Artigo do historiador
Marco Villa, publicado na Istoé, analisa o prosseguimento da crise
brasileira, herdada do lulopetismo. Tem razão em ressaltar que as forças
parlamentares não podem, ignorando a sociedade, formar um novo arco de
poder com os mesmos vícios. Que venha, em definitivo, a proclamação da
República:
É inegável que
vivemos o momento mais tenso dos últimos cinquenta anos da história do
Brasil. A aprovação do processo de impeachment de Dilma Rousseff não
encerrou a crise política. Muito pelo contrário. Apenas abriu o longo
período que poderá levar à proclamação da República no Brasil – aquela
que foi apenas anunciada a 15 de novembro de 1889 pelo marechal Deodoro
da Fonseca.
A possibilidade de
construir um novo arco de poder com as forças parlamentares que
conduziram o impeachment, encerrando a participação da sociedade civil
organizada, está fadada ao fracasso. Não é mais possível transformar a
política em um espetáculo com poucos atores, onde o povo assiste
passivamente o desenrolar dos acontecimentos. Isso acabou. Nos últimos
anos – e as redes sociais jogaram um importante papel – o protagonismo
da sociedade civil e o interesse pelos destinos da República estão
conduzindo o Brasil a um novo patamar, único na nossa história.
Hoje, a política foi
introduzida nas conversas cotidianas junto com o futebol e outras
amenidades. O STF virou tema de botequim. E seus membros são motivos de
acesas polêmicas. Quando isso ocorreu? Nunca. Hoje Ricardo Lewandowski é
tão falado como Neymar ou uma novela das nove da Rede Globo.
Estamos em meio ao
processo de reconhecimento de que a participação popular é indispensável
para a construção da democracia. E nada indica que isso deva ser
interrompido. A questão que se coloca é sobre a qualidade dessa ação.
Há, por exemplo, um grande interesse pelo conhecimento e estudo da
História do Brasil. Contudo, o que é oferecido para o público leitor –
ou em vídeos, pela internet – é de qualidade sofrível. Em parte, tal
fato deve ser atribuído às universidades que viraram as costas para a
sociedade e não socializam a produção do conhecimento.
Os sucessivos
escândalos de corrupção, ao invés de levar a um desinteresse pela
política, produziram efeito inverso: estimularam a discussão sobre os
rumos do País e a necessidade de produzir um arcabouço legal que
dificulte o assalto à coisa pública.
As medidas de combate
à corrupção patrocinadas pelo Ministério Público Federal – e que contam
com amplo apoio popular – têm importância decisiva nesse processo. E
dessa aliança poderá surgir um novo Brasil.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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