MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Pacientes da Grande BH sofrem com atendimento de saúde precário


O MGTV flagrou falta de estrutura em Betim e em Ribeirão das Neves.
As pessoas enfrentam longas filas e a falta de profissionais nos postos.

Do G1 MG com infomações do MGTV
Quem procura atendimento na rede pública de saúde na Região Metropolitana de Belo Horizonte reclama das dificuldades do sistema.
A reportagem do MGTV 1ª Edição percorreu unidades de saúde de Betim e Ribeirão das Neves, e flagrou vários problemas. A estrutura é precária, há demora no atendimento, filas, insegurança e falta de informação.
Na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Justinópolis, em Ribeirão das Neves, pacientes diziam esperar há mais de oito horas por uma consulta. No Hospital São Judas Tadeu, na mesma cidade, a fila podia ser vista já na entrada da unidade.
Uma mulher grávida de oito meses aguardava atendimento há quatro dias para o filho de 3 anos, com crise de bronquite. Segundo ela, funcionários afirmam que falta médico na unidade. Outra mãe tenta consulta para a filha com febre, manchas e sangramento pelo nariz. A informação da equipe de plantão é a mesma: há poucos profissionais. O pediatra escalado não chegou e não há informação se ele irá trabalhar.
O espaço apresenta sujeira e tem infraestrutura ruim. As cadeiras estão quebradas e os banheiros, em péssimas condições de conservação. As macas ficam espalhadas pelo corredor. Um paciente foi flagrado dormindo em um canto da unidade de saúde. Do outro lado, um cachorro era visto 'passeando' entre os pacientes.
A revolta, às vezes, acaba em violência. Nas imagens, um dos pacientes se exalta e a Guarda Municipal é chamada.
Um dos enfermeiros que trabalha no centro de saúde desde 1994 afirma que foi agredido duas vezes no ano passado. Na última vez, foi espancado por um paciente e dois acompanhantes, e ficou 45 dias afastado do emprego por estresse pós-traumático. De acordo com ele, a falta de estrutura potencializa a violência. “Falta medicação básica, falta médicos”, desabafa o enfermeiro.
Em Betim, o cenário é parecido. Na Unidade de Atendimento Integrado (UAI) no bairro Jardim Alterosas, e na Unidade de Pronto-Atendimento Sete, no bairro Vila Recreio, há demora no atendimento.
Uma das pacientes conta já ter ouvido médicas que trabalham no local reclamar da falta de medicamento para trabalhar. A resposta da colega aponta o descaso: “trabalha com o que tem. Quer dizer, se não tiver medicamento, não medica e vai colocando um soro lá para disfarçar”, diz a mulher.
Quem precisa de internação garante que se não trouxer toalha e roupa de cama, fica molhado e com frio.
A Secretaria de Saúde de Ribeirão das Neves não quis gravar entrevista. Por meio de nota, afirmou que há a previsão de construir mais uma UPA na cidade, sem data para o início da obra. Ainda de acordo com a pasta, seis unidades básicas devem ficar prontas nos próximos meses, para atender cerca de vinte e quatro mil pessoas.
O Ministério da Saúde garantiu que cumpre os investimentos determinados por lei. Ainda de acordo com o órgão, foram enviados quase R$ 400 milhões para as prefeituras de Betim e de Ribeirão das Neves, de 2013 para cá.

Análise de especialistas
A advogada Kátia Rocha é especialista em direito da saúde e concorda que a falta de informações agrava o problema. “Normalmente, se o primeiro contato do paciente com a unidade prestadora do serviço começa mal, a tendência é que aquilo gere uma crescente insatisfação”, relata a especialista.
Kátia ainda acrescenta que “se o usuário já é atendido com descaso, com atendimento não humanitário (...) ele já vai criar um ânimo que vai gerar insatisfações, e pode gerar agressões”.
As Secretarias de Saúde de Betim e de Ribeirão das Neves garantem que, atualmente, cumprem os parâmetros definidos por lei. Com hospitais e unidades suficientes para a demanda.
O Ministério da Saúde realiza estudos para definir qual é o número ideal de médicos no sistema público de saúde. Mas adianta que a meta é atingir, até 2026, 2,7 profissionais para cada mil habitantes. Em Betim, a média é de 1,63. Já em Riberião das Neves, este índice fica abaixo de um.
Para a professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Eli Iola Gurgel, existem dois pontos fundamentais para o problema: falta de verba e má gestão. Atualmente, segundo ela, os municípios e o estado até cumprem os investimentos exigidos por lei, mas eles dependem de repasses do Governo Federal, que muitas vezes não chegam. Ainda de acordo com a pesquisadora, o Ministério da Saúde, o maior financiador do sistema público, não consegue investir nem a metade do que deveria.
A especialista aponta um ciclo. A falta de leitos nos grandes hospitais impede que pacientes internados nas UPA's sejam transferidos. E o baixo investimento faz com que problemas que poderiam ser resolvidos perto de casa, sobrecarreguem os postos de atendimento.
Segundo o secretário de saúde de Betim, Rasível dos Reis Santos, houve aumento no número de profissionais, mas o número ainda não é suficiente. “A gente estava com quatro equipes de estratégia de saúde da família. Hoje nós temos 90 equipes de estratégia de saúde da família, para cobrir 100% da população. Seriam necessárias 106 equipes”, ele explica.
Mesmo com tantas críticas ao sistema, a professora Eli Iola Gurgel defende o SUS. Ela percebe no sistema um dos maiores avanços da inclusão social da história do país. “Até 1988, o cidadão brasileiro só teria acesso à assistência médica se ele fosse contribuinte da previdência social, ou seja, se ele tivesse uma carteira de trabalho. (...) Hoje, todo cidadão sabe que tem direito à saúde (...) e cobra isso dos seus prefeitos dos seus políticos”, afirma Eli.

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