Eles
supõem que aqueles que não compartilham suas doutrinas ou seus dogmas
não se importam com o bem-estar daquilo que eles afirmam promover.
Theodore Dalrymple para a Oeste:
Se
tem uma coisa com que os ambientalistas parecem não se importar é com o
meio ambiente. Pelo menos se o meio ambiente incluir seu aspecto
visual, como certamente deve ser o caso. Eles se importam tão pouco com
essa questão que seria possível supor que essas pessoas acreditam que o
sentido da visão é tão desimportante para o ser humano quanto é para as
toupeiras. Os olhos dos ambientalistas foram substituídos por sensores
de gás carbônico: eles sabem quanto dióxido de carbono existe na
atmosfera, mas não notam a absoluta feiura do que instalaram para salvar
o planeta.
Em
Paris, a prefeita socialista Anne Hidalgo, que faz parte de uma
coalisão com aqueles que se autointitulam os Verdes, está tão empenhada
em encorajar os ciclistas e desencorajar os motoristas que solicitou que
as ciclovias fossem isoladas por muitos quilômetros das ruas
parisienses por horrendos blocos de concreto e postes de plástico sujos.
De um só golpe, ruas que costumavam ser elegantes ou charmosas foram
transformadas em favelas visuais.
Nem
é preciso dizer que os blocos de concreto atraíram pichações como ímãs
atraem limalhas de ferro. E é extremamente improvável que as emissões
dos veículos motorizados tenham sido reduzidas. Na verdade, é uma
punição aos motoristas, uma vez que as ciclovias congestionaram tanto as
ruas que os veículos agora passam o dobro de tempo em engarrafamentos.
Mas, claro, o que conta para os ideólogos é a pureza de suas intenções.
Eles querem que o mundo se torne menos poluído, então suas ações
precisam produzir isso.
Londres
não está melhor. Recentemente, fiquei preso duas vezes, por um total de
50 minutos, em congestionamentos em uma movimentada via pública, porque
uma pista larga tinha sido fechada e reservada para o uso dos
ciclistas. Durante 50 minutos, vi um motociclista usar a via, o que
incidentalmente atraiu palavrões da mesma forma que os blocos de
concreto atraíram a pichação. É dessa forma que os ambientalistas querem
salvar o planeta. Percorri os últimos metros do meu trajeto a pé,
porque era mais rápido andar do que continuar no táxi.
O desenho criminalmente incompetente de Brasília
Cada
vez mais o campo, até mesmo nas regiões mais bonitas da Inglaterra e da
França, está sendo tomado por turbinas de vento terrivelmente feias.
Elas estão se tornando não só mais numerosas, mas ainda maiores: o plano
é que algumas cheguem a 240 metros de altura. É difícil não ver nisso
uma aliança entre os ideólogos da ecologia e os lobistas corruptos e
corrompíveis da indústria.
Pessoas
comuns, que vivem no entorno, abominam as turbinas eólicas que pairam
sobre elas como monstros malignos, impossíveis de ignorar ou retirar do
campo de visão, que fazem um barulho horrível e matam o que resta da
avifauna. Além do mais, está longe de ser uma certeza que elas reduzam
as emissões de carbono. Foi estimado que as turbinas de vento na França
não funcionam a mais do que um quarto de sua capacidade porque o vento
não sopra o tempo todo. Consequentemente, o fornecimento de eletricidade
precisa ser garantido por outras formas de geração de energia, cuja
substituição era o propósito das turbinas. Sem contar o custo ambiental
de fabricar essas coisas horríveis. Mas, mais uma vez, seu aspecto
visual e sua profanação da beleza não contam para os ambientalistas.
Para eles, a beleza não significa nada. A pretensa redução de monóxido
de carbono significa tudo.
Como
todos os ideólogos, os ambientalistas supõem que aqueles que não
compartilham suas doutrinas ou seus dogmas não se importam com o
bem-estar daquilo ou daqueles que eles afirmam promover. Assim, se você
fizer objeções às turbinas de vento ou aos blocos de concreto que
protegem as ciclovias, eles supõem que você seja a favor da poluição
industrial. Mas, na verdade, as únicas pessoas que já foram a favor
dessa poluição eram os comunistas de antigamente. Em sua iconografia,
eles viam fábricas expelindo fumaça preta no horizonte (do que, de outra
forma, seria uma paisagem rural) como um sinal de progresso. Talvez não
seja uma surpresa que, em pouco tempo, eles tenham conseguido erigir
fábricas cujo principal produto parecia ser a poluição, uma vez que os
bens que elas manufaturavam não eram desejados por qualquer pessoa que
tivesse uma alternativa.
Sou
a favor do transporte público e tento fazer uso dele sempre que
possível. Não só porque ele é menos poluente, mas porque ele melhora a
qualidade de vida das pessoas, especialmente as pobres. Uma das coisas
que me escandalizam sobre o desenho criminalmente incompetente de
Brasília é a necessidade que ele impõe às pessoas de usar transporte
motorizado para ir a quase qualquer lugar ou fazer quase qualquer coisa.
Isso destrói os prazeres da vida urbana, transforma a cidade em um
subúrbio sem centro e acaba com a espontaneidade.
As grossas lentes da ideologia
Vivemos
em uma era de ideias. E, infelizmente, elas costumam ser ruins. Um
intelectual moderno pode ser definido como alguém que segue as próprias
ideias até sua reductio ad absurdum, até sua desastrosa conclusão. Mas,
em vez de se dar conta de que deve haver algo errado com suas premissas
ou sua lógica, ele continua acreditando nessas ideias. Isso permite que
supervalorize suas intenções em comparação com as consequências — e
quase todo mundo acredita que suas próprias intenções são boas.
Pensei,
equivocamente, que o colapso da União Soviética (o que não significou a
queda da KGB, mas o oposto, uma vez que seus membros foram bem
posicionados para tomar o poder) colocaria um fim à ideologia como tal,
já que, como Solzhenitsyn salientou, foi a ideologia que produziu a
grande catástrofe. O que não antecipei com o fim da Guerra Fria é que
não apenas os monopólios estatais no antigo mundo comunista seriam
desmontados (e em grande parte vendidos para membros da antiga
nomenklatura), mas que a ideologia no mundo ocidental também seria
desmontada e, por assim dizer, balcanizada, quando não privatizada. Em
vez de uma grande ideologia — o marxismo (ainda que ele tivesse
variações) —, que atraiu os jovens de boa formação em busca de um
sentido para suas vidas, agora temos muitas: da ecologia à
transexualidade, passando pelo antirracismo, pelo feminismo e pelo
islamismo.
No
caso dos ecologistas, desconfio que eles não vejam as turbinas de vento
e os blocos de concreto. Ou talvez, para adaptar o grande insight de
Sherlock Holmes, eles vejam, mas não enxerguem. Ou talvez tenham lentes
ideológicas tão grossas que a realidade mais evidente não consiga chegar
a seus olhos.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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