BLOG ORLANDO TAMBOSI
O que as duas autoras criticam, e de forma fundamentada, é a prática crescente de transformar crianças em cobaias de um experimento social cujas consequências só aparecerão lá na frente. Luciano Trigo para a Gazeta do Povo:
Céline
Masson é psicanalista, professora universitária e coordenadora da
coleção de livros “Questões sensíveis” sobre psicologia e ideologia, com
ênfase em temas relacionados a sexo e gênero. É também diretora do
Observatório de Discursos Ideológicos sobre Crianças e Adolescentes e de
uma rede de pesquisa sobre antissemitismo. Colabora regularmente na
imprensa francesa.
Carolina
Eliacheff é médica especializada em psiquiatria infantil, pesquisadora
de transtornos psicológicos que afetam o corpo e autora de diversos
livros sobre psicologia familiar. É também psicanalista e coautora do
livro O tempo das vítimas (2009).
Reconhecidas
em suas áreas como profissionais de prestígio, as duas se uniram para
escrever um livro que contesta duramente certa narrativa da ideologia de
gênero, que parte da grande mídia vem se empenhando em apoiar: A
fábrica de crianças transgênero: Como proteger nossos filhos da moda
trans. Lançado na França em 2022, a obra acaba de ser traduzida na
Espanha, com grande repercussão.
Naturalmente,
antes mesmo de se inteirar do conteúdo do livro, as milícias
progressistas do ódio do bem acusaram as duas psicanalistas de
transfobia. Em uma entrevista à revista “L’Express”, Céline foi
cirúrgica: “A acusação de transfobia é um método de intimidação”, usado
por aqueles que “fogem do debate e não aceitam contestação”. Conhecemos
bem esse método no Brasil.
Masson e Eliacheff não são moralistas nem preconceituosas. Elas não negam, evidentemente, a existência da disforia de gênero: sempre existiram pessoas que não se identificam com seu sexo biológico, desde a Grécia antiga e provavelmente antes disso.
Elas
admitem mesmo que, em alguns casos, podem ser indicados, em indivíduos
adultos, procedimentos hormonais e mesmo cirúrgicos para aliviar o
sofrimento mental dessas pessoas. “Adultos são livres para fazer o que
quiserem. O que nos preocupa são as crianças e adolescentes, que vêm
sendo colocados a serviço de uma bandeira ideológica”.
Acrescento:
nenhum adulto pode sofrer discriminação por suas escolhas, se feitas de
maneira responsável, consciente dos riscos e sem prejudicar ninguém.
Ninguém,
de forma alguma, pode ser prejudicado em função de sua orientação
sexual (o que implica dizer, também, que ninguém, de forma alguma, pode
ser beneficiado em função de sua orientação sexual: a aspiração à
verdadeira igualdade é diferente da aspiração a trocar de lugar com o
opressor - vício que parece presente em certas agendas identitárias).
O
problema não está nas escolhas dos adultos, o problema são as crianças.
Aliás, esta é uma fronteira que a imensa maioria dos brasileiros não
admite que seja ultrapassada – o que parte da militância progressista
parece ter dificuldade para compreender.
Céline
e Caroline decidiram escrever A fábrica de crianças transgênero após
assistirem ao documentário Petite fille (“Menina”), de Sébastien
Lifshitz, exibido na televisão francesa. “O que nos chamou a atenção foi
a forma como o filme retratou Sasha, um menino de 8 anos que, segundo a
mãe, manifestou desde muito cedo o desejo de ser menina”.
“O
documentário promove a identidade trans em crianças. Trata-se de um
filme militante, de propaganda de identidade trans mesmo, uma ‘brilhante
ode à liberdade de ser você mesmo’, como escreveu o crítico da
‘Télérama’”, afirmam Céline e Caroline. “Mas qual é o recado do cineasta
ao dar a entender que um menino de 8 anos pode virar menina desde que
seja esse o seu desejo, e com aprovação de médicos?”
(Isso
sem mencionar o fato de que todos os adultos envolvidos no filme,
incluindo os médicos, não tiveram o menor pudor em expor uma criança de 8
anos para defender uma bandeira.)
Elas
prosseguem: “Nós distinguimos a verdadeira disforia de gênero -
extremamente rara - do que chamo de ‘utopia de gênero’, que decorre de
uma influência ideológica exercida por meio das redes sociais”.
Muitos
jovens, afirmam as autoras, são levados a “acreditar em maravilhas”, em
sua busca de identidade e de superação de um mal-estar em relação ao
seus corpos que pode ser natural e passageiro na adolescência: “São
muitos os influenciadores trans que narram no Instagram, no YouTube e no
Tiktok as delícias da mudança de sexo, quando não incentivam
diretamente a mutilação”.
Ou
seja, o que as duas autoras criticam, e de forma fundamentada, é a
prática crescente de transformar crianças em cobaias de um experimento
social cujas consequências só aparecerão lá na frente.
Aliás,
como elas lembram, diversos países, como a Suécia e a Finlândia, já
estão voltando atrás nesse experimento, proibindo, por exemplo, o uso de
bloqueadores de hormônios sexuais em menores de 16 anos – ainda
permitido em muitos países, incluindo a França.
Parece
óbvio – mas vivemos em uma época na qual o óbvio precisa ser dito – que
crianças e adolescentes costumam atravessar períodos de angústia que
fazem parte do processo de amadurecimento e de afirmação de sua
identidade (de sua identidade sexual, inclusive). Igualmente óbvio é o
fato de crianças e adolescentes não terem o discernimento necessário
para decidir fazer tratamentos químicos e cirúrgicos irreversíveis para
“trocar de sexo”.
A
febre da transição de gênero entre crianças e adolescentes só é
possível em um ambiente no qual adultos – incluindo médicos, pais e
professores – aderem ao projeto de naturalização da ideia de que a
biologia não importa, de que tudo não passa de uma construção cultural,
sendo portanto normal e até desejável que crianças e adolescentes
experimentem de tudo, antes de decidir a qual sexo pertencerão, e qual
será sua orientação de gênero.
Apoiada
por parte da grande mídia e da academia sabe-se lá com que interesses,
essa agenda é extremamente perigosa, segundo as autoras de “A fábrica de
crianças transgênero”. Não se sabe quais serão os efeitos a longo
prazo, em termos de saúde mental inclusive, para os milhares de crianças
e adolescentes que vêm sendo estimulados a acreditar que a solução para
os seus problemas está em mudar de sexo.
“São
experimentos em jovens perfeitamente saudáveis que não se baseiam em
critérios científicos”, afirmam Céline e Caroline. “Existem dois sexos, e
não 36. E não é verdade que você pode mudar de sexo. Só podemos mudar
nossa aparência, graças aos hormônios e à cirurgia”.
Isso
sem falar na tentativa de impor à sociedade, na marra, mudanças na
própria linguagem: "O ativismo trans busca impor a ideia de que as
chamadas mulheres 'cis' são apenas uma subcategoria do feminino. Estamos
assistindo a uma eliminação da palavra 'mulher' do vocabulário, para
não ofender a sensibilidade de uma pequena minoria".
"Em
dezembro de 2020, a Secretaria de Planejamento Familiar ousou chamá-las
de 'pessoas que têm útero'. Nos Estados Unidos, esse apagamento vai
ainda mais longe: não devemos mais dizer 'pregnant woman' ('mulher
grávida'), mas apenas ‘grávida’."
Postado há 3 days ago por Orlando Tambosi
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