Em poucas horas, uma das placas foi roubada
Fumaça?
Nenhuma. Pneu queimado? Zero. Trânsito travado? Nada. Pelotão de
Choque, bombas de gás, spray de pimenta? Nem pensar. Para acabar com o
protesto dos moradores da Alameda Praia do Flamengo, em Stella Maris, a
polícia terá de oferecer à população o que mais se espera dela:
segurança.
Placa na Alameda Parque do Flamengo alerta para a presença de armas de fogo na rua (Foto: Robson Mendes)
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Não
parecia, mas a alameda foi palco ontem de um protesto de grande
repercussão. Na rua de 22 casas e cerca de 2 km de extensão, nove
criativas placas de sinalização foram colocadas por moradores em uma das
margens da via, mas, mesmo silenciosa, a mensagem ultrapassou os
domínios da rua, do bairro, da cidade, e chamou a atenção no país
inteiro, com divulgação em diversos noticiários nacionais.
A
reivindicação era uma só: segurança. A munição dos protestantes:
ironia. “Procura-se polícia nesta área”, dizia uma das tabuletas,
reproduzidas como placas de trânsito comuns. E as bem-humoradas críticas
às autoridades de segurança podiam ser lidas a cada 30 ou 40 metros. O
risco ali é muito bem sinalizado. “Perigo: a partir deste trecho seu
carro pode sumir”. “Senhor ladrão, em caso de assalto pode levar meus
pertences”. E os tais casos de assalto são tão frequentes que — imagine!
— até mesmo uma das placas foi vítima. Colocada na noite de
quinta-feira, a que dizia “Cuidado: ladrão na pista” foi roubada ontem
de manhã.
“Se estão
roubando placa, imagine o resto”, diz Pablo, que criou a campanha junto
com o publicitário Luiz Carlos Castelo Branco.
Tábuas viram proteção antiladrão
(Foto: Robson Mendes) |
Mas
as que se salvaram tiveram resultado imediato. Com a repercussão em
sites e TVs, os moradores contam que viaturas da polícia passaram a
fazer rondas na rua. “Hoje passou aqui a cota de viatura dos últimos
cinco anos. Espero que continue assim”, pediu o empresário Pablo
Ribeiro, 25 anos, um dos idealizadores do movimento, com a participação
de 15 pessoas.
“Foi muito rápido. Em menos de uma hora estava tudo impresso. Queríamos chamar a atenção”, conta Luiz.
duas
vezes vítima E por falar em protesto silencioso, a rua é aparentemente
tão calma que só se ouve os latidos dos cães. Só aparência. Segundo os
moradores, apesar de concentrados entre as 17h e as 22h, os assaltos
ocorrem a qualquer hora do dia ou da noite.
Em
todos os casos, os bandidos fogem pelo mesmo local que chegaram. O
chamado Parque das Dunas, a Área de Proteção Ambiental (APA) que margeia
toda a Alameda Praia do Flamengo. É por ali a privilegiada rota. “A
gente quer a construção de um muro ou de, no mínimo, uma tela”, afirma
Pablo. Curiosamente, nenhum dos dois idealizadores das placas foi
assaltado ainda. Mas relatos não faltam.
Tábuas viram proteção
contra ladrão (Foto: Robson Mendes) |
O
caso mais emblemático é também o mais recente. A enfermeira Priscila
Santos, 33 anos, teve a casa onde mora com o primo arrombada, na noite
de sábado. Os bandidos aproveitaram que ela viajava e que o primo saiu.
Antes de levar carro, notebook e câmera fotográfica, secaram as garrafas
de uísque.
No
dia seguinte, quando, após perceber o arrombamento, o primo de Priscila
se dirigia para o local junto com a namorada e o vigilante da rua, os
três foram assaltados por três homens. “Um estava com uma faca e outro
com uma arma de fogo”, descreveu o vigilante Oscar de Oliveira, 65 anos.
“O terceiro era um capenga”. Há dois anos, o tio de Priscila acabou se
tornando a maior vítima da violência na região. Ele foi morto a pauladas
enquanto passeava com seus dois cães nas dunas.
Uma moradora que não quis se identificar conta que há 15 dias saía de
casa quando um homem com o rosto coberto e um facão bateu no vidro do
seu carro. Ela fugiu, mas por pouco não saiu ferida. “Ele meteu o facão
no vidro do carro. A sorte é que não quebrou”, relata. Sorte que ela não
teve dois anos atrás, quando homens armados renderam a família inteira
antes de levar computadores, celulares e TVs. A casa agora está à venda,
assim como a de Priscila.
Na rua do perigo, nem mesmo o passeio com o cachorro é seguro, como a placa deixa claro em tom de ironia
(Foto: Robson Mendes) |
MuroEm
vez de vender ou alugar o imóvel, o aposentado Paulo Muniz, 83 anos,
mandou aumentar o muro em 1,5m e vai instalar cerca elétrica e alarme, o
que já existe em quase 90% das casas da região. Há dois meses, enquanto
sua filha estava fora, seu Paulo foi rendido por bandidos, que levaram
duas TVs e eletrodomésticos. “Isso aqui já foi muito tranquilo. É muito
ruim viver trancafiado”, lamentou ele, que mora no local há 17 anos.
Diversos
moradores ouvidos pelo CORREIO relataram que os bandidos chegam ao
cúmulo de realizar roubos em série. Fazem o assalto e, em vez de fugir,
esperam a próxima vítima. “O engraçado é a cara de pau”, ri Pablo, que
apesar do bom humor está preocupado com o futuro dos moradores. E das
placas.
Foto: Robson Mendes
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Unidunas
tem projeto para cercar parque, usado como rota de fuga*Após cometerem
os crimes na Rua Alameda Praia do Flamengo, na região de Stella Maris,
alguns bandidos acabam fugindo para a Área de Proteção Ambiental (APA)
Lagoas e Dunas do Abaeté, que fica na margem da via, de acordo com a
polícia. Parte do local está com a cerca destruída, ou não está cercada.
A área é de responsabilidade do Instituto do Meio Ambiente e Recursos
Hídricos (Inema).
Ao CORREIO, o gestor da APA, Tiago Marques, disse,
em agosto, que o local de 1.800 hectares deveria ser cercado, para
garantir a preservação. A iniciativa, em favor da proteção do meio
ambiente, traria benefícios também para a segurança pública.
Segundo o diretor da Universidade Livre das Dunas e
Restinga de Salvador (Unidunas), Jorge Santana, o acesso por onde os
criminosos costumam fugir fica a cerca de 8 km da instituição, sediada
no parque. Ele garante que não ocorrem crimes ali, mas espera acabar com
o estigma de que bandidos utilizam o acesso para fugir. “Há um posto da
Guarda Municipal ambiental que também funciona em outros parques, mas
com o aumento do efetivo, eles irão começar a circular por esse trecho
que fica mais perto da Lagoa do Abaeté do que de nós”, explica.
Ainda de acordo com o diretor, há um projeto para
cercar o acesso à APA que fica na rua onde estão as placas. A cerca terá
quase 3 km. “Temos um projeto para cercar a parte da APA que ainda
falta. Será utilizada madeira reflorestada e arame, com espaços de 30 cm
a 40 cm, diminuindo bastante a entrada de bandidos”, explica.
Procurado, o diretor de Parques da Secretaria Cidade
Sustentável (Secis), que estaria à frente do projeto junto com a
Unidunas, não foi localizado para comentar quando deve começar o
cercamento, previsto para ser concluído até o ano que vem.
* Edvan Lessa
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