MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 1 de junho de 2014

Mineração faz economia de São Gonçalo do Rio Abaixo explodir


Tatiana Moraes - Hoje em Dia


Eugênio Moraes/Hoje em Dia
Mina de Brucutu
Capacidade de investimento do município na área social vem dos royalties pagos pela mineração

A pequena São Gonçalo do Rio Abaixo, município de apenas 10 mil habitantes na região Central de Minas, próxima de Itabira, experimenta uma verdadeira explosão econômica. Em toda a cidade, não há quarteirão que não abrigue uma obra.
 
Duas avenidas estão sendo abertas, novos loteamentos surgem todos os meses, um hotel de bandeira internacional está em construção e dois condomínios industriais começam a ser ocupados por galpões antes mesmo de estarem concluídos.
 
Tamanha velocidade de mudança se dá em função da chegada da Vale, em 2006, e do progressivo aumento da produção da Mina de Brucutu, uma das maiores da empresa no país. Mas a evolução não se dá apenas na estrutura urbana. A cidade também colhe resultados sociais que não aconteceriam sem a presença da mineração. 
 
É o que aponta o Índice Mineiro de Responsabilidade Social (IMRS), construído a partir da análise de nove aspectos da qualidade de vida e medido nos 853 municípios de Minas Gerais. 
 
São Gonçalo do Rio Abaixo ocupa hoje a 22ª posição no levantamento elaborado pela Fundação João Pinheiro (FJP), com uma nota geral de 0,664 (melhor quanto mais próximo de 1). Aliás, seis das dez primeiras cidades ranqueadas no IMRS têm vocação minerária.
 
Na cidade, o indicador que mede a renda é o mais alto (0,826). Essa renda é reflexo da oferta de empregos no município, que há até pouco tempo tinha a economia baseada na agricultura.
 
"A abertura da mina ampliou a visão dos moradores e abriu um leque enorme de empregos”, afirma o prefeito, Antônio Carlos Noronha Bicalho.
 
Arrecadação
 
Com a implantação da mina, a arrecadação da cidade saltou de R$ 20 milhões em 2005, um ano antes da chegada da Vale, para os R$ 191,6 milhões previstos para este ano. O montante atual é quase dez vezes maior do que o registrado naquela época. 
 
A título de comparação, os royalties recebidos pela extração do minério em 2013 (R$ 81 milhões) representam mais de quatro vezes a arrecadação total registrada há nove anos. O montante é 7% maior do que o de 2012 e só tende crescer. 
 
“Com os royalties foi possível investir pesado no município”, diz o secretário de desenvolvimento do município Breno Fonseca Starling. Até 2015 será inaugurado um hospital com 30 leitos. Na cidade existem, ainda, cinco centros de atenção à saúde e duas unidades de Escola de Tempo Integral. 
 
Negociações com uma faculdade também estão em estágio avançado. “Por enquanto, temos ônibus para levar os estudantes de graduação e de cursos técnicos às faculdades dos municípios vizinhos”, afirma o secretário.
 
Benefícios para atração de novas empresas
 
Na esteira da Vale, uma série de empresas estão se instalando em São Gonçalo do Rio Abaixo. E, para reforçar esse movimento, a administração municipal está executando um plano ousado. 
 
Um terreno de 260 mil metros quadrados foi transformado em dois Distritos Industriais. Segundo o prefeito Antônio Carlos Noronha Bicalho, três indústrias já estão funcionando e outras cinco abrirão as portas até o final do ano. Nos dois distritos, 22 empresas já confirmaram interesse de instalação. Entre elas está um centro de distribuição da Sotreq. A companhia é fornecedora de equipamentos Caterpillar, utilizados em construção e mineração.
 
Oferta de galpões
 
Para as empresas que se instalam nos condomínios, a prefeitura cede o terreno e, dependendo do setor e do plano de ações, conforme explica o prefeito, pode oferecer, ainda, o galpão. O tempo de concessão é de 30 anos. “Nossa intenção é diversificar a economia para não ficarmos dependentes da Vale. Afinal, um dia a mineração chega ao fim”, comenta o chefe do executivo. Estão confirmadas usinas de asfalto, fábrica de pré-moldados, laticínio, marmoraria, entre outros.
 
Os sócios Luis Fernando Estevão e Luiz Fernando Guimarães aproveitaram a proposta da prefeitura para instalar na cidade a fábrica de conteiners Superloc. A companhia já possui unidades em Ipatinga e Belo Horizonte. A fábrica de São Gonçalo do Rio Abaixo terá capacidade para produção de 40 conteiners por mês. 
 
