Profissionais visitaram postos do Recife, Jaboatão e Vitória de Santo Antão.
Experiência faz parte do treinamento que os profissionais estão fazendo.
Médico brasileiro Rodrigo Arruda mostra unidade de saúde do Ibura, no Recife (Foto: Katherine Coutinho / G1)
Um grupo de sete médicas cubanas do programa 'Mais Médicos' visitou,
nesta sexta-feira (30), a Unidade de Saúde da Família da UR-03, no Recife,
onde trocaram experiências com a equipe local e tiveram a possibilidade
de conhecer mais de perto como funciona o atendimento. Durante a
visita, as médicas afirmaram que os dois sistemas de saúde – o de Cuba e
do Brasil – são muito parecidos.A visita faz parte do programa de capacitação dos médicos. Os 116 estrangeiros que estão tendo aulas em Vitória de Santo Antão se dividiram em 23 grupos para visitar unidades de saúde no Recife, em Jaboatão dos Guararapes e em Vitória.
As médicas conversaram com a equipe da unidade de saúde, que ficou responsável por explicar como funciona o atendimento e a dinâmica cotidiana, tirar dúvidas sobre prontuários, formulários do Sistema Único de Saúde (SUS), além de conhecer as instalações. “Aqui no Recife, escolhemos para visitar unidades que já têm experiência em receber alunos e residentes, essa unidade do UR-03 é uma das credenciadas no programa de residência de Saúde da Família”, detalha o tutor do programa, o médico e professor Rodrigo Cariri.
Médicas cubanas conversam sobre família e trocam
experiências. (Foto: Katherine Coutinho / G1)
Já tendo atuado na Gâmbia e em Honduras, a médica cubana Ludmila
Calsado conta que se sente preparada para começar a atender. “O sistema
brasileiro de saúde é muito parecido com o que temos em Cuba, embora
tenha algumas diferenças. Nós gostamos de resolver os problemas do
paciente logo, assim que chegam para nós. Sabemos que aqui existem os
encaminhamentos [para os especialistas]. Já nos disseram para ter calma,
que não podemos implementar aqui nosso sistema”, afirma Ludmila.experiências. (Foto: Katherine Coutinho / G1)
Mãe de um jovem de 25 anos, Ludmila conta que a saudade é grande, mas a sensação de dever a cumprir também é. “Durante essa semana, foram muitas horas de estudo e troca de experiências com os outros médicos. É uma preparação em tempo integral mesmo”, detalha. O português, ainda falado com algumas dificuldades, não deve ser empecilho. “Eu entendo muito bem a língua, falar é que ainda falta um pouco de prática, mas não vai ser problema”, garante.
A médica afirmou ainda não está preocupada com a polêmica do salário ou ainda o possível preconceito de parte da classe médica. “O povo brasileiro precisa de médicos e estamos aqui para ajudar. Espero que percebam que não viemos competir com ninguém. Meu salário está em Cuba para minha família e eu estou aqui cumprindo minha missão de ajudar”, ressalta.
Geraldina espera que, além de médicos, investimentos
cheguem aos postos (Foto: Katherine Coutinho / G1)
Já tendo atuado na Venezuela, Larissa Alonso também se mostrou
tranquila diante das críticas. “Às vezes, tem uma resistência quando
chegamos, mas não nos afeta. Depois, acabam nos aceitando”, conta
Larissa. A possibilidade de falta de estrutura em nada assusta a médica
cubana. “Mesmo sem condições, vamos buscar fazer um bom trabalho. Viemos
cuidar das pessoas”, aponta.cheguem aos postos (Foto: Katherine Coutinho / G1)
Recepção
A dona de casa Gláucia Porto fez questão de acordar cedo para recepcionar as médicas, mesmo sabendo que as profissionais vão ficar em postos que não têm médicos. “Elas vêm para somar, não é mesmo? Aqui não falta médico, mas sei como é duro. Antes desse posto aqui na UR-03, eu tinha que ir de madrugada para pegar ficha no UR-01. O que falta aqui às vezes é remédio, o banheiro não funciona...”, conta Gláucia.
Há quase vinte anos atuando como agente de saúde comunitária, Geraldina Lustosa espera que a vinda dos médicos estrangeiros signifique um avanço nos problemas estruturais do sistema de saúde. “Vai ter um choque cultural, lógico, mas acho que temos muito a aprender com eles e eles com a gente. A grande defasagem vai vir do próprio sistema. Não temos cota suficiente para exame e a fila para encaminhar para especialista é grande. O básico, esses médicos vão poder fazer, mas eles vão ter que enfrentar os mesmo limites que nós já enfrentamos”, aponta Geraldina.
Gláucia fez questão de dar boas vindas às médicas
cubanas. (Foto: Katherine Coutinho / G1)
Apesar dos desafios, a agente de saúde acredita que os médicos vêm para
contribuir, principalmente nas comunidades em que há resistência dos
profissionais locais. “A gente sabe que tem falta de médico nesses
postos de comunidade, principalmente onde tem mais violência. Qual é o
médico que quer se arriscar, mesmo sabendo que geralmente ninguém mexe
com médico? A gente precisa de muito médico, no [posto] UR-02 e no
[posto] Josué de Castro está faltando, e também precisamos de técnico de
enfermagem. A daqui do posto está de licença e não tem ninguém para
substituí-la”, explica.cubanas. (Foto: Katherine Coutinho / G1)
Registro temporário
Os médicos do programa devem fazer mais uma visita aos postos na próxima sexta (6). Os profissionais devem começar a atuar nos postos para os quais vão ser designados no dia 16 de setembro. Para isso, o Ministério da Saúde e a Advogacia Geral da União estão trabalhando para providenciar o registro provisório. “Na carteira profissional desse médico vai estar especificado que é para atuação no 'Mais Médicos'. Vamos ter uma fiscalização intensa para garantir que eles trabalhem apenas para onde foram designados. Esse registro não permite a atuação em hospitais particulares, por exemplo”, explica o secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mozart Sales.
Estão sendo providenciados identidade de estrangeiro junto à Polícia Federal, Cadastro de Pessoa Física (CPF), conta em banco, entre outros documentos, para poder dar entrada junto ao Conselho Regional de Medicina no registro provisório. “Ao passo que a documentação vai ficando pronta, vamos encaminhando para o conselho, que tem até 15 dias para deferir o pedido”, aponta Sales, que reforçou que a fiscalização será intensa. “Vamos cobrar a carga horária desses médicos, além do CPF deles ficar bloqueado. Não vai ser possível que um desses médicos seja realocado para cobrir outros médicos em outros postos de saúdes”, detalha.
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