BLOG ORLANDO TAMBOSI
A crônica semanal de Alberto Gonçalves, publicada pelo Observador (o blogueiro lembra que Portugal vive ainda sob governo socialista e aqui acontece o contrário, um governo que lembra Lula às avessas, valha-nos Deus):
Posso festejar o Natal?
É
evidente que pode. Mas se, após cumprir todas as regras que se seguem,
continuar a achar que sobra alguma coisa parecida com uma festa, você
tem um problema grave.
Posso festejar a Passagem de Ano?
Poder,
pode. Mas pense melhor: em princípio, você vive em Portugal, o país do
dr. Costa, do prof. Marcelo, da dra. Graça e do vice-almirante. É
accionista compulsivo da TAP, da RTP e de portentos similares. Partilha
uma dívida pública de luxo. Paga impostos de rico. Prepara-se para
discutir com a Bulgária o primeiro lugar em nível de vida na UE,
dependendo da orientação do gráfico. De brinde, é regularmente
homenageado pelos senhores que mandam, que o obrigam a esconder a cara e
o fecham em casa quando lhes apetece. Você tem razões para festejar
todos os anos, todos os meses e todos os dias. Mas com cautela, claro.
Posso passar as festividades com a família?
Depende
da interpretação da “lei”. E depende da família. O dr. Costa, que é
quem decide, informou que passará o Natal com os parentes dele. Na falta
de melhores esclarecimentos, o mais seguro é seguir o exemplo e comer
com os parentes do dr. Costa. Afinal, você já pagou e repagou os
repastos deles.
Posso participar em ajuntamentos na via pública?
Pode,
desde que sejam de carácter político. O dr. Costa proíbe tudo excepto
arruaças de campanha. Não há qualquer problema em se aglomerarem 10 ou
100 alminhas se, à aproximação da polícia, esconderem as cervejas e
desatarem a gritar “vivas!” ao PS.
Posso participar em ajuntamentos na via privada?
Pode,
embora dê jeito residir no Convento de Mafra ou similar, já que a DGS
exige “espaços amplos”, característica incompatível com a sala de estar
do T3 médio. Também se limita o convívio a pessoas da mesma “bolha
familiar ou social”, pelo que encher a casa com desconhecidos está fora
de questão. Questão de bolhas.
Posso ir a restaurantes?
Naturalmente.
Contanto que exiba ao virologista de serviço ou ao ajudante de cozinha o
certificado com duas ou três doses de vacinação, e desempenhe na
presença do homem testes de despistagem da Covid, da tuberculose e do
HIV. Também se aconselham também análises rápidas à urina, de carácter
facultativo.
Posso ir a discotecas e a bares?
Pode
ir. Não pode é entrar porque estarão fechados. As pessoas que seguem a
“ciência” descobriram anteontem que, em contexto de pândega, as vacinas,
os certificados, os testes, as máscaras e os escafandros não protegem
do contágio, logo do internamento, do ventilador e da morte certa.
Posso vacinar-me no período das festas?
Deve.
Mas não pode: os centros de vacinação estarão fechados para descanso do
pessoal, o qual tem direito aos festejos da época – isso se os festejos
estivessem autorizados. O fundamental é perceber que a vacina, leia-se
sempre a dose da vacina que a pessoa ainda não levou, é determinante
para se regressar à normalidade e deixar para trás medidas tão cretinas
quanto as medidas importantíssimas que aqui se enumeram.
Posso duvidar da eficácia da vacina e dos testes e das máscaras sem ser chamado de “negacionista”?
Não
pode, seu chalupa. O negacionismo é um exclusivo das “autoridades”, que
ridicularizam a vacina pedindo testes a vacinados, que ridicularizam os
testes fechando os locais que os exigiam e que ridicularizam as
máscaras ao forçar imposições que desprezam a sua sacrossanta
relevância. A diferença é que ao negacionismo das autoridades chama-se
“ciência”.
Posso testar-me?
Pode,
e à bruta. Testar-se é, aliás, das raras actividades que não estão
interditas ao cidadão comum. Caso este deseje mostrar-se virtuoso, é
livre de passar a semana inteira a escarafunchar cotonetes nas narinas a
fim de demolir “as cadeias de transmissão” e a nasofaringe.
Posso exigir teste negativo e certificado de vacinação aos meus familiares?
