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DESAFIO VENCIDO - Fernando Quintão já na etapa final do curso em que a mula se tornou dócil
Muitos criadores têm buscado, por meio da doma racional de equídeos, trocar a força e o castigo pela inteligência e confiança no trato com os cavalos. Diante disso, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar Minas) tem ampliado a atuação para capacitar produtores por meio de cursos de Formação Profissional Rural e Promoção Social.
Mais de 100 mil pessoas são atendidas anualmente em todas as regiões de Minas. Informações e orientações que antes não chegavam a pontos mais distantes já alcançam os criadores.
A Doma Racional de Equídeos é um dos cursos oferecidos pelo Senar Minas. Nos últimos dez anos, foram promovidos mais de 1.300 aulas, capacitando 14.168 pessoas. Em 2013, 1.427 concluíram o aprendizado e, em 2014, esse número cresceu para 1.633.
A procura pela capacitação na forma de lidar com os cavalos de maneira suave e segura tem aumentado a cada dia. O objetivo do curso é um só: mudar a maneira violenta com que alguns produtores, por desconhecimento, ainda utilizam para domesticar os animais.
Qualidade de vida
Pesquisadores e estudiosos têm buscado se especializar em doma racional para difundir esse tipo de trabalho e melhorar a qualidade de vida dos equídeos. A prática cria uma nova forma de comunicação entre o homem e o animal, baseada na inteligência, na técnica e no respeito.
Depois de criar por 25 anos cavalos campolina e prestar assistência aos principais haras do país, Marco Antônio Chaves desenvolveu diversas técnicas de doma racional e criou o curso Doma Divina.
A vida ao lado dos cavalos de diversas raças, mulas e éguas despertou no professor a habilidade de compreender a capacidade de cada animal e também a responsabilidade de repassar o conhecimento adquirido para outros domadores.
“A maioria das pessoas que trabalha com a doma de cavalos adota métodos agressivos e de imposição ao animal. Não conhecem alternativas sem violência por não terem tido a oportunidade de estudar sobre isso”, explica Marco Chaves.
Trabalho com mulas é sempre mais difícil
Em Nova Era, a 140 km de Belo Horizonte, Fernando Quintão fez o curso com Marco Antônio Chaves para adestrar mulas. “Em dois dias, eu consegui a confiança do animal como se eu já estivesse com ele há mais de 30 dias”, conta.
Impressionado com a eficácia das técnicas, Fernando Quintão enfatiza que o trabalho com mulas é mais difícil do que o realizado com cavalos, mas que a primeira surpresa com a doma foi que em 30 minutos de ensino já era possível montar o animal em pelo.
“Quem lida com essa espécie sabe como é difícil montar sem o arreio. Um dos maiores benefícios foi a preservação da boca, porque o bicho te aceita sem você precisar ser violento com o cabresto. Não é preciso machucar o animal para domar”, garante.
Convivência do domador com as pessoas é decisiva para conseguir confiança do animal
A primeira parte do aprendizado é uma palestra sobre a importância da mudança de hábitos e o relacionamento familiar, autoestima e comportamento diante do animal. Marco Antônio Chaves acredita que é preciso ter um bom relacionamento dentro de casa e conviver bem com as pessoas para, então, saber lidar com os animais.
“O domador precisa confiar no trabalho que realiza e em sua capacidade para transmitir essa confiança e ganhar o respeito do animal que está domando”, completa.
A segunda fase, já com o animal, é a contenção sem uso de agressividade e o início de massagens nos pontos de ligamento do pescoço com a cabeça, trabalhando o sistema nervoso do cavalo, mula ou égua. “Depois, vamos para a fisioterapia com alongamentos na lateral do pescoço e nuca e, após o relaxamento total, ensino a fazer a troca de mãos, postando-se ao lado do animal com uma mão no cabresto e outra na cernelha”, explica.
Após esse processo, monta-se o equino em pelo e repete-se a troca de mãos usando suavemente a rédea da focinheira e a perna no antebraço do lado oposto. “Nesse ponto é possível perceber se está confirmada a aceitação. Só então é possível iniciar um passeio a passo, no andamento natural do animal”. Os domadores que fazem o curso passam a entender e a respeitar os limites do cavalo.
Sem traumas
Na Doma Divina não são usados esporas, chicotes ou pressão. A condição para evoluir é o tempo e o tratamento que é dado. O mercado de trabalho da equideocultura moderna exige uma mão de obra qualificada para que os animais sejam dóceis sem nenhum trauma.
Marco André Meuer fez o curso da Doma Divina com sete cavalos no Rancho Santa Fé, em Goianá, na Zona da Mata mineira. “Durante cinco dias fiquei maravilhado com a forma de se poder lidar com os cavalos”, conta. Segundo ele, a cada dia era feito um tipo de exercício com os cavalos. Em cada fase era testada a defesa de cada um, bem como avaliada as particularidades.
“Tinha cavalo bravo, que não deixava colocar nem o cabresto. No entanto, todos ficaram mansinhos, sem pular e dar coice. A Doma Divina relaxou os animais e eles se tornaram dóceis”, conclui.
Ponto a ponto
As vantagens da doma racional
Possibilita avaliação precoce do potencial de andamento, o que se torna interessante em se tratando de animais destinados à venda em leilões, ou mesmo para apresentação a compradores no haras
Evita o adestramento de potros durante a fase crítica da manifestação da libido, especialmente se esses potros já foram introduzidos na reprodução, o que geralmente ocorre por volta dos 30 meses de idade. A libido afeta negativamente o grau de concentração nas lições
Evita o adestramento de potras após terem sido cobertas, o que geralmente aumenta os riscos de reabsorção embrionária e/ou aborto
Reduz os riscos de danos à boca do animal, tendo em vista que retarda o uso de embocadura. Essa somente será introduzida quando o animal completar o adestramento básico, ou seja, estiver executando corretamente o passo, a marcha ou o trote, as paradas, os volteios à direita e à esquerda e o recuo
Fonte: Mundo Equino
“A maioria das pessoas que trabalha com a doma adota métodos de imposição ao animal” Marco Antônio Chaves - domador
“Em dois dias, eu consegui a confiança do animal como se eu já estivesse com ele há mais de 30 dias” Fernando Quintão - criador
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