Bruno Boghossian
Folha
Lula se preparou para um primeiro ano de sufoco na economia. Antes de subir a rampa, o petista correu atrás de oxigênio extra e negociou uma turbinada dos gastos do governo. Na mesma época, abriu uma guerra com o Banco Central para tentar driblar o aperto dos juros.
A largada do mandato foi de apreensão no Planalto e na Fazenda. O receio era que a frustração com a economia contrariasse um eleitorado que ouviu promessas de uma recuperação quase instantânea. Agora, o clima nesses gabinetes mudou.
ALÍVIO NO PREÇOS – A equipe de Lula não espera uma bonança milagrosa, mas acredita que vai atravessar 2023 com um respiro. Um alívio nos preços, a aposta no corte dos juros, o efeito das despesas sociais e uma boa dose de sorte podem permitir ao petista terminar o ano com bons dividendos políticos.
Uma fatia do otimismo se deve a fatores externos. A alta da produção de alimentos e uma demanda internacional menor seguraram preços de produtos que afetam o bem-estar do eleitor. Os combustíveis e o dólar sob controle completam o pacote da inflação em queda e tornam um corte de juros inevitável.
O atoleiro ainda é feio porque a produção e o emprego patinam, mas algumas boias de salvação do governo (Bolsa Família, Desenrola, salário mínimo) podem oferecer uma sobrevivência um pouco menos penosa para os mais pobres, em particular.
DEIXAR A MARCA – Lula não vai desperdiçar a chance de deixar sua marca. Deve atrelar o possível conforto do eleitor aos programas do governo e bater bumbo para uma queda dos juros (ainda que não tenha de fato dobrado o BC).
O cenário está na conta de investidores que, aos poucos, amenizam o discurso de que Lula 3 produzirá desgraças do início ao fim. O próximo reflexo pode aparecer no mundo político, que costuma se abrir para governantes em dias de sol.
A previsão melhorou para a primeira metade do mandato, mas os anos seguintes dependem de um aumento de investimentos e alguma reforma. O contrafilé parece garantido, mas Lula precisa ir atrás da picanha.
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