A candidata do PSOL é a grande surpresa da corrida presidencial. Por Cynara Menezes
Gustavo Luz
Ela se destaca nas entrevistas e debates e atrai o voto dos jovens de esquerda
Início
da noite de terça-feira 23 em São Paulo. A candidata do PSOL, Luciana
Genro, é recebida na porta de um espaço cultural na Vila Madalena por
algumas garotas na faixa dos 20 anos. A presidenciável vai participar de
uma conversa com mulheres e, logo na entrada, uma das garotas lhe dá a
notícia: uma página criada no Facebook por seus fãs (os lucianetes)
bateu a marca de 1 milhão de visitantes. Os frequentadores querem saber
até a marca do creme usado por Luciana para domar os cachos. “É o mais
baratinho possível, custa 8 reais”, ela ri.
No centro cultural, cerca de 300
mulheres, todas muito jovens, de óculos e vestidos coloridos, batom
vermelhíssimo e cortes de cabelo modernos, a esperam para o debate ao
lado da cantora Marina Lima e da filósofa Marcia Tiburi, entre outras.
Todas declaram voto na representante do PSOL. A “diva fiel aos cachos” é
aplaudidíssima no fim do evento, ao espetar as rivais Dilma Rousseff e
Marina Silva. “Não basta ser mulher, é preciso estar do lado certo. E
elas não estão.”
Com no máximo 1% nas intenções de voto,
segundo as pesquisas, Luciana Genro tornou-se a musa dos descolados,
principalmente após ter soltado uma frase no debate organizado pela
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que se espalharia como
rastilho de pólvora na internet. Ao ser acusada por Aécio Neves de ser
uma “linha auxiliar do PT”, saiu-se com essa: “Uma ova, candidato
Aécio”. A reação espontânea agradou e a frase tem sido usada inclusive
como toque de celular entre jovens de extrema-esquerda que torcem o
nariz para o PSDB, mas também para o PT.
Aos 43 anos, a
advogada, gaúcha de Santa Maria, tem consciência do fato de,
paradoxalmente, uma “gíria idosa” tê-la levado a cair no gosto dos
meninos e meninas de 20 anos que adoravam interagir com Plínio de Arruda
Sampaio, o candidato do PSOL em 2010, nas redes sociais. “É uma
expressão que uso, embora meio antiquada, eu sei disso”, diz. “Acho que
ouvia a minha avó falar, não sei. Mas uso muito, pois não gosto de falar
palavrão.”
No primeiro debate entre os candidatos,
na TV Bandeirantes, a presidenciável foi ofuscada pelo candidato do
Partido Verde, Eduardo Jorge, cujas caras e bocas conquistaram (e
causaram risadas) em muitos jovens eleitores. Jorge e Luciana têm muitas
propostas em comum, entre elas a legalização das drogas e do aborto.
Ciente de que talvez disputem o mesmo eleitorado, a candidata do PSOL
tem se dedicado a desconstruir sutilmente o adversário.
No debate da CNBB, ela fez questão de lembrar a passagem de Jorge pelo staff
do ex-prefeito Gilberto Kassab, de quem foi secretário. Na palestra
para as mulheres, alertou que sua defesa do aborto não é incondicional.
“Ele diz ser favorável ao aborto enquanto não houver uma política de
planejamento familiar, enquanto eu digo que métodos contraceptivos
falham e que o aborto precisa ser legalizado independentemente de
planejamento familiar. Vejam a diferença”, pontuou, para delírio geral. A
cantora Karina Buhr, presente na plateia e “indecisa” até então, fez
questão de levantar novamente para dizer: “Adeus, Eduardo!”
Filha
de Tarso Genro, governador do Rio Grande do Sul, Luciana iniciou-se na
política ainda na adolescência, sempre à esquerda do pai. Em 2003,
deputada federal, acabaria expulsa do PT após se unir ao grupo que votou
contra a reforma da Previdência. Hoje sua família vive uma relação sui generis:
enquanto ela enfrenta a candidata do pai na eleição à Presidência, seu
ex-marido, Roberto Robaina, também do PSOL, enfrenta o ex-sogro na
disputa para o governo gaúcho.
A candidata parece se divertir muito, sobretudo com a
briga entre o pai e Robaina, que têm se provocado mutuamente nos debates
estaduais. No último deles, é a própria Luciana quem conta, às
gargalhadas. O governador petista virou-se para o ex-genro e disse:
“Você devia fazer que nem a Luciana e não ser quinta-coluna da direita”.
Robaina nem titubeou: “Ainda bem que você citou a Luciana. Ela vota em
mim”.
É com o ex-marido, e não com o pai, que
Luciana se prepara para os debates. “Ele me deu a dica de ouvir tudo o
que os outros dizem em vez de me prender tanto ao script”, conta.
Em suas primeiras aparições, presa ao roteiro revolucionário, falou
tantas vezes em “capital financeiro” que virou alvo de gozação.
“Entrei na disputa com
a preocupação de não me tornar caricata, de não ficar estigmatizada
como a candidata da maconha ou do aborto. Depois do primeiro debate,
recebi vários comentários me alertando para o uso de muito economês e
com sugestões de simplificar para os eleitores entenderem. Tenho tentado
fazer isso”, diz. “De fato, a economia é uma discussão difícil e até
por isso acaba não tão relevante como deveria ser. Agora tenho usado
mais exemplos, falado dos ‘gêmeos siameses’, das semelhanças que existem
entre os três, Marina, Dilma e Aécio.”
Além
dos elogios às respostas afiadas, Luciana Genro tem se surpreendido com
os galanteios. Em uma entrevista publicada na internet, o escritor Xico
Sá declarou que, entre as três candidatas, seria a do PSOL quem
“convidaria para sair”. Divulgada pela própria presidenciável, a
reportagem causou a fúria de feministas, que se revoltaram com a frase.
Ela gosta de se declarar detentora do “título de primeira candidata
feminista”, mas, apesar de reclamar que esse tipo de questão não se faz
aos concorrentes do sexo masculino, gostou da resposta de Sá. “Fiquei
lisonjeada. Não se pode ser tão radical, senão daqui a pouco ninguém vai
poder nem dizer que uma mulher é bonita.”
Sobre eventuais surpresas para o debate
que aconteceria no domingo 28, na Rede Record, ela emendou: “Tenho
pensado em algumas coisas. Mas acho que depois do ‘uma ova’ vai ser
difícil me superar”.
*Reportagem publicada originalmente na edição 819 de CartaCapital, com o título "Nanica, uma ova!"
Nenhum comentário:
Postar um comentário