CARLOS RHIENCK/Hoje em Dia
Empresa que aluga as bikes espera que o lazer incentive utilização futura
Há seis meses em funcionamento em Belo Horizonte, o projeto de
bicicletas compartilhadas, batizado de “Bike BH”, avança a curtas
pedaladas pela cidade. Desde a implantação, pouco mais de 31 mil viagens
foram realizadas em 290 “magrelas” distribuídas por 29 estações. O
número é quase cinco vezes inferior ao registrado em Brasília, que tem o
mesmo número de bikes e está apenas um mês à frente da capital mineira
na iniciativa.
Essa disparidade pode ser justificada por dois motivos, basicamente, na
avaliação do professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Fumec Jacques Lazzarotto: topografia e infraestrutura.
Segundo ele, o relevo de BH é pouco convidativo; as ciclovias, além de
não estarem em circuitos fechados, sofrem interrupções “sem sentido” e,
em muitos lugares, inexistem.
“Subir a avenida Afonso Pena ou o ‘tobogã’ da avenida do Contorno, por
exemplo, é complicado, porque são locais bem íngremes. Sair da Praça da
Liberdade e circular pelo entorno dela dá certo, mas se a gente pegar a
rua da Bahia, já começa a ficar movimentado. Os ramais (da cidade) que
não estão conectados podem ser uma inferência do insucesso do projeto”,
diz.
Incipiente
Para a professora de Logística da Faculdade Business School/Fundação
Getúlio Vargas, Julimara Danielle Ferreira, o aspecto cultural, somado
aos motivos elencados por Lazzarotto, também justifica a falta de fôlego
dos belo-horizontinos.
“Bicicletas não são nosso meio de transporte, mas, sim, de lazer. As
pessoas aqui estão muito acostumadas com carros”, afirma Julimara.
Por meio de nota, a superintendente de Relações Governamentais do Itaú
Unibanco – instituição patrocinadora do “Bike BH” –, Luciana Nicola,
afirmou que ainda é prematuro dizer que a proposta de compartilhar
bicicletas fracassou em Belo Horizonte e reforçou a importância da
adoção de medidas complementares à iniciativa.
“Nossa experiência em outras praças nos mostra que o hábito nasce no
lazer e, aos poucos, amplia o alcance para a vida cotidiana. Além disso,
o compartilhamento de bicicletas não é a única forma de promover a
cultura das bikes, também é preciso promover iniciativas de
infraestrutura e conscientização”, diz o texto.
O professor Jacques Lazzarotto também acredita que o tempo poderá ser
um aliado nesse caso, podendo até reverter o quadro atual.
“O fato de não termos uma orla igual à de Copacabana e à de Ipanema e
nem sermos uma cidade muito plana como Governador Valadares e Brasília
não inviabiliza, de forma nenhuma, o projeto. Como cidadão e urbanista,
destaco que esse tipo de ação tem que ser persistente”, avalia o
especialista.
Projeto ‘pedala’ na Pampulha e é pouco procurado no Centro
A procura pelas bicicletas compartilhadas é maior, de acordo com o Itaú
Unibanco, na Pampulha. Na região, estão concentradas seis estações do
projeto “Bike BH”. Destinado ao lazer e à prática de esportes, o local
possui paisagem e topografia favoráveis à iniciativa, ao contrário do
hipercentro de Belo Horizonte, onde a proposta – que não vingou – era
conectar as estações de metrô aos terminais do Move e facilitar o
deslocamento da população.
O estudante Lucas Ladeira, de 21 anos, está experimentando o serviço,
mas já lista algumas deficiências. “A geografia da cidade atrapalha
mesmo, porque existe muito morro. Também acho que as estações estão
muito centralizadas. Em alguns lugares onde deveria haver pontos de
retirada e de devolução não há. Em outros, temos bicicletas disponíveis,
mas não há ciclovias”, observou o estudante enquanto trocava de bike na
estação da praça Afonso Arinos, no Centro. A que ele pegou
anteriormente estava com pneu furado.
Apesar dos contratempos, Lucas adianta que vai insistir na tentativa de
usufruir do projeto em função da economia. “Ao invés de gastar R$ 5 por
dia com tarifa de ônibus, gasto R$ 9 por mês com o passe das
bicicletas”.
Má impressão
Por outro lado, Julimara Ferreira, professora da Faculdade Business
School/Fundação Getúlio Vargas, que também experimentou o serviço,
sentiu-se decepcionada com as falhas do sistema. “A ideia é boa, gostei
muito dela e, no dia que fui experimentar, fiquei apaixonada. Me
cadastrei, comprei o passe de um mês e nunca mais usei”, contou.
Segundo Julimara, é comum encontrar as “magrelas” danificadas e ter
problemas com a liberação nas estações. A professora também queixa-se da
dificuldade para devolver as bikes e do desencontro de informações.
“O número de bicicletas disponíveis e o de vagas não confere. Às vezes,
a gente retira a bicicleta e o sistema acusa que ela está em uso, mas
ela continua presa na estação. Mandei um e-mail para a empresa
responsável e eles levaram 15 dias para me responder”, lamentou.
A Serttel, responsável pela implantação e operação do sistema, foi
procurada durante a semana, mas, até o fechamento da edição, nenhum
responsável pronunciou-se sobre o assunto.
Mais estações nos próximos dias
A previsão é a de que, até a próxima segunda-feira, outras 11 estações
do “Bike BH” sejam inauguradas na cidade, totalizando 40, conforme
contrato firmado com a prefeitura da capital. Dessa forma, o número de
bicicletas saltará de 290 para 400.
Em Belo Horizonte, existem três planos de contratação do serviço: passe
diário, com validade de 24 horas (R$ 3), passe mensal, válido por 30
dias (R$ 9), e passe anual (R$ 60), com validade de 365 dias.
As estações de compartilhamento funcionam diariamente, das 6h às 23h,
para empréstimo, e até a meia-noite para devolução. Viagens de até 60
minutos de segunda a sábado e até 90 minutos aos domingos e feriados são
gratuitas, desde que realizadas com intervalos de pelo menos 15 minutos
entre elas.
O uso do sistema requer o preenchimento de um cadastro pelo
mobilicidade.com.br/bikebh. Para destravar a bicicleta, o usuário pode
usar o aplicativo para smartphones ou ligar, do aparelho celular, para
4003-9847.
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