Nunes):
A vida pública no
Brasil degenerou a tal ponto que ficou criada a seguinte situação: os
sócios-proprietários do governo, divididos em bandos rivais que tentam
se exterminar uns aos outros, perderam a capacidade de tomar qualquer
decisão certa, seja ela qual for. Só conseguem errar. Um lado aposta
“par”, o outro lado aposta “ímpar” e os dois perdem — é aonde chegamos,
pela ação das facções que mandam hoje no país e passaram a acreditar,
nos últimos anos, que podem salvar os seus interesses políticos e
materiais dedicando-se a uma campanha permanente de suicídio. Há 14
milhões de brasileiros desempregados, levando uma vida de tormento
silencioso e diário, enquanto os donos do aparelho de governo fazem tudo
o que podem para manter o mundo da produção paralisado e sem
oportunidades. O Brasil chegou aos 60 000 homicídios por ano — e
responde por 10% de todos os assassinatos cometidos no mundo. Não há
esgotos. Mas os barões, duques e arquiduques que controlam as decisões
públicas se matam para ganhar seus joguinhos nos tribunais e em outros
terreiros de disputa. Estão cegos.
Poucas vezes a
degradação que criaram no país ficou tão clara quanto no desvairado
“julgamento” do presidente Michel Temer, dias atrás, pela aberração
conhecida como “Tribunal Superior Eleitoral”. De um lado, é mais do que
sabido, pela exposição dos fatos, que em 2014 a ex-presidente Dilma
Rousseff fez a campanha mais corrompida, fraudada e criminosa na
história das eleições brasileiras, levando-se em conta a estonteante
quantidade de delitos cometidos para mantê-la no cargo. É impossível,
também, fazer de conta que o atual presidente, na condição de seu vice,
não foi um beneficiário direto da trapaça — simplesmente ganhou a
Presidência da República quando Dilma foi despejada do posto por fraude
contábil, depois de um governo corrupto, trapaceiro e inepto. As provas
dos crimes são indiscutíveis, e até os ministros do TSE concordam que a
campanha foi paga com dinheiro roubado. Mas decidiram que Michel Temer
deve continuar no cargo, porque em seu entender as provas contra a chapa
vencedora, embora reais e concretas, não são válidas. Quer dizer:
valem, mas na hora em que foram apresentadas não estavam mais valendo,
pois apenas nossos cientistas jurídicos sabem que uma banana, hoje, pode
ser uma laranja amanhã.
De outro lado, é um
completo disparate achar que sete nulidades, que jamais foram eleitas
nem para inspetor de quarteirão, possam decidir se o presidente da
República fica ou não no cargo. Quem o coloca lá é o eleitorado. Quem
tem o direito de tirá-lo é o Congresso Nacional, e não o senhor Benjamin
ou o senhor Gilmar, o senhor Napoleão ou dona Rosa, e outros gigantes
do mesmo porte. Quem é essa gente? Por que fazer um processo judicial
que se arrasta por anos, se os juízes decidem que as provas não servem
para nada e se não têm a mínima condição lógica para depor o presidente
da República? Seja lá o que façam, não podem acertar. Apesar dessa
insanidade geral, a desordem continua. O procurador-geral da República,
agora, quer tirar Temer por “obstrução da Justiça” e outros crimes,
sabendo muito bem que a Câmara dos Deputados não vai aceitar sua
denúncia. A Câmara, por seu lado, ameaça chamar o procurador para
explicar por que, em sociedade com um ministro do Supremo Tribunal
Federal, perdoou sem nenhum processo judicial aos autores confessos de
uma das mais delirantes operações de corrupção de toda a história
brasileira.
A reação popular à
“absolvição” do presidente foi a mais humilhante indiferença — a melhor
resposta, possivelmente, para os que são donos do governo, da máquina
pública e do Tesouro Nacional. Trata-se dessa aglomeração de políticos,
magistrados, procuradores, lobistas, chefes de gangues partidárias,
acionistas do Erário e todos os demais parasitas que desfilam pelo
noticiário. Fingem que estão ocupadíssimos na solução das mais graves
questões da vida nacional. Sabem perfeitamente que no Brasil há
problemas de dois tipos — os problemas deles e os problemas da
população, e que esses dois mundos jamais se tocam. Quanto tempo vai
durar o mandato de Temer? Como acordou hoje o senador Calheiros — contra
as reformas, a favor das reformas? O PSDB vai ficar no governo, sair ou
ficar e sair ao mesmo tempo? Qual o último chilique do ministro fulano
do STF, ou do STJ, do TSE ou de onde for? Lula é um líder nacional ou um
futuro presidiário? Enquanto isso, como diria o deputado Justo
Veríssimo, os desempregados que se explodam.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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