O Congresso deveria aprovar emenda excluindo a reeleição, esse monstro criado pelo governo FHC. Murillo de Aragão para a Veja:
Faria
um bem imenso ao país o Congresso Nacional aprovar uma emenda
constitucional, que já valesse para o próximo presidente, proibindo a
reeleição para cargos do Poder Executivo. Seria um passo gigantesco para
aperfeiçoar a nossa democracia. Paradoxalmente, a decisão de acabar com
a reeleição está nas mãos de poucos brasileiros. Explico adiante.
Quando da aprovação da reeleição, acreditei que isso seria bom. Que a
estabilidade proporcionada por uma eventual reeleição do presidente
traria benefícios ao país. Mas o que aconteceu foi a distorção dos
propósitos de governo, o aparelhamento da máquina pública e o constante
monta e desmonta de ministérios. Tudo para atender a interesses
eleitoreiros.
Presidente,
governadores e prefeitos, de modo geral, governam pensando em se
reeleger. Assim, seus atos e ações miram os próprios problemas e a
criação de condições para a sua permanência no poder. A agenda nacional
mal e mal ocupa o primeiro ano e meio de mandato. Isso porque, já no
segundo ano, o presidente se preocupa com os pleitos municipais, que
servem de ensaio para a disputa presidencial. Eleições para cargos do
Executivo a cada dois anos engessam o debate em torno da agenda
eleitoral.
A
preocupação reeleitoral contribui também para a postergação da agenda
de reformas. Por ser um tema impopular, com seus resultados sendo vistos
apenas de médio a longo prazo, a pauta das mudanças estruturais perde
força de forma precoce. A reeleição dificulta ainda o gerenciamento das
coalizões. Como muitos dos partidos que são da base aliada dos governos
também possuem seus interesses, após a chamada “lua de mel” dos
presidentes, governadores e prefeitos com a opinião pública, esses
partidos começam a majorar o custo da governabilidade, principalmente
quando quem está no poder mostra fragilidades.
Portanto,
a reeleição acabou favorecendo o personalismo na política e limitando a
renovação dos quadros partidários. Sem renovação, lideranças buscam
outras legendas ou, o pior dos mundos, criam novas agremiações. O
sistema político nacional, obviamente, não atende aos interesses da
cidadania. É fragmentado e foi turbinado ao longo de décadas por doações
— por dentro e por fora — que distorcem os resultados. É um balcão de
negócios para muitos, pois faz a fortuna de alguns poucos que controlam
os botões dos gastos públicos. A possibilidade de reeleição piorou o que
já era ruim.
Em
2015, a Câmara aprovou uma emenda constitucional que, entre outras
coisas, acabava com a reeleição para cargos do Executivo. Infelizmente, a
proposta foi dividida e a parte referente à reeleição deixou de ser
apreciada. O projeto está adormecido no Senado e pode ser “ressuscitado a
qualquer momento”. Pode, inclusive, ser aprovado sem retornar à Câmara.
Enfim, está nas mãos dos senadores uma decisão que pode aperfeiçoar em
muito o nosso sistema político.
Agora,
às vésperas de eleições presidenciais, devemos refletir sobre o tema e
avaliar o dano que a reeleição para cargos do Executivo tem causado ao
país. A elite pensante, independentemente de posição ideológica, também
deve se posicionar sobre a questão e colocá-la na pauta das prioridades.
Devemos, ainda, indagar aos presidenciáveis o que eles pensam a
respeito do assunto. E, na impossibilidade de aprovar a emenda
constitucional existente, eles deveriam se comprometer a não disputar a
reeleição. Para o bem do país.
Publicado em VEJA de 17 de novembro de 2021, edição nº 2764
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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