Trabalhadores
e empregadores, políticos e correligionários, centrais sindicais,
associações patronais e dos empregados começam a semana do 1° de Maio em
uma luta acirrada. A aprovação do PL 4330/04 com emenda que permite a
terceirização das atividades-fim das empresas do setor privado ajudou a
agregar uma forte pauta na agenda dos diferentes agentes do mercado de
trabalho. Centrais sindicais se reúnem com o presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB/AL) nesta terça-feira (28) e planejam atividades ao
longo deste mês para protestar contra o que, para eles, seria a maior
derrota da classe trabalhadora. Na sexta, Eduardo Cunha voltou a ser
alvo de protestos e, em resposta, disse que não tem “medo de cara feia".
Representantes
de empregadores têm defendido o projeto com vigor, para temor dos
representantes dos trabalhadores. A exceção é a Força Sindical. Enquanto
CUT, Conlutas, Nova Central Sindical, União Geral dos Trabalhadores
(UGT) e Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) se
articulam para tentar impedir a aprovação do projeto, não pela
regulamentação da terceirização em si mas pela forma como ela foi
proposta, a Força Sindical defende que a regulamentação daria "mais
força para o sindicato negociar e organizar a categoria, e acabar com
esse mito de que o trabalhador terceirizado vai continuar sendo
precarizado", conforme destacou o presidente, Miguel Torres. Centrais sindicais se reúnem com o presidente do Senado, Renan CalheirosEnquanto isso, Senado e Câmara trocam farpas publicamente. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), destacou
em nota nesta sexta-feira (24) que não vai polemizar com o presidente
da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e que não vai "engavetar nenhum
projeto". Na véspera, o senador já tinha se manifestado contra o projeto
de terceirização e destacado que a Casa que preside não teria pressa
com essa regulamentação. Cunha, em resposta, disse que "se o Senado pode
segurar projetos, a Câmara pode segurar também". "Pau que dá em Chico
também dá em Francisco. Engaveta lá, engaveta aqui", lançou o deputado.
Mesmo a votação na Câmara foi extremamente dividida.
Para economistas
que estudam o mercado de trabalho, a medida seria prejudicial aos
trabalhadores que não são terceirizados, e traria poucos benefícios aos
que já são terceirizados. Marcelo Weishaupt Proni, professor do
Instituto de Economia da Unicamp, destaca que, a princípio, ainda há um
longo caminho até que esse projeto seja aprovado efetivamente ou não. De
qualquer forma, já é bem claro os efeitos que poderia gerar para os que
já são terceirizados, os que ainda não são e para empregadores.
O trabalhador que
já é terceirizado, na prática, apesar do discurso de que ele seria o
maior beneficiado, ganharia mais segurança em uma proporção bem pequena.
Para os não terceirizados, seria prejudicial. Para os empregadores,
poderia se mostrar compensatória, como uma forma de reduzir custo.
Estes, contudo, aderindo às terceirizações das atividades-fim, por
exemplo, aquelas que correspondem justamente às atividades relacionadas à
especialidade da empresa, correriam o perigo de perder qualidade na
oferta dos serviços e produtos. Mesmo que venha a entrar em vigor,
então, acredita Proni, a medida pode não ganhar grande adesão dos
empresários.
A
maioria das centrais sindicais critica o projeto por ele representar a
degradação de tudo que foi conquistado ao longo de décadas. Para eles,
faria o país retroceder ao início do século passado. O Fórum Permanente
em Defesa dos Direitos dos Trabalhadores Ameaçados pela Terceirização,
que inclui organizações como a CUT, OAB e Anamatra (Associação Nacional
dos Magistrados da Justiça do Trabalho), também divulgou uma nota em
repúdio ao projeto de terceirização antes da conclusão dos votos na
Câmara.
Entidades como a Fiesp, a Associação Comercial
de São Paulo e a Fecomércio RJ, por outro lado, defendem o projeto. "A
Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Rio de
Janeiro confia na aprovação do Projeto de Lei n° 4330/2004 no Senado
Federal e avalia que a Câmara tomou a melhor decisão sobre o assunto
relevante para o país", disse a federação em nota, destacando que o
"país carece de modernização nas relações trabalhistas", e que a
terceirização permitiria às empresas contratar serviços sem as amarras
que dificultam a atividade econômica.
O presidente da CUT,
Vagner Freitas, destacou que a luta contra esse PL é ininterrupta e
envolve várias frentes de batalha: dias nacionais de paralisações, atos
em frente ao Congresso Nacional e nos aeroportos e, também, audiências
com os parlamentares que ainda vão apreciar o projeto.
“Precisamos
mostrar para os senadores que o PL 4330 é um ataque aos direitos
trabalhistas assegurados, em 1943, pela CLT. Essa avaliação não é só da
CUT. É unânime no Judiciário Trabalhista e tem avaliações contrárias
entre advogados, economistas e estudiosos do mundo do trabalho”.
Para
o membro da Secretaria Executiva da CSP-Conlutas, Luiz Carlos Prates,
o Mancha, o país está passando processos de luta e mobilização muito
importantes, vide os atos de 15 de abril, "demonstração de insatisfação
muito grande e disposição em agir em defesa dos direitos". Em conversa
com o JB por telefone, ele destacou que está colocada a
possibilidade de um grande dia de paralisação nacional, e que as
próximas semanas serão decisivas para isso. No 1ª de maio jornada de
luta contra medidas do Congresso e do governo, que buscam restringir
direitos em um momento de crise.
O presidente da Nova Central
Sindical, José Calixto Ramos, apontou que este momento é de grande
preocupação, pois acontece ainda junto com duas crises, de uma crise
política sem precedentes e de uma crise que afeta a economia do país,
muito por conta da crise política. "Tentam de alguma maneira terceirizar
toda a economia do país, exatamente porque o projeto, conforme foi
aprovado na Câmara, permite que essa terceirização se estenda a todo o
setor da economia. Essa é a grande discussão que nós estamos
enfrentando. Já perdemos na Câmara e agora vamos trabalhar no Senado."
Calixto
acredita que a reunião das centrais sindicais como senador Renan
Calheiros é uma esperança, que deve ajudar também a pautar os próximos
movimentos. "Vamos ver qual a linha que o senador pretende adotar e
vamos trabalhar junto a todos os senadores, com muito respeito as
opiniões, para não deixar que isso aconteça. Quando vem a terceirização,
nunca vem obedecendo os princípios das empresas principais."
O
presidente da CTB, Adilson Araújo, ressalta que a aprovação do
PL 4330/04 significaria "a maior derrota da classe trabalhadora desde o
golpe de 1964", com maior facilidade para fortalecimento de fenômenos
como a "pejotização" e a quarteirização do trabalho. "Quem imaginou que
teríamos chance na votação dos destaques pode constatar que a emenda
saiu pior que o soneto, conforme sugere o ditado popular."
"O PL
eleva ao grau mais elevado da nossa história a escravidão do trabalho
assalariado, submetendo mais de 50 milhões de trabalhadoras e
trabalhadores brasileiros à exploração e ao tacão de dois patrões,
redução de salários, direitos e benefícios, discriminação nos locais de
trabalho, maior incidência de doenças, acidentes e mortes. É a sepultura
da CLT e o reino da total insegurança jurídica para a classe
trabalhadora", alerta Araújo.
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