Iate que recebeu figuras da República desde os tempos de JK é restaurado
Nome de diva e condução para celebridades sobre o Lago Paranoá, embarcação foi utilizada em festas de Juscelino, mas negligenciada por seus sucessores
por Guilherme Mazui
Empresário desembolsou R$ 700 mil para devolver à lancha o encanto que arrebatou presidentes
Foto:
Guilherme Mazui / Agencia RBS
Em Brasília, nunca houve uma lancha como Gilda. Trazida por Juscelino
Kubitschek à capital federal recém-inaugurada, em 1960, a primeira
embarcação de grande porte a singrar o Lago Paranoá serviu a seis
presidentes até apodrecer, esquecida. Uma parte da história da República
que, após uma década de restauro, retorna às águas nas próximas
semanas.
Em madeira de lei, 14 metros de comprimento e dois motores de 116hp, a lancha foi batizada em homenagem à diva Rita Hayworth, eternizada em um vestido longo e com um cigarro entre os dedos, no clássico do cinema Gilda. A musa do lago arrancou suspiros por onde navegou. Contudo, como uma bela dama que perde o lustro a cada primavera, Gilda submergiu. Teve de ser resgatada aos pedaços. Casco tomado por fendas, pintura desfeita, interior destruído, motores danificados. Situação que comoveu o empresário Gerard Souza, administrador de uma marina e de uma loja de embarcações em Brasília.
– Não consigo ver um barco apodrecendo. Meu coração fica apertado – confessa Gerard.
No auge, Gilda conduziu Maria Thereza e a mulher do iugoslavo Tito nos anos 1960
Esquecida e tomada pelas águas, embarcação ficou submersa por vários anos
Resgatada, lancha teve de passar por restauração
Restaurada e prestes a receber os últimos acabamentos, a musa é preparada para voltar a singrar no Paranoá
Para devolver à lancha o encanto que arrebatou presidentes, o empresário desembolsou R$ 700 mil. Após 10 anos de restauro, período em que teve de ser praticamente reconstruída, Gilda exibe o tom vivo da madeira destacada pelo verniz.
Construída pela Marinha no Rio de Janeiro, tinha uma irmã, chamada Garça, com a qual fazia dobradinha na Baía de Guanabara como embarcação de autoridades. Após a transferência da capital para Brasília, Gilda teve o mesmo destino, a pedido de Juscelino, amante de aprazíveis passeios náuticos.
O traslado foi uma operação militar. No Rio, um guindaste colocou a lancha de 17 toneladas em uma carreta, usada no transporte de carros de combate do Exército. Escoltado por jipes e motos, o comboio cumpriu mais de mil quilômetros de estrada até o Paranoá, lago artificial construído para minimizar a secura do Planalto Central.
Juscelino, o presidente bossa nova, foi quem desfrutou de Gilda com maior intensidade. Adepto de navegadas ao luar, o político promovia confraternizações a bordo, nas quais se apresentaram a cantora Elizeth Cardoso e o violinista Dilermando Reis. Vinicius de Moraes e Tom Jobim também exibiram sua arte na embarcação. Com a chegada de Jânio Quadros ao Palácio do Planalto, Gilda ficou de lado.
Pressionado pelas crises do seu governo, João Goulart, o Jango, passou longe do lago. Coube à primeira-dama Maria Thereza, que tinha medo de barcos por não saber nadar, navegar na lancha. Em 1963, ela fez um passeio ao lado da primeira-dama iugoslava Jovanka, mulher do Marechal Tito.
– Demos uma volta inteira no lago durante um coquetel, algo muito elegante para época. Foi um encontro muito agradável – recorda Maria Thereza.
Já os militares foram conquistados. Consolidado o golpe, Castello Branco redescobriu a embarcação deteriorada, fruto da falta de manutenção e abrigo. A diva ficava atracada ao relento, exposta ao sol forte dos meses de seca e às precipitações da temporada de chuvas.
O presidente ordenou o restauro da lancha, com a qual passava horas com os netos. Em março de 1967, ao deixar o Palácio da Alvorada para a chegada de Costa e Silva, Castello tratou de se despedir pessoalmente da companheira.
