Enquanto as elites verdes se preocupam com que a produção de energia seja muito “suja”, países em desenvolvimento se preocupam em ter energia suficiente para todos. Fraser Myers, da Spiked, para a revista Oeste:
Alok
Sharma mal conseguiu conter as lágrimas. Durante o encerramento do
encontro de sábado, o presidente da COP26 declarou que “sentia
muitíssimo” por “como o processo se desenrolou”.
A
meta principal de Sharma para a COP era garantir a eliminação global de
energia gerada por carvão. Afinal, o carvão é responsável por 42% das
emissões de carbono e é muito mais poluente que outras fontes, incluindo
outros combustíveis fósseis, como petróleo e gás natural. Mas, na
última hora, a Índia e a China forçaram uma mudança no Pacto Climático
de Glasgow — de um compromisso de “eliminação progressiva” do uso de
energia de carvão para uma promessa bastante vaga de “redução
progressiva”.
Grupos
de ambientalistas estão em alvoroço. Centenas de representantes de ONGs
se retiraram na sexta-feira, depois que o texto diluído apareceu em sua
versão não definitiva. Greta Thunberg recuperou seu bordão da
conferência para repudiar as conversas como mais “blá-blá-blá”. George
Monbiot, o fatalista residente do Guardian, afirmou que o fracasso da
COP26 de livrar o mundo do carvão significa que estamos agora em “franca
luta por sobrevivência”. O ambientalista Chris Packham, sentindo-se
“furioso, assustado e traído”, denunciou “os idiotas, gananciosos e
perversos” por colocar o planeta em um perigo mortal.
De
lá para cá, Sharma tentou defender o acordo, aclamando o mesmo texto
que o tinha levado às lágrimas como “histórico” no domingo, uma vez que
se trata do primeiro acordo da COP a mencionar o carvão explicitamente.
Mas também exigiu que a China e a Índia “deem uma explicação” por
recusar sua eliminação completa.
Na
verdade, a reticência da China e da Índia de erradicar o carvão é
totalmente autoexplicativa. Elas não têm por que pedir desculpas.
Enquanto as elites verdes se preocupam com que a produção de energia
seja muito “suja”, países emergentes e em desenvolvimento se preocupam
em ter energia suficiente para todos.
Em
nível global, no ano passado o número de pessoas que não têm acesso a
eletricidade na verdade aumentou para 800 milhões — e cerca de 200
milhões delas vivem na Índia. Enquanto isso, aproximadamente 2,5 bilhões
de pessoas no mundo todo ainda cozinham com madeira, carvão ou esterco
porque não estão conectadas a uma rede de gás ou não podem cozinhar com
eletrodomésticos.
Uma
pessoa num país em desenvolvimento consome em média 50 vezes menos
eletricidade do que uma em um país desenvolvido. Tirar os países mais
pobres do globo da pobreza e permitir que eles gozem dos padrões de vida
ocidentais vai significar necessariamente um aumento drástico na
produção de energia. Essa é uma perspectiva a ser explorada, não temida.
O aumento nos padrões resultantes também vai significar um aumento na
saúde, na expectativa de vida e até um aumento na proteção contra
desastres ambientais (graças ao desenvolvimento econômico proporcionado
pelos combustíveis fósseis, o número de mortes por desastres ligados ao
clima diminuiu cerca de 99% nos últimos cem anos).
Não
é “ganancioso”, “egoísta” nem “perverso” reconhecer isso. Pelo
contrário, como Jason Bordoff, reitor e cofundador da Columbia Climate
School e ex-assessor de Barack Obama, afirmou: “Não existe forma ética
de se desviar do aumento acentuado do consumo de energia no mundo em
desenvolvimento por muitos anos vindouros”.
Em
um mundo real, distante dos sonhadores verdes reunidos na COP, atender
às demandas de energia tende a vir antes das preocupações ambientais.
Isso ficou totalmente claro algumas semanas antes da COP, quando a China
correu para reabrir as usinas de carvão para lidar com os blecautes. É
por isso que a Índia vai continuar queimando carvão e vai abrir mais
minas no futuro.
Atender
às necessidades energéticas de 1,4 bilhão de indianos não é tarefa
fácil. Mais de 70% da eletricidade da Índia atualmente é gerada por
carvão, e seu uso dobrou na última década. O carvão não é apenas
relativamente barato de extrair e queimar para obter energia elétrica,
ele também está disponível no país (a Índia tem algumas das maiores
reservas do mundo), enquanto componentes para fontes renováveis com
frequência precisam ser importados a um custo muito alto. A indústria de
carvão indiana emprega cerca de 4 milhões de pessoas e contribui de
maneira considerável com a arrecadação tributária. Além disso, as
necessidades energéticas da Índia devem aumentar muito mais do que
qualquer outra nação nos próximos 20 anos, de acordo com a Agência
Internacional de Energia. Já seria suficientemente desafiador atender às
necessidades atuais sem o carvão, quanto mais atender às do futuro.
Ainda
que muitas pessoas estejam prontas para chamar a Índia e a China de
vilãs, é uma verdade não declarada, mesmo no Ocidente obcecado pelo
clima, que garantir o fornecimento de energia elétrica no curto prazo
deve vir antes de reduzir as emissões no longo prazo. Até mesmo o Reino
Unido, que está desesperado para ser visto como líder da questão
climática, está atualmente gerando mais energia por meio do carvão do
que do vento — porque quando o vento para de soprar, ainda esperamos que
a nossa eletricidade venha de algum lugar. Também é por isso que a
Alemanha “verde” retomou a indústria do carvão em anos recentes e no
momento está queimando uma das formas mais poluentes do carvão possíveis
(é duplamente irônico que a mudança alemã para o carvão tenha sido uma
consequência direta da transição fracassada para energia renovável).
Ficar sem eletricidade é muito mais prejudicial neste momento, muito
mais apocalíptico até do que qualquer mudança climática que coloquem
diante de nós.
Nesse
contexto, são as Gretas e os Aloks Sharmas do mundo que estão sendo
muito irresponsáveis em insistir no fim do carvão. São eles que estão
sendo egoístas ao colocar suas exigências ambientais acima do padrão de
vida de bilhões de seres humanos como eles. O fracasso da COP em
controlar o uso da energia global é uma boa notícia. Ele manteve viva a
perspectiva de mais desenvolvimento humano.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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