Obra lançada em 2011 também fala do suposto adultério de Maria Bonita.
Filha do casal de cangaceiros vai recorrer e pedir suspensão da venda.
Pedro de Moraes diz que não esperava repercussão sobre o livro (Foto: Daniel Soares/G1)
O livro ‘Lampião – O mata sete’ vai ocupar às prateleiras de livrarias de Aracaju.
Após anos impedida de ir à venda, a obra publicada em 2011 pelo juiz
aposentado Pedro de Morais teve a autorização para a comercialização. O
pleno da 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Sergipe
(TJSE) entendeu no dia 30 de setembro que o cangaceiro é uma figura
pública e que isso significa abrir mão de uma parcela de sua
privacidade, além de citar o direito à liberdade de expressão do autor. A
família da figura popular da cultura nordestina entrou com um processo
porque se sentiu ofendida com a insinuação de que Lampião era
homossexual e que Maria Bonita era adúltera.“A decisão foi baseada no texto constitucional, é a ponderação entre os direitos de expressão, a liberdade artística e a privacidade. No caso, por tratar-se de um personagem público, entendeu-se que havia uma restrição ao direito à privacidade. Toda pessoa pública sofre restrições a esses direitos de intimidade e privacidade e obviamente pode ter a sua vida publicada em obra”, explica o desembargador Cezário Siqueira Neto. O relator do processo disse ainda que se a filha de Lampião, Expedita Ferreira Nunes, se sentiu ofendida ela pode requerer indenização.
O advogado da família de Lampião, Wilson Wynne de Oliva Mota, quer proibir a venda do livro e vai recorrer da decisão no Supremo Tribunal Federal (STF). “Ele diz que Lampião era gay e Maria Bonita adúltera. Afirma até que a Expedita seria filha de Maria Bonita com outro cangaceiro. O livro aborda um tema que nenhum estudioso ou pesquisador do cangaço ouviu falar. Não se trata de liberdade de expressão e nem de censura, há de se considerar que toda liberdade tem limite quando atinge o direito do outro”, diz.
"Há de se considerar que toda liberdade tem limite",
diz Wilson Wynne (Foto: Daniel Soares/G1)
O livro tem 300 páginas e foi escrito entre 1991 e 1997, período em que
o juiz morava em Canindé do São Francisco. Segundo Pedro de Moraes, o
objetivo foi desmistificar o Lampião herói, pois ele também seria um
criminoso. “O Lampião herói foi criado pela esquerda intelectualizada
após o Golpe Militar de 1964. Antes, ele era visto como um bandido e é
sobre isso que meu livro trata. Não é uma biografia gay de Lampião, é
uma biografia qualquer, além disso, eu nunca usei a expressão gay”,
garante o autor.diz Wilson Wynne (Foto: Daniel Soares/G1)
Pedro de Moraes afirma ainda que existem várias publicações sobre a homossexualidade do cangaceiro. “Tem até uma tese na Sorbonne pontuando a acentuada feminilidade de Lampião, ela também já foi publicada em várias revistas de circulação nacional. Por que somente eu? Eu o chamo de ladrão, assassino e canalha, mas apenas a parte que toca na homossexualidade é a que ofende a família. Não há nenhuma comprovação de que ele roubava dos ricos para dar aos pobres”, argumenta.
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