À medida que ferramentas e técnicas mais avançadas se tornam disponíveis, os cientistas têm sido capazes de extrair percepções novas e precisas sobre esse extermínio épico em nosso planeta e o que isso pode significar para o início da própria vida. Becky Ferreira para o NYT, com tradução para o Estadão:
A
primeira arte rupestre. O começo da agricultura. Embora esses sejam
alguns dos momentos mais cruciais do início da humanidade, nossa
história de origem mais dramática começa há 66 milhões de anos. Foi o
momento apocalíptico em que uma rocha do espaço sideral se chocou com a
Terra, encerrando a era dos dinossauros e, por fim, oferecendo um farto novo mundo aos nossos ancestrais mamíferos.
Por
40 anos, os cientistas estudaram a história desse objeto catastrófico,
conhecido agora como o asteroide Chicxulub. Hoje, o impacto representa
mais do que apenas um dia ruim na Terra; tornou-se uma espécie de Pedra
de Roseta que pode decifrar enigmas mais profundos sobre as origens da
vida e o futuro da civilização humana, tanto em nosso planeta quanto em
outros mundos da galáxia.
“O
evento do impacto de Chicxulub modificou completamente a evolução
geológica e biológica do planeta Terra”, disse David Kring, geólogo
planetário que lidera o Centro para Ciência e Exploração Lunar em
Houston e fez parte da equipe que anunciou a descoberta da cratera do
impacto de Chicxulub abaixo da Península de Yucatán, no México, em 1991.
“Essa é uma grande história científica com apelo popular porque
extinguiu os dinossauros e limpou a área, se você quiser, para a
evolução dos mamíferos que levou aos humanos, ela vai cativar tanto a
comunidade científica quanto o público nos próximos anos.”
Por
décadas, os cientistas discutiram sobre a causa da morte dos
dinossauros. Erupções vulcânicas e outras hipóteses exóticas foram
propostas, mas o consenso científico definiu que uma rocha vinda do
espaço foi a assassina. A teoria de Chicxulub agora reina tão suprema
que os cientistas montaram cronogramas detalhados sobre o que ocorreu
naquele dia fatídico, e outros pesquisadores estão escrevendo o que
poderia ser chamado de prequela, buscando as origens extraterrestres do
evento ao qual devemos parcialmente nossa existência.
À
medida que ferramentas e técnicas mais avançadas se tornam disponíveis,
os cientistas têm sido capazes de extrair percepções novas e precisas
sobre esse extermínio épico em nosso planeta e o que isso pode
significar para o início da própria vida.
A
última descoberta vem de um estudo publicado em julho na revista
Icarus, que buscou o lar original do asteroide de Chicxulub. O estudo
aproveitou o imenso poder de processamento de um supercomputador da NASA
para modelar os movimentos de aproximadamente 130.000 asteroides no cinturão principal entre as órbitas de Marte e Júpiter.
“Finalmente,
queremos resolver grandes questões e este tipo de trabalho nos permite
ir atrás de algumas delas”, disse Bill Bottke, coautor do estudo e
diretor do departamento de estudos espaciais do Southwest Research
Institute em Boulder , no Colorado.
O
estudo da Icarus faz parte de um fluxo constante de ideias sobre o
impacto que pode ser ofuscante em sua criatividade, muitas vezes a ponto
de gerar controvérsia. Este ano, por exemplo, uma equipe da
Universidade de Harvard reavivou a possibilidade de que o objeto fosse
um cometa, provocando resistência de muitos cientistas da área.
Bottke
disse que o acesso ao supercomputador Pleiades da NASA “virou o jogo"
para sua equipe, permitindo que os pesquisadores fizessem simulações de
uma enorme população de asteroides ao longo de centenas de milhões de
anos.
Esta técnica de Big Data
ajudou a combinar a forte evidência geológica de que o objeto era um
asteroide carbonáceo - e não um cometa - com uma possível origem no
cinturão de asteroides externo. Esta região distante entre Marte e
Júpiter contém muitos asteroides carbonáceos de tamanho semelhante ao
impactador Chicxulub. Mas essas rochas não são içadas gravitacionalmente
em rotas de colisão com planetas tão frequentemente quanto asteroides
na região interna do cinturão, onde há menos objetos que correspondem à
composição de Chicxulub.
“Não
estávamos encontrando uma solução óbvia para a origem de um dos maiores
objetos que atingiu a Terra recentemente”, disse Bottke.
“Essencialmente, muitas das possibilidades que tentamos simplesmente não
estavam dando resultado. Foi muito frustrante e parecia que estava
faltando alguma coisa. ”
A
abordagem do supercomputador revelou que asteroides semelhantes ao
Chicxulub escapam do cinturão externo cerca de 10 vezes mais
frequentemente do que indicado pelos modelos anteriores. Isso aumenta as
chances de que a rocha assassina de dinossauros possa ter se originado
lá.
“Esta
é a confirmação de uma ideia muito legal e acho que me ajuda a entender
muito mais sobre como o cinturão de asteroides pode estar influenciando
a Terra ao longo de bilhões de anos”, disse Bottke.
Sean
Gulick, um geofísico planetário da Universidade do Texas em Austin que
foi um dos líderes de uma expedição científica de perfuração em 2016 e
conseguiu preciosos núcleos de rocha da cratera Chicxulub, disse que o
artigo era uma abordagem interessante para realizar "a perícia, se
quiser, sobre a origem do objeto. É intrigante porque foi um evento
muito importante para a evolução do nosso planeta e de nós mesmos.”
A
missão que Gulick ajudou a liderar continua a esclarecer o papel do
impacto tanto como um destruidor como um cadinho de vida. Enquanto os
pesquisadores sondavam as profundezas do soterrado evento do Juízo
Final, eles encontraram vestígios empoeirados do asteroide, o refluxo de
areia do tsunami que ele havia criado e os restos fossilizados de
organismos que prosperaram na sequência.
Talvez
o mais espantoso seja um estudo publicado neste verão (no hemisfério
norte) que descreveu os descendentes microbianos modernos daqueles que
primeiramente adotaram as crateras, ainda vivendo à sombra da catástrofe
que foi colonizada pelos seus antepassados.
“Acho
incrível que você possa ter um impacto e gerar um ecossistema, 66
milhões de anos depois, você ainda tem vida presente naquele local por
causa dessa condição anterior”, disse Gulick. “Em uma escala maior,
talvez você possa gerar habitats com impactos realmente no início da
história da Terra e fazer com que os ecossistemas sobrevivam depois.
Isso reflete uma das maneiras pelas quais você pode levar a vida
adiante.”
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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