Artigo de
Merval Pereira, publicado no jornal O Globo, analisa o autoritarismo e o
intervencionismo crescentes do governo Dilma, desesperado diante da
indocilidade do mercado e da alternativa de poder:
Concordo
com a presidente Dilma, que classificou ontem o que está acontecendo no
mercado financeiro de inadmissível e lamentável , mas tenho a visão
oposta à dela: o que é inaceitável é um governo, qualquer governo,
interferir em uma empresa privada impedindo que ela expresse sua opinião
sobre a situação econômica do país. Sobretudo uma instituição
financeira, que tem a obrigação de orientar clientes para que invistam
seu dinheiro da maneira mais rentável ou segura possível.
Numa
democracia capitalista como a nossa, que ainda não é um capitalismo de
Estado como o chinês - embora muitos dos que estão no governo sonhem com
esse dia -, acusar um banco ou uma financeira de terrorismo eleitoral ,
por fazerem uma ligação óbvia entre a reeleição da presidente Dilma e
dificuldades na economia, é, isso sim, exercer uma pressão indevida
sobre instituições privadas.
Daqui a
pouco vão impedir o Banco Central de divulgar a pesquisa Focus, que
reúne os grandes bancos na previsão de crescimento da economia, pois a
cada dia a média das análises indica sua redução, agora abaixo de 1%
este ano.
Outro
dia, escrevi uma coluna sobre a influência da economia nos resultados
eleitorais, e o incômodo que a alta cúpula petista sentia ao ver
análises sobre a correspondência entre os resultados das pesquisas
eleitorais e os movimentos da Bolsa de Valores: quando Dilma cai, a
Bolsa sobe.
Essa
constatação, fácil de fazer e presente em todo o noticiário político do
país nos últimos dias, ganhou ares de conspiração contra a candidatura
governista e gerou intervenções de maneiras variadas do setor público no
privado. O Banco Santander foi forçado a pedir desculpas pela análise
enviada a investidores sugerindo que prestassem atenção às pesquisas
eleitorais, pois, se a presidente Dilma estancasse a queda de sua
popularidade ou a recuperasse, os efeitos imediatos seriam a queda da
Bolsa e a desvalorização cambial. E vice-versa.
O
presidente do PT, Rui Falcão, já havia demonstrado que o partido
governista não se contenta com um pedido de desculpas formal, como
classificou a presidente Dilma: A informação que deram é que estão
demitindo todo o setor que foi responsável pela produção do texto.
Inclusive gente de cima. E estão procurando uma maneira de resgatar o
que fizeram . Ontem, na sabatina do UOL, a presidente Dilma disse, em
tom ameaçador, que terá uma conversa com o CEO do Banco Santander.
Mas não
foi apenas o Banco Santander que sofreu esse assédio moral por parte do
governo. Também a consultoria de investimentos Empiricus Research foi
acusada pelo PT de campanha eleitoral em favor do candidato
oposicionista Aécio Neves, tendo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
acatado o pedido para que fossem retirados do Google Ads anúncios
bem-humorados do tipo Como se proteger de Dilma e E se Aécio ganhar .
Justamente
é este o ponto. A cada demonstração de autoritarismo e intervencionismo
governamental, mais o mercado financeiro rejeita uma reeleição da
presidente Dilma, prepara-se para enfrentá-la ou comemora a
possibilidade de que não se realize. Isso acontece simplesmente porque o
mercado é essencialmente um instrumento da democracia, como transmissor
de informações e expressão da opinião pública.
Atitudes
como as que vêm se sucedendo, na tentativa de controlar o pensamento e a
ação de investidores, só reforçam a ideia de que este é um governo que
não tem a cultura da iniciativa privada, e não lida bem com pensamentos
divergentes, vendo em qualquer crítica ou mesmo análise uma conspiração
de inimigos que devem ser derrotados.
Um dos
sócios da consultoria Empiricus Research, Felipe Miranda, afirmou em
entrevistas que não se intimidará, e fez uma constatação óbvia. O que já
vínhamos falando aos nossos clientes sobre a gestão do governo e a
condução da política econômica só piorou com esse cerceamento.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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