Tratamento com as células CAR-T, que fez paciente em SP ter remissão completa de um linfoma, tem limitações de eficácia contra tumores sólidos e riscos de efeitos colaterais graves, explica especialista americana
1 dia, 10 horas e 42 minutos
Por Fabiana Cambricoli
A terapia com células CAR-T, que fez um paciente com quadro avançado de linfoma ter remissão completa da doença ao ser tratado pela USP e pelo Instituto Butantan, se mostra como uma das mais promissoras apostas da ciência contra o câncer, mas (pelo menos por enquanto) tem limitações que impedem que ela seja eficaz e segura para todos os pacientes e tipos de tumor.
Nesse tipo de tratamento, linfócitos (um tipo de célula do sistema imune) do próprio paciente são coletados, modificados geneticamente e, em seguida, reinseridos no corpo do doente para atuar no reconhecimento e combate ao tumor.
A terapia tem mostrado respostas surpreendentes contra os cânceres hematológicos ou do sangue (leucemia, linfoma e mieloma múltiplo), mas ainda não avançou igualmente contra os tumores sólidos, conforme explicou, em entrevista ao Estadão, Yvonne Chen, professora da Universidade da Califórnia e líder de um laboratório na instituição americana que desenvolve terapias celulares contra doenças hoje consideradas intratáveis.
Yvonne foi uma das palestrantes do encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO, na sigla em inglês), maior congresso de oncologia do mundo, realizado em Chicago na última semana e acompanhado pelo Estadão. No evento, especialistas de todo o mundo discutiram o futuro da terapia com células CAR-T e como reduzir possíveis efeitos colaterais graves do tratamento.
Atacar tumores sólidos é desafio
A professora americana explicou que uma das principais dificuldades de alcançar os mesmos bons resultados da terapia também contra tumores sólidos é a falta de um “bom alvo” nesses tipos de câncer.
“As células CAR-T são projetadas para atingir antígenos específicos, ou seja, proteínas que ficam na superfície das células tumorais. Um antígeno ideal é aquele expresso nas células tumorais e não expresso em tecidos saudáveis. Tivemos muita sorte em encontrar bons marcadores para os tumores hematológicos, mas o mesmo não pode ser dito sobre alvos que foram testados em tumores sólidos e que fizeram as células CAR-T atacarem células do coração ou do pulmão do paciente e ele morrer”, disse a especialista.
O segundo maior desafio, de acordo com a professora, é o reconhecimento das células tumorais por parte das células T no caso dos cânceres sólidos. No caso dos tumores hematológicos, esse reconhecimento é mais fácil porque as células cancerígenas e os linfócitos T estão “no mesmo espaço”, ou seja, no sangue, nos linfonodos, no sistema linfático.
“No caso dos tumores sólidos, eles não estão no mesmo espaço e há alguns que chamamos de tumores frios imunologicamente porque eles não mandam sinais para o sistema de defesa combatê-los, então as células T não conseguem chegar porque não recebem esse sinal. Isso acontece com o câncer de pâncreas, por exemplo”, diz.
Mesmo quando as células T conseguem identificar onde o tumor está e qual é o alvo a atacar, há uma terceira dificuldade: manter essas células funcionais quando elas tentam se infiltrar no tumor. “O tumor sólido é uma massa e imunossupressora. Uma vez que as células T se infiltram para combater esse tumor, não é fácil mantê-la funcionando naquele ambiente.”
Apesar das dificuldades, ela diz se “manter otimista” sobre a possibilidade de uso dessa terapia em tumores sólidos porque alguns estudos recentes começam a mostrar boas respostas em doenças como gliomas, um tipo de tumor no cérebro, e neuroblastomas, câncer infantil que se origina no sistema nervoso central. “Ainda há esperança, precisamos saber as dificuldades para conseguir pensar em soluções.”
Fonte: Estadão conteúdo
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