Em 1970, Emílio Médici também esteve acompanhado dos netos, em um tour próximo aos clubes à beira do lago. Foi o último presidente a navegar em Gilda, repassada em 1973 à federação de iatismo de Brasília. Utilizada em regatas do Iate Clube, aos poucos ela acabou esquecida. Perdeu o vigor, os motores falharam, foi tomada pela água. Agora, a musa será reinaugurada, emerge tão sedutora quanto antes. Volta a ser a diva do Paranoá.
Ficha técnicaComprimento: 14 metros
Boca: 4,5 metros
Calado: 1 metro
Motores: 2 diesel, com 116 HP
Lemes: 2
Hélices: 2
Empresário investiu na reforma
Devolver Gilda ao Lago Paranoá com as mesmas características dos anos de glória custou tempo, persistência e dinheiro. Atual proprietário da embarcação, o empresário Gerard Souza trata do restauro desde 2004 e investiu mais de R$ 700 mil.
Quem encontra a embarcação recuperada, custa a acreditar que era um destroço. Gerard recebeu a lancha aos pedaços, quase um esqueleto. O branco da pintura descascava, o casco de madeira parecia uma peneira, tomado por fendas. Internamente, um amontoado de tábuas podres e caídas. Os dois motores a diesel estavam inutilizados.
– Ela iria se desmanchar – recorda.
O empresário conheceu a embarcação fora d'água. Ganhou a missão de concluir o restauro como "presente" de um amigo. Investidor, um dos proprietários do Rio Quente Resorts, Francisco Hyczy da Costa contratou um guindaste, retirou Gilda do lago e a levou por rodovia para Goiânia. Chegou a iniciar o trabalho, repassado a Gerard.
A reconstrução exigiu a dedicação de mais de 22 profissionais, além de pesquisas e viagens. O benfeitor de Gilda foi aos Estados Unidos atrás de peças para os motores Detroit Diesel, modelo acostumado a movimentar tanques de guerra. Experientes mecânicos conseguiram fazer roncar outra vez duas relíquias com 116hp e duas toneladas cada.
A madeira do casco teve de ser substituída e as estruturas internas refeitas a partir de relatos, já que não havia fotos antigas. Pronta, Gilda tem uma sala dotada de armários e cozinha, uma sala principal com três sofás, além da cabine de comando e uma suíte. Tudo no tom forte da própria madeira, contrastado pelo azul das almofadas e colchões e o branco das cortinas. Um espaço que Gerard pretende disponibilizar para passeios escolares.
– Será uma oportunidade para garotada conhecer a história do lago e da lancha em que navegavam os presidentes – diz.
Em madeira de lei, 14 metros de comprimento e dois motores de 116hp, a lancha foi batizada em homenagem à diva Rita Hayworth, eternizada em um vestido longo e com um cigarro entre os dedos, no clássico do cinema Gilda. A musa do lago arrancou suspiros por onde navegou. Contudo, como uma bela dama que perde o lustro a cada primavera, Gilda submergiu. Teve de ser resgatada aos pedaços. Casco tomado por fendas, pintura desfeita, interior destruído, motores danificados. Situação que comoveu o empresário Gerard Souza, administrador de uma marina e de uma loja de embarcações em Brasília.
– Não consigo ver um barco apodrecendo. Meu coração fica apertado – confessa Gerard.
No auge, Gilda conduziu Maria Thereza e a mulher do iugoslavo Tito nos anos 1960
Esquecida e tomada pelas águas, embarcação ficou submersa por vários anos
Resgatada, lancha teve de passar por restauração
Restaurada e prestes a receber os últimos acabamentos, a musa é preparada para voltar a singrar no Paranoá
Para devolver à lancha o encanto que arrebatou presidentes, o empresário desembolsou R$ 700 mil. Após 10 anos de restauro, período em que teve de ser praticamente reconstruída, Gilda exibe o tom vivo da madeira destacada pelo verniz.
Construída pela Marinha no Rio de Janeiro, tinha uma irmã, chamada Garça, com a qual fazia dobradinha na Baía de Guanabara como embarcação de autoridades. Após a transferência da capital para Brasília, Gilda teve o mesmo destino, a pedido de Juscelino, amante de aprazíveis passeios náuticos.
