Quis o destino que OAB, 8 do STF, Dilma e Renan se unissem para formalizar a ilegalidade e o caixa dois.
Eu
poderia recomendar aos oito do Supremo (no momento, sete; Joaquim
Barbosa já está fora) que votaram contra a doação de empresas privadas a
campanhas que lessem algum tratado de lógica elementar. Eu poderia
sugerir a esse mesmo grupo que lesse livros de história. Já nem digo que
lesse a Constituição porque hoje está em voga “interpretar” a dita-cuja
independentemente até do que lá está explicitamente escrito.
Assim,
resolvi partir para o Evangelho, para Mateus 7:13,14: “Entrai pela porta
estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que levam à perdição, e
muitos são os que entram por esse caminho. Porque estreita é a porta e
difícil o caminho que conduzem à vida, apenas uns poucos encontram esse
caminho!”.
O Supremo
escolheu a larga porta da perdição quando declarou inconstitucional o
financiamento privado de campanha. Dilma optou pelo caminho da perdição
quando decidiu vetar a contribuição de pessoas físicas que havia sido
reafirmada pela Câmara.
Sim, a
porta da salvação, como sempre, é estreita. Pensem: o acerto é único e
infinitas são as possibilidades do erro. E agora? A porta se estreitou
ainda mais. O Senado tinha até sexta-feira para votar — e aprovar — a
PEC da Câmara que constitucionaliza a doação de empresas.
É preciso
haver duas votações, com intervalo de cinco sessões entre elas. Se todos
os líderes concordassem, poder-se-ia estabelecer um rito sumário. Renan
Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, em guerra com Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), não se esforçou minimamente. Agora, diz Renan, tudo seguirá o
trâmite normal.
Digamos
que, daqui a uma semana, o Senado aprove a PEC já aprovada na Câmara que
constitucionaliza doações de empresas privadas. Ocorre que mudanças nas
regras eleitorais têm de se dar, no mínimo, um ano antes do pleito — e a
eleição ocorrerá no dia 2 de outubro. Sexta-feira é a data-limite. Está
criada a questão: essa anualidade exigida também valerá para o caso de
uma emenda constitucional?
Pode-se,
sim, argumentar que, até que não seja publicado o acórdão do Supremo,
vale a atual interpretação da Constituição, segundo a qual as doações
não são ilegais. E o acórdão pode demorar porque haverá certamente
embargos de declaração pedindo que o Supremo esclareça a decisão tomada.
Querem um
esclarecimento necessário? A doação de empresas está proibida pelo
Supremo, mas a de pessoas físicas não tem limite. Ora, se estamos
falando de isonomia entre doadores, terá de ter, ou a disputa se torna
feudo dos ricos, certo? Quando houver a publicação do acórdão, qualquer
que seja a interpretação do tribunal, estaremos a menos de um ano da
eleição. O que for estabelecido à esteira dos embargos de declaração
vale ou não para 2016?
Não
houvesse o veto de Dilma à doação de empresas, entraria em vigência o
que foi aprovado no Congresso: limite de doação de R$ 20 milhões, desde
que não ultrapasse 2% do faturamento bruto no ano anterior e 0,5% desse
montante a um mesmo partido. Mas Dilma, mais uma vez, houve por bem
atravessar a rua para pisar na casca de banana.
Tudo
ficando como está, meus caros, os candidatos a prefeito e vereador não
poderão contar com a doação de empresas privadas na eleição do ano que
vem, mas também não terão financiamento público. Se houver decência no
Supremo, será preciso estabelecer o limite de doação de pessoas físicas —
que terá de ser necessariamente baixo, ou a eleição, aí sim, vira
território dos endinheirados.
Pensem: de
onde os políticos vão tirar dinheiro para as campanhas? Quem sai
ganhando com a decisão estúpida do Supremo e com o veto de Dilma? Eu
digo.
Em
primeiro lugar, ganha o partido que domina a máquina federal e que tem
métodos muito conhecidos de conseguir recursos de empresas: o PT. Mais
ainda: todos sabemos que as entidades sindicais, ONGs e movimentos
sociais põem suas respectivas máquinas a serviço do partido e de seus
candidatos. É uma doação que não é feita em dinheiro, mas que vale
dinheiro.
Ganha o
crime organizado, nas suas mais diversas modalidades, que lida com
dinheiro vivo e terá uma importância brutal no processo. E isso se dará
de várias maneiras. Empresas continuarão a fazer doações — mas aí será
tudo clandestino mesmo. Um exército de doleiros, de traficantes e de
contrabandistas terá de ser acionado para fazer com que esses recursos
cheguem ao destino final.
Ganham os
vigaristas que, aí sim, sem nem precisar declarar a origem dos recursos
de campanha, poderão beneficiar à vontade seus financiadores.
Quando o
país estiver chafurdando no crime, sugiro que se chamem a OAB, Roberto
Barroso, Luiz Fux e os demais ministros do Supremo que deram aquele voto
absurdo para ver a grandeza de sua obra.
A oposição
reagiu muito tarde. Compreendo os motivos, mas lamento. Em tempos de
Lava-Jato, sair de peito aberto em defesa do financiamento privado de
campanha abriria o flanco para críticas bucéfalas. Agora, eis aí.
Tudo o mais constante, preparem-se para o vale-tudo.
Quis o
destino que a OAB, oito ministros do Supremo, Dilma e Renan Calheiros se
unissem para formalizar a ilegalidade e o caixa dois.
Pior: boa
parte da sociedade não entende a natureza do debate e ainda acha que se
trata de uma medida moralizadora porque foi convencida, inclusive pelos
setores vesgos ou esquerdos da imprensa, a identificar a doação de
empresas privadas com falcatruas, achando que aí está a essência da
Operação Lava Jato.
E não está. Pobre país!
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