A companhia fornece conteiners para todo o país. Os principais compradores são Vale, Usiminas e Cenibra. Além de Minas Gerais, os equipamentos são despachados para Fortaleza e Recife. “O incentivo da prefeitura foi grande, por isso viemos para cá. São Gonçalo do Rio Abaixo é uma cidade onde tudo funciona”, diz Guimarães. 
 
Senai busca qualificar mão de obra técnica
 
Não falta emprego em São Gonçalo do Rio Abaixo, mas encontrar mão de obra qualificada não é tarefa fácil. Para mudar este quadro, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), em parceria com a prefeitura, instalou na cidade uma unidade do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Trata-se do Centro de Formação Profissional (CET) José Fernando Coura. 
 
A cada semestre, de acordo com o gerente da unidade, Brizola Rodrigues Sette, cerca de 300 jovens são formados. “Hoje, os alunos visam não só as empresas de São Gonçalo do Rio Abaixo. Eles querem mais, são ambiciosos, planejam uma carreira”, diz o gerente. Os cursos são realizados em parceria com o Pronatec, do governo federal.
 
No centro de formação profissional são oferecidos cursos de qualificação, técnicos de eletroeletrônica e mecânica, aperfeiçoamento e aprendizagem. Neste último, são formados os jovens de 16 a 24 anos. “As duas turmas que entrarão no próximo semestre já começam empregadas na vale”, afirma Brizola. Ele conta que os alunos atuam como aprendizes na mineradora e recebem meio salário mínimo por mês. 
 
Conforme afirma o gerente, os cursos oferecidos mudam de acordo com a demanda da cidade. “Não fazemos o mesmo curso sempre, para não saturar o mercado de trabalho”, afirma. 
 
Aos 17 anos, o aluno do curso de desenho mecânico Jorge Henrique Costa Silva planeja seu futuro. A expectativa do estudante é a de que consiga, depois de formado, em julho, uma vaga na Vale. “O mercado está muito concorrido. Com o curso, saímos na frente”, diz.
Colega de classe de Costa Silva, Helora Reis Teodoro, também de 17 anos, afirma que o Senai ampliou seus horizontes. 
 
“Temos oportunidade de competir no mercado de trabalho não só de São Gonçalo do Rio Abaixo, mas de qualquer lugar”, afirma. 
 
Comércio cresce com afluxo de trabalhadores
 
O comércio de São Gonçalo do Rio Abaixo tem colhido os bons frutos com o pleno emprego e o aumento de renda da população. Na cidade, os lojistas experimentam crescimento de até 30% nos negócios, ano após ano.
 
É o caso do proprietário da loja Moda dos Dez, José de Macedo. De acordo com ele, a ida das empresas para a cidade fomentou o comércio. “A quantidade de pessoas que vem de fora para trabalhar na mina e em outras empresas é grande. O consumo aumenta muito”, diz.
 
Macedo também é proprietário de duas empresas de aluguel de equipamentos para construção civil, a Madema Locações e a Macedo e Filhos. Neste segmento, o empresário comenta que houve crescimento de 15% no faturamento anual. Para este ano, a expectativa é a de que o aumento seja maior devido a um projeto da prefeitura chamado de Meu Novo Lar, que oferece subsídio para que pessoas se instalem definitivamente na cidade. 
 
Para quem trabalha na prefeitura, o subsídio é de R$ 40 mil. Para outras pessoas que comprovem vínculo empregatício no município é de R$ 30 mil. “Muita gente deve construir nos loteamentos que foram abertos na cidade e, certamente, vão precisar do nosso maquinário”, diz.
 
O proprietário do depósito de construção Comercial Rosário, Demétrios José Guedes, concorda com Macedo. “Estamos abrindo nossa terceira loja”, afirma. Hoje, a empresa emprega dez pessoas. Pelo menos outras seis serão contratadas nas próximas semanas.
 
Trabalho
 
A proprietária do supermercado Amora, Marília Amora, também viu os negócios deslancharem depois do início da mineração na cidade. Com 3,5 mil produtos no mix, o supermercado, que gera 12 postos de trabalho, cresce, em média, 15% ao ano. E o espaço para o estoque já está pequeno.
 
“Não podemos reclamar do comércio da cidade. Estamos vendendo cada vez mais”, comenta.
 
Localizada próxima ao supermercado Amora, a Agromineira, casa de produtos agropecuários, tem registrado aumento de aproximadamente 20% ao ano no faturamento. “O homem do campo tem total apoio da prefeitura”, diz. 
 
A secretária de governo do município, Andréa Ribeiro de Castro Mendes, afirma que o objetivo do executivo é incentivar a agropecuária da cidade, enquanto o crescimento urbano também deslancha. 
 
“Quase metade dos moradores da cidade estão em área rural. Temos vocação para a industrialização, mas também para a agricultura”, diz.

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