O traslado foi uma operação militar. No Rio, um guindaste colocou a lancha de 17 toneladas em uma carreta, usada no transporte de carros de combate do Exército. Escoltado por jipes e motos, o comboio cumpriu mais de mil quilômetros de estrada até o Paranoá, lago artificial construído para minimizar a secura do Planalto Central.
Juscelino, o presidente bossa nova, foi quem desfrutou de Gilda com maior intensidade. Adepto de navegadas ao luar, o político promovia confraternizações a bordo, nas quais se apresentaram a cantora Elizeth Cardoso e o violinista Dilermando Reis. Vinicius de Moraes e Tom Jobim também exibiram sua arte na embarcação. Com a chegada de Jânio Quadros ao Palácio do Planalto, Gilda ficou de lado.
Pressionado pelas crises do seu governo, João Goulart, o Jango, passou longe do lago. Coube à primeira-dama Maria Thereza, que tinha medo de barcos por não saber nadar, navegar na lancha. Em 1963, ela fez um passeio ao lado da primeira-dama iugoslava Jovanka, mulher do Marechal Tito.
– Demos uma volta inteira no lago durante um coquetel, algo muito elegante para época. Foi um encontro muito agradável – recorda Maria Thereza.
Já os militares foram conquistados. Consolidado o golpe, Castello Branco redescobriu a embarcação deteriorada, fruto da falta de manutenção e abrigo. A diva ficava atracada ao relento, exposta ao sol forte dos meses de seca e às precipitações da temporada de chuvas.
O presidente ordenou o restauro da lancha, com a qual passava horas com os netos. Em março de 1967, ao deixar o Palácio da Alvorada para a chegada de Costa e Silva, Castello tratou de se despedir pessoalmente da companheira.
Em 1970, Emílio Médici também esteve acompanhado dos netos, em um tour próximo aos clubes à beira do lago. Foi o último presidente a navegar em Gilda, repassada em 1973 à federação de iatismo de Brasília. Utilizada em regatas do Iate Clube, aos poucos ela acabou esquecida. Perdeu o vigor, os motores falharam, foi tomada pela água. Agora, a musa será reinaugurada, emerge tão sedutora quanto antes. Volta a ser a diva do Paranoá.
Ficha técnicaComprimento: 14 metros
Boca: 4,5 metros
Calado: 1 metro
Motores: 2 diesel, com 116 HP
Lemes: 2
Hélices: 2
Empresário investiu na reforma
Devolver Gilda ao Lago Paranoá com as mesmas características dos anos de glória custou tempo, persistência e dinheiro. Atual proprietário da embarcação, o empresário Gerard Souza trata do restauro desde 2004 e investiu mais de R$ 700 mil.
Quem encontra a embarcação recuperada, custa a acreditar que era um destroço. Gerard recebeu a lancha aos pedaços, quase um esqueleto. O branco da pintura descascava, o casco de madeira parecia uma peneira, tomado por fendas. Internamente, um amontoado de tábuas podres e caídas. Os dois motores a diesel estavam inutilizados.
– Ela iria se desmanchar – recorda.
O empresário conheceu a embarcação fora d'água. Ganhou a missão de concluir o restauro como "presente" de um amigo. Investidor, um dos proprietários do Rio Quente Resorts, Francisco Hyczy da Costa contratou um guindaste, retirou Gilda do lago e a levou por rodovia para Goiânia. Chegou a iniciar o trabalho, repassado a Gerard.
A reconstrução exigiu a dedicação de mais de 22 profissionais, além de pesquisas e viagens. O benfeitor de Gilda foi aos Estados Unidos atrás de peças para os motores Detroit Diesel, modelo acostumado a movimentar tanques de guerra. Experientes mecânicos conseguiram fazer roncar outra vez duas relíquias com 116hp e duas toneladas cada.
A madeira do casco teve de ser substituída e as estruturas internas refeitas a partir de relatos, já que não havia fotos antigas. Pronta, Gilda tem uma sala dotada de armários e cozinha, uma sala principal com três sofás, além da cabine de comando e uma suíte. Tudo no tom forte da própria madeira, contrastado pelo azul das almofadas e colchões e o branco das cortinas. Um espaço que Gerard pretende disponibilizar para passeios escolares.
– Será uma oportunidade para garotada conhecer a história do lago e da lancha em que navegavam os presidentes – diz.
pena que hj ela jah está bem destruida de novo :(
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