Para muitos, seria psicologicamente mais fácil se a Covid-19 fosse um produto da natureza. A crueldade e a inescrutabilidade da natureza são mais fáceis de aceitar. Michael Brendan Dougherty para a National Review, com tradução para a Gazeta do Povo:
No
início da pandemia de Covid-19, colunistas preocupados com a história
começaram a abrir seus livros e procurar o que aconteceu durante as
pragas do passado. Talvez pudesse haver lições que servissem de guia
para o futuro próximo. E, de fato, vimos a história se repetir: algumas
pessoas se isolando por medo da doença; outras vivendo de forma mais
hedonista, para aproveitar um pouco a vida antes do fim. Cidades se
esvaziando e seus habitantes espalhando a doença no interior e no campo.
No
final da Idade Média, encontramos movimentos religiosos extáticos
tomando as ruas para fazer penitência diante de Deus. Em 2020, vimos
protestos em todo o mundo. Pandemias podem causar tumultos. No passado
havia bodes expiatórios, geralmente os judeus. No presente, assistimos
ao prefeito de Nova York, Bill DeBlasio, criticar a comunidade judaica
ortodoxa no Brooklyn por ir à sinagoga rezar, mesmo quando o movimento
Black Lives Matter desafiou o distanciamento social e os toques de
recolher impostos a todos os outros cidadãos.
Mas agora temos algo potencialmente novo em uma pandemia: um punhado de humanos e governos culpados.
Você
deve ter notado que depois de um ano em que quase todas as autoridades
de saúde cerraram fileiras para dizer que era ridículo acreditar que
COVID-19 surgiu de um laboratório em Wuhan, agora não falta gente para
falar sobre a teoria de vazamento em laboratório. O próprio Dr. Fauci,
que rejeitou tal teoria como “não-científica”, agora está dizendo que
não está “convencido" de que a Covid-19 surgiu na natureza ou em um
mercado de animais silvestres. Até mesmo o chefe da Organização Mundial
de Saúde disse que o vazamento do laboratório não poderia ser
descartado, após uma investigação da OMS que foi praticamente
direcionada para descartar essa teoria. Agora, o Wall Street Journal
está informando que a inteligência dos EUA tem a informação de que
vários funcionários do laboratório de Wuhan adoeceram e tiveram que ser
hospitalizados em novembro de 2019, antes da pandemia ser oficialmente
informada pelo governo chinês.
Sem
entrar na questão ainda mais importante de se o vírus foi
deliberadamente criado por como parte de um experimento de "ganho de
função", se a teoria do vazamento de laboratório for verdadeira, a
Covid-19 se torna o pior desastre causado pelo homem na história humana.
Nada mais estaria remotamente perto.
O
número final de mortos no desastre nuclear de Chernobyl é fortemente
contestado. O número imediato de mortos é de 31 a 54. Mas isso mal chega
aos efeitos da radiação, que afetou dezenas de milhares de pessoas,
especialmente aquelas que estiveram envolvidas na limpeza e sepultamento
do local. Mas mesmo na extremidade mais distante, quando extrapolamos
generosamente a partir de aumentos mensuráveis de casos de câncer, é
difícil encontrar danos diretos sérios além da escala de talvez dois
milhões de pessoas, incluindo aqueles reassentados, aqueles que
relataram quaisquer problemas de saúde ou abortados após as autoridades
de saúde europeias aconselharem isso quase imediatamente após o
acidente. O desastre da fábrica química Union Carbide em Bhopal, na
Índia, matou com gás algo entre 15 mil e 20 mil pessoas e infligiu
sérios problemas de saúde de longo prazo a talvez meio milhão de outras
pessoas.
A
Covid-19 supera todos esses. Até agora, a Organização Mundial da Saúde
estima que quase 3,5 milhões de pessoas morreram de Covid-19 em todo o
mundo. Algumas estimativas sugerem que entre US$ 16 e US$ 28 trilhões
foram perdidos na produção econômica global devido às paralisações,
lockdowns e interrupções na cadeia de abastecimento que se seguiram. O
fechamento de escolas afetou 1,6 bilhão de pessoas. E isso sem falar
sobre as pequenas, mas inesquecíveis perdas que as restrições impuseram
às nossas vidas — as reuniões perdidas, ajuda a familiares, os funerais e
casamentos aos quais nunca comparecemos.
Para
muitos, seria psicologicamente mais fácil se a Covid-19 fosse um
produto da natureza. A crueldade e a inescrutabilidade da natureza são
mais fáceis de aceitar.
Mas
e se toda essa montanha de sofrimento nos últimos dois anos fosse
produto de práticas de segurança inadequadas em um laboratório em uma
cidade da qual a maioria das pessoas nunca tinha ouvido falar até 2020?
Ou se foi em parte culpa de um partido político, o Partido Comunista
Chinês — que, procurando evitar constrangimentos, impediu o mundo de
descobrir a natureza desse surto quando houve tempo de fazer algo para
evitar que se tornasse global? Ou se foi culpa das autoridades
americanas que patrocinaram pesquisas de ganho de função no exterior,
apesar dos riscos previsíveis de tentar tornar os vírus encontrados na
natureza mais infecciosos em seres humanos?
Se
a Covid-19 é um desastre causado pelo homem, tentar encontrar as
pessoas, as instituições e os governos que criaram este desastre não é
achar um bode expiatório, e sim uma necessária averiguação dos fatos
antes de se fazer justiça.
Como
pode ser essa justiça na prática? Pode incluir proibições globais de
pesquisa de ganho de função. Essa medida por si só constituiria uma
espécie de revolução silenciosa, uma admissão de que nem todo tipo de
pesquisa científica é de fato benéfica para a humanidade. A reputação de
todo o empreendimento científico sofreria imensamente com as
consequências.
Se
foi um projeto de pesquisa de ganho de função que deu errado, os
funcionários de saúde pública que o apoiaram e autorizaram sofrerão uma
queda dramática em relação à estatura que alcançaram no ano passado.
E
se as pesquisas e investigações subsequentes puderem mostrar que as
ações do governo chinês — a maneira como manipulou a Organização Mundial
da Saúde no início da pandemia — contribuíram para um resultado global
pior, pode ser hora de trazer a palavra “reparações” para as discussões
internacionais novamente.
O processo de descoberta está apenas começando.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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