A inconsistência da defesa do marqueteiro João Santana e de sua mulher Mônica Moura fez com que o juiz Sérgio Moro os repreendesse na decisão de esticar por mais cinco dias a permanência dos dois na carceragem de Curitiba. O juiz viu “certos problemas” nos álibis apresentados, como não terem explicado por que a Odebrecht pagaria por fora no exterior, mas agiria legalmente no Brasil, da mesma maneira que o marqueteiro aceitaria dinheiro ilegal em outros países, mas não no Brasil, justamente o país em que o PT, partido para quem trabalhava, e a Odebrecht, estão envolvidos num imenso escândalo desse tipo.
Também a
secretária da Odebrecht teve sua prisão prorrogada, pois ela tenta
convencer os Procuradores e o juiz de que “acarajé” significa mesmo
aquela iguaria baiana, e não propina, como aponta a Polícia Federal.
Difícil de convencer, para qualquer pessoa que leia as mensagens de seus
executivos. Ou são todos na Odebrecht de origem baiana viciados em
acarajé “quentinhos”, que vão e voltam em diversas localidades do país e
mesmo do exterior.
Essas
antigas tentativas de enganar a Justiça não tem sido exitosas nessas
investigações. O desdobramento da Operação Lava Jato em diversas outras
operações, como a de ontem denominada “O Recebedor”, baseada em
informações obtidas em acordo de leniência e delação premiada fechado
com a empreiteira Camargo Corrêa, é uma demonstração de que as equipes
do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, coordenadas pelo
juiz Sérgio Moro em Curitiba, estão mais experientes e com maior
capacidade investigativa do que as anteriores, que investigaram grandes
esquemas de corrupção e lavagem de dinheiro que acabaram não tendo
conseqüências práticas, como o caso Banestado, ou simplesmente foram
anuladas pelos tribunais superiores, como a Satiagraha ou a Castelo de Areia.
A
Operação Lava Jato ainda é considerada um ponto fora da curva,
beneficiada pela formação da segunda grande força tarefa da história do
Ministério Público Federal quando o caso ainda era apenas uma
investigação sobre doleiros e lavagem de dinheiro, sem que as conexões
com a Petrobras e o PT estivessem explicitadas.
A equipe
foi composta por Procuradores que já tinham participado do caso
Banestado, como Carlos Fernando de Souza e Delton Dallagnol, e o próprio
Juiz Sérgio Moro, ele também participante da primeira operação, já
estudioso sobre lavagem de dinheiro. Seus componentes já tinham feito
inúmeros acordos de colaboração antes, inclusive com o doleiro Alberto
Yousseff, que reencontraram na investigação da Lava Jato, quebrando,
portanto, o acordo de delação premiada que fizera anteriormente.
A chance
de anulação do processo, embora continue sendo uma das principais
tentativas dos advogados de defesa, acostumados, como diz o jurista
Joaquim Falcão, a plantar nulidades para colher prescrição, está menor
pela ação cuidadosa dos investigadores e também pela vitória que o juiz
Sérgio Moro e os Procuradores obtiveram com a aceitação do Supremo
Tribunal Federal da tese de que a condenação em segunda instância pode
permitir a prisão do condenado, sem prejuízo dos recursos.
Os
estudiosos estão registrando mais profissionalismo nessa nova geração do
Judiciário, e constatam que eles usam uma rede de cooperação
internacional que lhes permite imprimir maior rapidez à formação de
provas. Uma funcionária do Departamento de Justiça americano, por
exemplo, impedida de ir ao trabalho devido a uma tempestade de neve,
enviou de casa para a Lava Jato um documento sobre a conta secreta de
João Santana no Citibank.
Vários
deles, como o Procurador Deltan Dallagnol, estudaram em Harvard e em
outras universidades dos Estados Unidos, têm conhecimento dos avanços da
tecnologia de informação e são assessorados por especialistas que sabem
tirar o maior proveito dos bancos de informação daqui e do exterior.
As
investigações do Ministério Público Federal na Operação Lava Jato
receberam o prêmio anual da Global Investigations Review (GIR), na
categoria "órgão de persecução criminal ou membro do Ministério Público
do ano", em cerimônia realizada em Nova Iorque.
A relação
entre o juiz Sérgio Moro e o ministro do STF Teori Zavascki, relator da
Operação Lava Jato, tem sido de harmonia, embora houvesse quem
apostasse em conflitos. Mas é bom lembrar que foi Zavascki quem indicou
Moro para assessorar a ministra Rosa Weber durante o processo do
mensalão, quando ele nem ainda estava no Supremo. Até agora, o Supremo
confirmou 96% das decisões de Moro.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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