Então
não pode? A medida até tem um efeito higiénico: os que aceitarem
tamanha vergonha provam que são tão idiotas quanto você; os que
recusarem vêem-se livres de vez de frequentar a casa de um idiota.
Posso exigir que os meus convidados tirem os sapatos à entrada?
Sim, ora essa! É o seu nariz que sentirá o cheiro – ou sentiria, caso não estivesse estrafegado à conta de sucessivos testes.
Posso vestir-me como quiser?
Isso
é que era bom. A dra. Graça impôs na DGS o “novo código de vestimenta”
(sic), que derrama para as habitações comuns. Surpreendentemente, não é a
camisa de forças. Consta de sobretudo e cachecol, a que acresce gorro,
peúgas grossas e manta nas perninhas. Isto por causa da necessidade de
ventilação: há que abrir as janelas e assegurar correntes de ar
incompatíveis com a Covid e compatíveis com a pneumonia.
Posso comer e beber?
Se
insistir muito. O ideal seria não o fazer nunca, e por dois motivos. O
primeiro é a tendência para o vírus se alojar no tecido adiposo e, em
jargão clínico, lixar os gordos. O segundo motivo é a ingestão de
alimentos ser um exercício complicado de realizar com máscara, já que
exige rapidez (levante a máscara apenas por um instante e baixe-a de
repente, a tempo de a sujar com aletria) e distância (a DGS recomenda
mesas separadas, presumivelmente uma por comensal).
Posso ir trabalhar?
Pode,
mas apenas em teletrabalho, ou seja, trabalhe a ver televisão. Se não
integrar a administração pública, aproveite os reclames e reze para um
dia destes não receber um telesalário.
Posso andar sem máscara na rua?
Para já, sim. Os “especialistas” aguardam a eventual mudança de opinião do dr. Costa para emitir um parecer.
Posso ir a concertos, jogos da bola, casamentos ou funerais?
Desde
que pague ou o convidem, sim. Leve certificado, teste negativo,
resultado da colonoscopia e, sendo um enterro, o testamento vital.
Posso trocar prendas depois do Natal?
Pode,
lá para o fim de Janeiro. Ou, preferencialmente, nos inícios de Junho.
Segundo diversos especialistas televisivos, incluindo o dr. Portas, a
Ómicron aproveita-se dos saldos para se infiltrar no intervalo entre o
preço anterior e o preço com desconto.
Posso recear a Ómicron?
É
imperativo que a receie, ouviu? Se, de acordo com recentes estudos, a
nova variante do vírus raramente provoca mais que uma constipação, é
fundamental que pelo menos provoque medo. Esqueça os estudos, realizados
por choninhas que passam o tempo em laboratórios, e atente nos
“especialistas” que não saem das televisões. Eles não falham.
Posso aguardar por mais restrições?
Pode,
e com entusiasmo se faz favor. A dra. Graça explica com uma espécie de
analogia: “Estamos a fazer uma maratona numa cordilheira, mais do que
uma maratona são várias maratonas que não sabemos quando acaba. Temos de
estar muito atentos aos sinais, às novas variantes e ao aumento de
novos casos.” Embora a direcção da DGS não se distinga nos domínios do
português e da saúde pública, é exímia a negociar alucinogénios de
categoria. Além disso, há eleições daqui a um mês, e o eleitorado
agradece enxovalhos.
Posso invocar a Constituição para ignorar esta palhaçada e viver dignamente?
Você
é parvo ou faz-se? A Constituição servia para atacar o governo do
Passos Coelho sempre que este perturbava os funcionários públicos e
outras ofensas assim vitais. Hoje, se é que ainda não faleceu, a
Constituição não serve para nada, muito menos para garantir a liberdade
dos cidadãos e picuinhices do género.
Posso esperar que, conforme previsto, a palhaçada acabe a 10 de Janeiro?
Você é de facto ignorante. Há dois anos que sabemos que isto são só duas ou três semanas.
Posso achar que nenhuma das “regras” acima é susceptível de ser respeitada por um adulto que não sofra de perturbações mentais?
Não
pode, sua anta negacionista. As “regras”, a “lei” ou a “ciência”,
conforme o que quiserem chamar às eructações do dr. Costa, são para se
cumprir, apreciar e, manda a cortesia, agradecer. Não faltava mais nada
do que questionarmos uma sumidade que diz “eurossóis”.
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