POLITICA LIVRE
Dois dos 17 missionários americanos e canadenses que foram feitos reféns por uma gangue no Haiti no último mês foram libertados, disse em comunicado a Christian Aid Ministries, organização que levou o grupo para o país.
Os reféns foram sequestrados em 16 de outubro pela gangue haitiana 400 Mawozo, segundo a polícia local, que pediu um resgate de US$ 1 milhão (R$ 5,61 milhões) por pessoa. O grupo foi capturado na região de Croix-des-Bouquets, a cerca de 13 quilômetros de Porto Príncipe, e é composto por 16 americanos e um canadense. Cinco crianças e seis mulheres estão entre as pessoas levadas.
Entre os sequestrados, está um bebê de oito meses. As outras crianças têm 3, 6, 14 e 15 anos de idade, segundo o governo. A Christian Aid Ministries não divulgou informações sobre quem foi libertado ou quando e como se deu o resgate.
O FBI, a polícia federal dos EUA, havia enviado para o Haiti um grupo de oficiais para auxiliar na investigação do sequestro. Em agosto, o governo americano havia recomendado a seus cidadãos não viajar ao Haiti devido à instabilidade do país e ao risco de sequestros.
Com as crises políticas e econômicas cada vez mais acentuadas, esse tipo de crime se tornou uma ferramenta comum para grupos criminosos do Haiti conseguirem dinheiro —foram ao menos 628 episódios do tipo de janeiro a setembro de 2021, de acordo com relatório do Centro Haitiano para Análise e Pesquisa em Direitos Humanos.
Segundo Gédéon Jean, diretor da organização, a gangue 400 Mawozo nasceu em Croix-des-Bouquets —”Mawozo” significa “do campo” em crioulo haitiano. O grupo começou as atividades roubando gado, até que passou a roubar automóveis e, mais recentemente, sequestrar pessoas para exigir resgates.
Em abril, dez religiosos franceses foram sequestrados por uma gangue na mesma região. Libertado depois de 20 dias de cativeiro, o padre Michel Briand disse que o grupo estava “em um lugar ruim, em um momento ruim” e que quem os sequestrou não planejou a ação.
A violência se espalhou pela capital Porto Príncipe, que já tem metade da cidade controlada por gangues, segundo estimativas.
O Haiti –primeiro país da América Latina a se declarar independente, em 1804, e acostumado a crises políticas e econômicas desde então– vive um de seus piores momentos.
Em julho, o presidente Jovenel Moïse, sob o qual recaíam acusações de autoritarismo, foi assassinado por mercenários —48 pessoas, incluindo 18 colombianos e 2 americanos de origem haitiana, foram presas. O episódio provocou protestos, com desabastecimento de suprimentos e casos de violência nas ruas.
O procurador-geral do país, Bed-Ford Claude, incluiu o primeiro-ministro, Ariel Henry, na lista de suspeitos. Segundo Claude, registros telefônicos indicavam que o premiê se comunicou ao menos duas vezes com Joseph Badio, um dos principais suspeitos de envolvimento no assassinato, na noite do crime.
Como resposta, Henry destituiu o procurador do cargo e acusou as autoridades de promoverem “manobras de distração para criar confusão e impedir que a Justiça faça seu trabalho com calma”. As eleições gerais, inicialmente programadas para setembro, foram postergadas para o final de 2022.
Além do assassinato do presidente, o Haiti viu sua situação social se agravar após um terremoto de magnitude 7,2 deixar mais de 2.200 pessoas mortas e cerca de 400 feridas em 14 de agosto.
O sismo, que atingiu com maior intensidade a parte sudoeste do país, abalou também a infraestrutura urbana. Mais de 130 mil casas tiveram a estrutura comprometida. Diante da espiral de problemas, o país virou símbolo da crise migratória na fronteira dos EUA, com milhares de haitianos em busca de refúgio.
Folha de S. Paulo
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