Na foto, a equipe do Plano: Malan, Arida, Franco e Bacha. |
O jornal O Globo
traz uma série de matérias sobre os 20 anos do Plano Real, que domou a
inflação e assentou as bases do crescimento brasileiro. Inimigo do plano
desde o primeiro momento, o lulopetismo não fez nenhum ajuste nos
últimos 12 anos - e o que temos é a volta da inflação. Aliás, como diz o
jornal, "temos crescimento baixo de nação rica e inflação de país
pobre":
Passados
20 anos do Plano Real, os números da economia mostram o Brasil com
inflação alta de Terceiro Mundo e crescimento baixo de país
desenvolvido. Ao cruzar os dois indicadores com os de 32 países de
América Latina, Brics (além do Brasil, Rússia, Índia, China e África do
Sul), Tigres Asiáticos (Hong Kong, Coreia do Sul, Cingapura e Taiwan) e
desenvolvidos, o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini,
encontrou a sétima maior inflação acumulada de 1995 a 2013, de 275,4%,
mesmo com a estabilização — o que representou taxa média anual de 7,2%,
pouco acima da expectativa de inflação do mercado para este ano, de
6,46%. Na América Latina, o Brasil só perde para Venezuela e Colômbia.
No ranking de crescimento, o Brasil cai para o meio da lista. Está na
15ª posição, com média de expansão de 3%.
— O que
essa tabela mostra é que, em termos de crescimento econômico, o Brasil
tem característica de país desenvolvido (países maduros que crescem mais
devagar). Já a inflação revela problema crônico de país de Terceiro
Mundo. Podemos sintetizar o problema pelo custo Brasil, colocando no
preço as nossas deficiências estruturais, como logística, mobilidade
urbana caótica, burocracia, tributação complexa e excessivamente
elevada.
‘CUSTO BRASIL AFUGENTA CRESCIMENTO’
O
economista ainda cita problemas de ingerência política em decisões
técnicas, o que provoca insegurança jurídica e baixo crescimento.
— Todo
esse custo Brasil afugenta o crescimento. Os Tigres Asiáticos estão à
frente do Brasil. Crescem quase o dobro, enfrentando adversidades
externas maiores que o Brasil. Na comparação com os outros, é
emblemática a nossa situação.
Essa
situação não é à toa. O processo de estabilização do Brasil combateu 30
anos de indexação (repasse para os preços da inflação passada), afirma o
decano da PUC e especialista em inflação Luiz Roberto Cunha:
— Ninguém
teve 30 anos de indexação como nós tivemos. No crescimento, tivemos
problemas sim, não evoluímos nas reformas como o Chile, a Colômbia e o
Peru (todos tiveram expansão superior à do Brasil). Eles caminharam
melhor do que nós. É claro que a complexidade da economia brasileira
também é maior.
Para
poder conviver com a inflação, foi criada a correção monetária no
período militar, que embutia, na maioria dos preços, a inflação passada.
A correção monetária foi extinta com o Plano Real.
Cunha afirma que a indexação ainda existe, atualmente causada por uma inflação renitente em 6%:
— A
demanda por indexação cristalizada em 6% é muito grande, formal e
informal. O aumento real do salário mínimo tem como contrapartida a
inflação de serviços, que está comendo parte do ganho.
O
professor da USP Heron de Carmo teme esse repasse da inflação passada
aos preços de hoje. Para ele, o governo errou ao não reduzir para 3% a
meta de inflação quando as taxas estavam perto de 4%, entre 2006 e 2007:
— A
inflação começou a subir com os choques. Agora, vivemos administrando
choques. Ainda temos o custo da taxa de juros entre as mais altas do
mundo.
Há de se
ter cuidado com as comparações, afirma Mônica de Bolle, da Galanto
Consultoria, diante de estágios diferentes de desenvolvimento entre os
países. Ela cita o exemplo da China, que deu um impulso no crescimento
com a migração da população rural para as cidades, elevando a
produtividade e o crescimento. O Brasil viveu este fenômeno com mais
intensidade nas décadas de 1960 e 1970. A economista considera boa a
média de 3% de crescimento anual, mas chama a atenção para o fato de
esta performance ter piorado nos últimos anos. Para 2014, o Relatório de
Inflação do Banco Central, divulgado semana passada, já prevê expansão
da economia de apenas 1,6%. Mas a avaliação da economista não se repete
para as taxas de inflação:
— Ficamos
mal na foto na inflação. É alta a média de 7,2%. Muito longe da meta de
4,5%. Tem havido um enfraquecimento institucional no Brasil. Isso fica
claro com a inflação muito alta. Se alguns preços não estivessem
represados, poderia estar até acima de 7,2%. Deveríamos estar hoje bem
abaixo desta média de 20 anos.
Cunha
lembra que mesmo países que sofreram com inflação alta não tinham a
tradição de indexação do Brasil, citando a quantidade de índices de
preços aqui, com os da FGV, da Fipe e do IBGE.
Mônica
afirma que Colômbia, Chile e Peru não tiveram o problema inflacionário
do Brasil, mas conseguiram adotar políticas de abertura comercial e
fazer reformas como a tributária e trabalhista:
— Quando se faz reforma estrutural, ganha-se eficiência. O crescimento sobe, e a inflação cai.
REAL: FALTA DE SURPRESA EXPLICA SUCESSO
Para Lia
Valls, especialista em América Latina da Fundação Getulio Vargas (FGV), o
Brasil se saiu bem, na medida do possível, principalmente baixando o
patamar da inflação:
— Dentro
do possível, a gente se saiu bem. Conseguimos, principalmente, sair da
âncora cambial de uma forma que não causou muito trauma na economia.
Conseguimos fazer isso de uma maneira que não a inflação não acelerou.
Depois se criou um consenso de que a inflação é algo que a gente não
deve aceitar.
Cunha
afirma que o sucesso do real veio da falta de surpresas. Num artigo em
dezembro de 1993, o professor da PUC explica cada passo do plano, com
base na divulgação oficial, ao contrário de planos anteriores, que a
população só sabia o que ia acontecer na hora.
Na
avaliação do diretor do Centro de Estudos de Conjuntura e Política
Econômica do Instituto de Economia da Unicamp, Francisco Lopreato, foi a
renegociação da dívida externa que viabilizou o sucesso do Plano Real.
Segundo ele, a experiência brasileira seguiu a de outros países da
América Latina, que conseguiram se livrar da hiperinflação após
reestruturar a dívida dos países.
— Não é
coincidência que o Plano Real só tenha ocorrido depois da renegociação.
Sem querer tirar o mérito do real, que foi um plano inteligente, o
acordo da dívida retomou o acesso ao crédito internacional, o que tornou
viável o plano.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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