FMI inclui o Brasil no grupo dos cinco países emergentes vulneráveis a uma nova crise.
Ai, ai,
ai…
“Quos volunt di
perdere, dementant prius.” Eis um velho adágio latino. Podemos traduzi-lo assim:
“Quando os deuses querem destruir alguém, começam por lhes tirar o juízo”. É o
que me ocorreu ao saber que a presidente Dilma Rousseff afirmou, na sabatina a
que se submeteu ontem, que as perspectivas negativas da economia são
equiparáveis ao pessimismo pré-Copa. Ou por outra: seria tudo espuma sem
fundamento. A presidente finge que os números não estão aí: juros de 11% ao ano,
crescimento abaixo de 1% e inflação, hoje, acima do teto da meta, que é de 6,5%.
No fim do ano, deve ficar pouco abaixo desse limite. Vale dizer: não estamos
lidando com meras expectativas ou subjetivismos, mas com fatos
realizados.
Nesta terça, veio o
balde de água fria da realidade na cálida ilusão do palavrório. O FMI incluiu o
Brasil no grupo das cinco economias mais frágeis entre os chamados países
emergentes, na companhia de Índia, Turquia, Indonésia e África do
Sul.
Segundo o Fundo, o
Brasil pode ser afetado duramente pela retirada de estímulos à economia dos
países ricos, com a consequente elevação da taxa de juros, e pelo crescimento
abaixo do esperado dos emergentes. O Brasil pode ficar numa situação difícil,
com queda do preço das commodities — o que seria péssimo para uma balança
comercial já combalida —; dificuldades para contrair financiamento externo;
redução de investimentos; queda no preço dos ativos em Bolsa e desvalorização
cambial. O conjunto seria danoso para a expansão do Produto Interno
Bruto.
Em agosto do ano
passado, o banco americano Morgan Stanley já havia feito um alerta sobre as
fragilidades desses cinco países. Por aqui, o governo deu de ombros, com a
arrogância costumeira. Naquele caso, falava-se especificamente do fim do ciclo
de estímulos à economia americana, que voltava a crescer. Foi batata! Nos meses
seguintes, esses cinco países viram fuga de capitais e desvalorização de suas
respectivas moedas. Ninguém, como o Brasil, sofreu tanto nesse
processo.
É claro que não cabe
a Dilma Rousseff, numa sabatina, admitir que a situação é muito difícil. Mas
também é preciso tomar cuidado com a parvoíce e com o simplismo, que assustam
ainda mais os agentes econômicos. Quando a presidente da República compara
dificuldades reais da economia — para as quais o governo, até agora, não aponta
respostas — com mero pessimismo sobre Copa do Mundo, dá evidentes sinais de
alheamento da realidade.
Segundo o FMI, as
principais dificuldades do país hoje são a baixa taxa de investimento e de
poupança doméstica. O caminho seria atacar os gargalos de infraestrutura —
especialmente no setor elétrico e de transportes —, adotar medidas que elevem a
produtividade e a competitividade e mudar o rumo da prosa, não ancorando o
crescimento apenas no consumo, como de fez nos últimos anos. Esse ciclo já se
esgotou.
Ocorre, meus caros,
que isso é tudo o que o governo tem demonstrado que não sabe fazer. Certo! Daqui
a pouco, os propagandistas palacianos começam a atacar o FMI e, talvez, Lula
venha a público com um palavrão novo — a exemplo do que fez ao contestar a
avaliação negativa de um banco sobre a economia —, achando que resolve tudo no
berro. Não resolve.
Há uma hora em que é
preciso ter mais do que sorte e garganta; é preciso ter também
competência.
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