Alegorias criadas por parintinenses são usadas em escolas do Rio e SP.
80% dos artistas dos bois de Parintins trabalham no carnaval, diz um deles.
Esculturas feitas por artistas de Parintins são usadas em alegorias de várias escolas de samba (Foto: Pedro Gadelha/Divulgação)
Quem passa pela orla de Parintins durante o Festival Folclórico,
realizado no mês de junho no município - a 369 km de Manaus -, pode
encontrar os trabalhos do artista plástico Emerson Pacheco à venda em
uma pequena banca montada por ele todos os anos. No local, esculturas de
animais amazônicos em miniatura são comercializadas logo às margens do
rio Amazonas.
Quem compra os souvenires, talvez nem imagine que pode ver obras do
parintinense em escala bem maior. A produção de Emerson e de dezenas de
seus conterrâneos encanta principalmente pelo realismo. Os parintinenses
são conhecidos por criarem alegorias cheias de movimento e efeitos
especiais. Elas podem ser vistas nas apresentações dos bois Caprichoso e
Garantido, ou nos desfiles das escolas samba do Rio de Janeiro, São Paulo, Manaus e outras cidades de todo o país. Rossy, atualmente é vice-presidente do Boi-bumbá Caprichoso. Mesmo assumindo um cargo de gestão no bumbá, ele consegue tempo para administrar sua equipe, composta por 30 artistas, distribuídos entre as escolas de samba Beija-flor, Mangueira, Portela, Grande Rio e São Clemente. "Não é apenas o artista. Parintins hoje conta com verdadeiros profissionais polivalentes. São projetistas em 3D, desenhistas, escultores, aderecistas. Eu já fiz 12 carnavais consecutivos, sempre fazendo as mesmas escolas", revela.
Carlos Lopes é conhecido como 'Carlinhos de
Parintins' nos galpões das escolas de samba
(Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)
Além das esculturas cheias de realismo, a presença de movimentos,
iluminação e até mesmo água são características das alegorias criadas
pelos profissionais do Amazonas. Para o artista Carlos Lopes, conhecido
como Carlinhos de Parintins, os grandes desfiles das escolas de samba não seriam os mesmos sem a interferência parintinense.Parintins' nos galpões das escolas de samba
(Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)
"Seriam diferentes, mais não os mesmos. Acho que o Carnaval sem a arte parintinense já é fantástico. Com Parintins, então, é um espetáculo. Assim como o Festival de Parintins ganhou muito com o talento dos cariocas nos efeitos de iluminação, a tecnologia cabocla dos parintinenses, quase sempre, traz um destaque especial para as escolas de samba. Ver um carro alegórico estático, sem movimento não é a mesma coisa que visualizar uma alegoria articulada, com um bom revestimento, simulando quase um ser vivo. Além disso, conseguimos deixar as alegorias mais leves e reduzir o custo nos materiais cerca de 30% menos, o que faz uma grande diferença. Quando conseguimos realizar um bom trabalho, fazendo o público ser capaz de aplaudir a alegoria passando, é uma gratificação sem tamanho. Por isso agradeço sempre o espaço que as Escolas de Samba nos dão para mostramos nosso trabalho, para aprendermos e contribuirmos com a história do carnaval", disse ao G1.
Carlinhos conta que começou a trabalhar para escolas de samba em 1998. Em São Paulo, ele realizou trabalhos na Nenê de Vila Matilde, Império de Casa Verde e Acadêmicos do Tucuruvi. Já no Rio de Janeiro, começou a trabalhar em 2007 e já fez alegorias da Grande Rio, Império Serrano, Mangueira e Rocinha. Atualmente trabalha no Salgueiro.
Alegoria do artista de Parintins Rossy Amoedo em desfile da Beija-flor, no Rio de Janeiro (Foto: Pedro Gadelha/Divulgação)
Os artistas relatam que o ritmo de trabalho é intenso nos barracões das
escolas de samba. Segundo eles, a remuneração financeira é boa, mas
trabalhar nas escolas é um aprendizado."Se pensarmos no aprendizado, ganhamos muito. Mas em termos econômicos, nem tanto. (...)Quando chega mais próximo ao carnaval é quando é liberado as verbas de incentivo para as escolas de grupos e blocos, a demanda por mão de obra especializada fica muito concorrida. O contrato de cada profissional varia, dependendo da sua especialidade, da experiência e de suas referências em outros trabalhos. Na nossa equipe por exemplo, um ajudante ainda em formação técnica ganha em torno de R$ 2 mil ao mês, mínimo. Dependendo do trabalho, e do tempo de execução, os valores aumentam bastante. Nos últimos anos passamos a formar nossos profissionais, trabalhando em parcerias contínuas com alguns cariocas, além de apostar em novos talentos vindos de Parintins. Jovens aos quais repassamos os conhecimentos técnicos e nossas experiências e que já começam a formar suas próprias equipes", conta Carlos.
Artista de Parintins, Emerson Pacheco, trabalha na Vai
Vai de São Paulo (Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)
Para confecção dos trabalhos, segundo os artistas, é preciso dividir o
ano entre o período de trabalho para o festival e os meses destinados ao
carnaval. "Trabalhamos geralmente das 9h da manhã até as 23h a semana
inteira pra poder dar conta. Dependendo da proximidade da data. É
puxado, mas vale apena", conta Emerson, que trabalha como escultor na
escola Vai Vai de São Paulo e conheceu o carnaval em 2010, quando foi
convidado para trabalhar em Porto Alegre.Vai de São Paulo (Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)
Mesmo cientes da interferência positiva no carnaval, os profissionais de Parintins acreditam que as duas festas saem ganhando com o intercâmbio entre as cidades. "O aprendizado que o carnaval me trouxe, tanto como ser humano quanto como profissional, me deu uma estrutura de como conduzir melhor as coisas. Estou como vice- presidente do Caprichoso. Esse aprendizado está sendo empregado diretamente em Parintins. Não é um retorno só financeiro ", disse Rossy.
Rossy Amoedo, coordena uma equipe de 30 pessoas no carnaval (Foto: Pedro Gadelha/Divulgação)
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