Se a direita tivesse nas mãos a mídia, seguramente usaria expressões como comunismo, 'imbrochável' e 'bundões'. Luiz Felipe Pondé via FSP:
Imagine
abrir um jornal um dia qualquer e encontrar matérias como estas duas
abaixo. A imaginação inicial aqui fica por conta de um amigo muito
esquisito que eu tenho. Mas vamos expandir a partir daí.
Pesquisa
aponta que 78% dos paulistanos ainda cedem o lugar para mulheres no
transporte público. Analistas de relações de gênero apontam permanência
de machismo estrutural nesse comportamento. A solução, segundo
especialistas, seria alguma forma de punição a fim de chegarmos à
perfeita igualdade de gênero. Fiscais com essa missão —melhor se forem agêneros— deveriam ser apontados pelas empresas de transporte público na capital.
Um
caderno especial dedicado ao bem-estar lista cinco coisas que você pode
fazer num velório a fim de se sentir bem e elevar a energia do lugar.
Olhemos de perto essa lista para aumentar seu bem-estar.
Leve
sempre consigo no celular uma foto que lembre a você de momentos
felizes, de modo a não contaminar sua energia com a tristeza
circundante.
Vista-se
elegantemente para que as outras pessoas se sintam mais feias e mais
pobres do que você, de forma a elevar a sua autoestima. A inveja dos
outros, indicam pesquisas da neurociência, pode fazer bem à nossa
autoestima até certo ponto. Este "certo ponto" ninguém sabe ainda onde
fica precisamente.
Se
houver natureza por perto, fixe um ponto no tronco de uma árvore ou
numa folha e permaneça olhando para esse ponto sempre que alguém, por
acaso, chorar mais alto. Se não houver natureza por perto, busque na sua
memória uma praia bem legal em que você esteve e repita a operação até
fixar o olhar na imagem indicada.
Faça
uma refeição leve antes de ir ao velório. Sem proteína animal, acima de
tudo. Proteína animal pode levá-lo a ter sonhos em que você está
comendo o morto.
Se
o morto for alguém que aumenta o engajamento das suas redes, não perca a
oportunidade de tirar uma selfie ao lado dele. Se o morto for de alguma
identidade oprimida, arrisque uma frase do tipo #amogordos.
Esses dois exemplos, um sobre noções básicas de educação —ceder lugares para mulheres— tomadas como maus hábitos machistas, e outro sobre bem-estar em velórios, indicam obsessões da mídia em geral, mesmo das grandes marcas de mídia.
Se
uma nave espacial de outro planeta pousasse em São Paulo, em paz, e
marcasse uma coletiva, a primeira pergunta que a imprensa faria ao ET
seria: "O que o senhor tem a declarar sobre a transfobia?".
Mais
variações sobre o tema. Caso um serial killer de casais matasse um
casal gay em meio a casais hétero, poderíamos identificar algum traço de
homofobia na inclusão de um casal gay na sua lista de vítimas? A
imprensa escreveria sobre isso artigos longos e caudalosos.
São
obsessões, sim. Se a direita reinante tivesse nas mãos faculdades e
grandes marcas de mídia, seguramente sua infantaria usaria expressões
como "comunismo", "globalismo", "europeus querem roubar a Amazônia", "vá
tomar no cu", "imbrochável", "seus bundões".
Liberais idiotas discutem se está certa ou não a obrigatoriedade das vacinas.
Discriminação é proibir alguém de entrar num lugar por causa de raça,
religião ou sexo. Não tomar conhecimento de risco epidemiológico —e
recusar vacinas — é irresponsabilidade social e merece demissão.
Somos
obrigados a reconhecer que as obsessões da esquerda têm muito mais
verniz: epistemicídio, feminicídio, gordofobia, machismo estrutural,
branquitude e similares.
Especialistas
de mercado dirão que essas obsessões, sejam ideológicas, sejam aquelas
que buscam vender bem-estar, são explicáveis por causa da necessidade de
atrair um público mais jovem.
Como
grande parte dos jovens é cada vez mais chata e idiota, ou você fala de
alguma forma de fobia social e similares, ou dá dicas de como se sentir
bem em velórios —demos as nossas acima.
Outra
dica de bem-estar é transformar plantas em suas filhas de criação —uma
expressão claramente preconceituosa, "filhas de criação"! Claramente
contra filhos adotivos, peço desculpas. Afinal de contas, a
parentalidade —belo termo— nada tem a ver com a biologia, certo? Sim, os
idiotas venceram.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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