Decisão depende da situação financeira do consumidor.
É vantajoso pagar à vista se desconto superar rendimentos de aplicações.
Especialistas dizem que a decisão depende da situação financeira do consumidor, mas de forma geral – para quem tem o dinheiro – o pagamento à vista é mais vantajoso, pois é garantia de bons descontos que geralmente superam os rendimentos de aplicações financeiras.

Para o presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros, Reinaldo Domingos, se a pessoa é investidora, tem reservas e o hábito de guardar parte do que ganha, a melhor opção é mesmo pagar à vista. “Não existe aplicação que tenha melhor desconto do que o oferecido no pagamento à vista”, diz.
Mas o economista alerta que isso vale se esse consumidor tiver uma reserva que seja maior que o que ele vai desembolsar no pagamento à vista. Se o dinheiro que ele tem de sobra é só para o fim de pagar as despesas à vista, então é melhor pagá-las a prazo. “Em meio a dólar, inflação e Selic subindo e país com economia recessiva, é importante ter reserva financeira após pagar todos os tributos e demais despesas acumuladas do final de ano. Não podemos usar todos os nossos recursos e ficarmos sem nada porque sempre há despesas inesperadas”, explica.

O economista da Serasa Experian Luiz Rabi diz que as taxas de juros de investimentos como poupança, fundos de investimentos e títulos de capitalização normalmente são inferiores às taxas cobradas nos financiamentos. Assim, ele afirma que sempre será vantajoso para o consumidor sacar da aplicação e comprar o produto à vista do que financiá-lo.
Já Judas Tadeu Grassi Mendes, fundador e diretor presidente da EBS Business School, pondera que depende da taxa de remuneração do dinheiro investido e do desconto a ser obtido para quitar a compra. “Por exemplo, se você tem seu dinheiro investido em poupança que rende mensalmente 0,5% e no ano passado todo rendeu 7,2%, mas a loja vai dar um desconto à vista de 15%, então é melhor tirar o dinheiro da caderneta e quitar a compra”.

A sugestão da especialista do SPC Brasil é que para os próximos anos o consumidor vá separando todo mês um determinado valor para quitar os compromissos de início de ano. "O ideal é que ele faça uma pequena economia mensal em uma conta poupança separada. Assim o consumidor não cai na tentação de gastar o dinheiro com outras finalidades". Além disso, ela lembra que os gastos de início do ano são sempre previsíveis, ou seja, dá para se planejar ao longo do ano para começar o novo ciclo com mais tranquilidade.
Domingos recomenda a quem não tem dinheiro de sobra, ao consumidor equilibrado sem dívida e ao endividado que tem as prestações em dia para fazer o parcelamento das contas. “Mas tem que ver se mais essa parcela não trará problemas de desequilíbrio financeiro no orçamento mensal”, alerta.
Já para quem está inadimplente, ou seja, não está pagando suas dívidas, Domingos recomenda refletir sobre os gastos. “Será mesmo que eu posso ter esse carro? Será que não é ele que me dá desequilíbrio financeiro com despesas de manutenção, por exemplo, que geram custo mensal equivalente a 2% do valor atualizado do carro, incluindo seguro, combustível, lavagem, revisão, oficina? É hora de fazer uma faxina financeira mesmo, de cortar as gorduras”, diz.

Rabi concorda com Domingos. “As taxas de juros são muito elevadas. Procure sempre quitar integralmente as faturas do cartão de crédito. Se o cidadão perceber que a dívida já está muito além da sua capacidade de pagamento, é importante que ele entre em contato com o credor e peça uma renegociação. Ele também pode recorrer ao empréstimo consignado para quitar o cartão de crédito, que do ponto de vista de empréstimo pessoal possui a taxa de juros mais baixa do mercado”, aconselha.
Mendes lembra que os juros sobre a parcela do cartão de crédito chegam a mais de 200% ao ano.
“Prestações devem sempre caber dentro do orçamento, a dívida não é nenhum problema, mas quem tem prestação tem dívida, paga juros e realiza menos desejos e sonhos na vida”, diz Domingos.

Mendes, da EBS Business School, acha que se o preço for o mesmo é melhor parcelar, mesmo se a pessoa vier a ficar desempregada, pois o comprador não se descapitalizou no início. “Entretanto, se o comprador conseguir desconto de pelo menos 10% no preço à vista, é melhor comprar à vista”, orienta.

Para Mendes, hoje em dia, sempre que o desconto for superior a 10%, já vale a pena, levando em conta que se deixar na poupança, por exemplo, o rendimento será menor.

“Abusar dos parcelamentos é sempre uma via rápida para o descontrole e, daí, para a inadimplência. Por isso, o consumidor tem que avaliar sempre se ele realmente tem necessidade daquele produto e como ficará sua situação financeira ao comprá-lo. O cartão de crédito, por exemplo, deve ser utilizado com muita consciência. Ele dá a falsa sensação de que não se está gastando e na hora da fatura, o consumidor pode ser “surpreendido” com muitas despesas”, diz Rabi.
“É um dos grandes problemas das famílias brasileiras, pois mais de 70% das vendas são a prazo e as pessoas com menos controles financeiros acabam se perdendo e, quando percebem, estão superendividadas com o agravante de os juros são altíssimos e, se a pessoa entrar nos cheques especiais e cartões de crédito estará condenada. Esta é uma triste realidade dos aposentados, em que muitos já têm quase metade de seus rendimentos comprometidos com juros de prestações”, diz Mendes.
“O crédito compra imediatismo, então quem tem o costume de parcelar sempre acaba até consumindo itens supérfluos para satisfazer desejos imediatistas. O crédito muito fácil e acima das possibilidades de padrão de vida geram esse desejo de consumir aquele valor disponibilizado”, diz Domingos.

De acordo com o diretor presidente da EBS Business School, mesmo se o produto for caro, se o comprador tiver dinheiro disponível e o desconto for maior do que 10%, é melhor comprar à vista. "Contudo, como mais da metade da população brasileira está na chamada classe C, cujos rendimentos não são elevados e por isso impedem de comprar à vista produtos mais caros, então o parcelamento passa a ser a única opção para adquirir bens e serviços", diz.

Segundo Marcela Kawauti, economista do SPC Brasil, para o consumidor decidir se vai pagar o IPTU e o IPVA à vista ou parcelado, é preciso calcular se o desconto obtido no pagamento das contas à vista é maior do que o valor que esse dinheiro renderia caso estivesse em alguma aplicação financeira.
Para Mendes, desde que os descontos se aproximem de 10%, vale a pena à vista. Caso contrário, é melhor parcelar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário