Frederico Haikal/Hoje em Dia
Alerta - Mesmo medicamentos mais comuns, vendidos livremente, podem representar riscos à saúde
Hábito comum entre os brasileiros, a automedicação oferece riscos
sérios à saúde das pessoas. Dados do Sistema Nacional de Informações
Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),
apontam os remédios como causa número um das intoxicações no país.
No Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, em Belo Horizonte, mais de
uma pessoa é internada, em média, a cada dia com sintomas de
envenenamento por remédios. De janeiro a abril deste ano, foram
realizados 161 atendimentos a pacientes nessas condições. No ano
passado, o número de internações foi de 545.
Pesquisa feita no ano passado pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e
Qualidade (ICTP) revelou também que 54% dos brasileiros costumam tomar
remédios por conta própria, e 64% dos entrevistados admitiram que
descartam a ajuda do farmacêutico na hora de fazer a compra.
O que nem todo mundo sabe é que qualquer remédio, seja ele de venda
livre ou controlada, pode apresentar efeitos colaterais quando
administrado incorretamente. “Remédios só são seguros se usados da forma
certa”, alerta o vice-presidente do Conselho Regional de Farmácia de
Minas Gerais (CRF/MG), Claudiney Luís Ferreira.
Efeitos indesejados
Na lista dos mais consumidos sem indicação ou acompanhamento estão
relaxantes musculares e tranquilizantes, seguidos por analgésicos e
antigripais. Usados sem cautela, eles produzem efeitos indesejados como
constipação intestinal e dificuldade para urinar e podem levar ao
aparecimento de doenças crônicas, como a hipertensão arterial.
“O ideal é que a pessoa não tome remédio mesmo que o considere
inofensivo. É preciso consultar um médico de confiança e ter certeza de
que o medicamento está sendo corretamente administrado”, explica a
toxicologista Patrícia Drumond Ciruffo, do Centro de Informação e
Assistência em Toxicologia (Ciat) do HPS João XXIII.
A engenheira ambiental Marcela Poletto Vilas Boas, de 31 anos, segue à
risca a recomendação. “Raramente uso remédio. Se estiver gripada, por
exemplo, recorro primeiro aos chás naturais. Só se os sintomas persistem
ou se vejo que é algo mais sério é que procuro um médico”, diz.
Em 2011, conforme o Sinitox, os medicamentos responderam por 30% dos
29.105 casos de intoxicação registrados no país. Em segundo lugar, com
5%, ficaram os agrotóxicos.
Na próxima segunda-feira, Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos,
o CRF/MG realiza uma campanha educativa nas estações do metrô e do Move
da região central da capital. Farmacêuticos, professores universitários
e estudantes de Farmácia estarão nos locais, das 8h às 16h,
distribuindo cartilhas informativas e tirando dúvida sobre o uso de
remédios.
Bactérias resistentes pelo uso de antibióticos
Cada vez mais propagada entre a população adulta, a automedicação
colocou em alerta a Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo a
entidade, o uso inapropriado de antibióticos é uma das principais causas
da resistência de bactérias.
Considerados um dos pilares da saúde humana, os antibióticos, em função
do uso inapropriado, têm se tornado ineficazes. Um relatório feito pela
OMS, baseado em dados de 114 países, alerta para a resistência a vários
agentes infecciosos e insiste em sete bactérias resistentes.
Ao longo dos anos, sem eficácia, os tratamentos não surtirão efeito e
levarão à morte dos pacientes. Segundo a OMS, os resultados “muito
preocupantes” corroboram a resistência aos antibióticos, em particular
aos considerados como “último recurso”, utilizados contra certas
bactérias resistentes.
A contribuição individual diz respeito ao uso dos remédios apenas com receita e à conclusão do tratamento indicado pelo médico.
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