PSDB perde a chance de participar de uma vitória, e Cunha leva de goleada
Já escrevi aqui o
óbvio, e o dito-cujo, sendo o que é, aconteceu. Ao endossar a candidatura de
Arlindo Chinaglia (PT) para a presidência da Câmara, o governo Dilma entrava num
jogo de perde-perde. Perderia ganhando, o que era improvável, e perderia
perdendo, como aconteceu. Ocorre que a derrota foi maior do que se esperava:
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) venceu no primeiro turno, com 267 votos. Arlindo
Chinaglia teve magros 136 votos, não muito mais, convenham, do que os 100 de
Júlio Delgado (PSB-MG), que virou o candidato da oposição. Chico Alencar, o
anticandidato (PSOL), ficou com 8, e 2 deputados preferiram o voto
nulo.
Cunha precisava de
257 votos – metade mais um dos 513 deputados – para vencer no primeiro turno, o
que, suponho, nem ele esperava. Obteve 267, 10 a mais, o que humilha a máquina
governista, que não viu nada demais em apelar à chantagem explícita para tentar
emplacar seu candidato. Três ministros saíram com uma lista de deputados na mão,
e os respectivos cargos para os quais indicaram aliados, cobrando fidelidade. A
mensagem era esta: se Chinaglia perder, esses postos podem estar ameaçados.
Entraram nessa patuscada Pepe Vargas (Relações Institucionais), Miguel Rossetto
(Secretaria-Geral) e Ricardo Berzoini (Comunicações).
O PSDB também jogou
errado na Câmara. Se, no Senado, lançar um segundo nome, de oposição a Renan –
que tendia a ser o candidato único – foi acertado, endossar a postulação de
Júlio Delgado, acho eu, foi um erro, ainda que sob o pretexto de manter o PSB no
terreno oposicionista.
Parecia ser uma boa
saída quando se imaginava que a disputa iria para o segundo turno, e, aí sim, os
votos do PSDB poderiam fazer diferença. Da forma como se deu, ainda que tucanos
tenham votado em Cunha no escurinho da urna, o fato é que ele chegou lá sem o
apoio formal do maior partido de oposição. Não precisou. Vale dizer: o PSDB
poderia ter faturado com a derrota de Dilma, mas não o fez. Reitero: as
realidades de Câmara e Senado eram bem distintas.
O resultado para o
PT é humilhante. Sobretudo porque aderiu ao jogo pesado, inclusive aquele que
movimenta o submundo. E perdeu. Nem acho que Cunha vá fazer um mandato de
oposição ou algo assim. Mas sabe que tem motivos para cuidar da sua própria
agenda sem, digamos, remorsos.
Ainda voltaremos
muitas vezes ao assunto. Tanto Chinaglia como Cunha tinham uma pauta de apelo
corporativo que me parece dinheiro jogado fora. Falo disso outra hora. De
imediato, destaco que a vitória do peemedebista, falando em princípio, é
positiva quando se cotejam as coisas que ele pensa sobre reforma política com o
que pensa Chinaglia – que tem a pauta do PT.
Não que eu acredite
que essa conversa de reforma prospere. Mas lembro que os petistas querem impor o
financiamento público de campanha, por exemplo, que seria nefasto para o país.
Cunha se opõe. Já se manifestou também de forma clara contra qualquer censura à
imprensa, ainda que velada. Dado que o governo anda tendo ideias esdrúxulas a
respeito, melhor ele lá do que Chinaglia.
De resto, se e
quando fizer alguma coisa, na presidência da Câmara, incompatível com o cargo,
aí a gente cobra que ele saia. É simples. Uma coisa é certa: petistas perderam a
condição, porque petistas, de presidir qualquer coisa e lhe impor um mínimo de
seriedade. Não dá mais. O partido se afundou no opróbrio.
O governo foi
humilhado. O PSDB perdeu uma chance. E Cunha levou de goleada. Vamos ver o que
será.
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