A deputada, uma veterana de quinze mandatos, foi a Minnesota botar lenha na fogueira, incentivando manifestantes do Black Lives Matter a ir “mais para o confronto” – ou seja, protestar com mais violência. Vilma Gryzinski:
Policiais
que espancaram selvagemente um motorista negro que tentou fugir de
batida foram absolvidos da acusação de uso excessivo da força. Durante
seis dias, Los Angeles explodiu numa orgia de violência que deixou 62
mortos.
É
o precedente de 1992, no caso Rodney King, que está na cabeça de todo
mundo no momento em que o júri decide sobre as três acusações de
homicídio contra Derek Chauvin, o ex-policial filmado apertando com o
joelho o cada vez mais inerte George Floyd.
Nem
que Chauvin seja mandado para uma jaula em Guantánamo pelo resto da
vida será considerado suficiente por muitos dos que incendiaram as ruas
de cidades americanas depois da morte de Floyd.
Isso
se o júri considerar provadas as três hipóteses contra o réu: teve a
intenção de infligir lesões físicas, teve atitudes “eminentemente
perigosas” e tomadas sem consideração pela vida da vítima e assumiu
conscientemente o risco de causar lesões ou morte.
Todo mundo que viu o vídeo tem poucas dúvidas, mas julgamentos são baseados em provas apresentadas com direito ao contraditório.
Até
fatos que parecem óbvios podem ter desdobramentos inesperados. Um
exemplo: Brian Sicknick, o policial morto na invasão do Congresso em 6
de janeiro, apresentado como vítima de manifestantes brutais que o
atingiram com um extintor de incêndio, na verdade morreu em casa de
causas naturais, uma trombose cerebral, segundo o laudo patológico agora
divulgado.
Por
pouco o julgamento de Chauvin não foi por água abaixo por causa dos
comentários feitos pela deputada Maxine Waters, que é do tipo de
parlamentar que fala qualquer coisa, e geralmente coisa errada, uma
espécie nada estranha no bioma brasiliense.
A
deputada, uma veterana de quinze mandatos, foi a Minnesota botar lenha
na fogueira, incentivando manifestantes do Black Lives Matter a ir “mais
para o confronto” – ou seja, protestar com mais violência.
“Precisamos fazer com que eles entendam que estamos falando a sério”, ameaçou.
O
juiz do caso, Peter Cahill, não só ficou fulo, acusando a deputada de
desrespeitar o estado de direito com seus comentários “abomináveis”,
como alertou que isso poderia constituir pretexto para a defesa pedir a
anulação do julgamento.
Maxine
Waters tem 82 anos e passou os últimos quatro deles propondo o
impeachment de Donald Trump, mesmo sabendo que a composição do Senado
tal como era até a última eleição barraria qualquer avanço. Também
insuflou simpatizantes da causa antitrumpista a assediar membros do
governo em restaurantes e outros lugares públicos.
De
deputada folclórica pela linguagem abusada e o uso de bijuterias
chamativas com chapéu de cowboy – sem contar o obscuro pagamento de 240
mil dólares à filha, para mandar correspondência de campanha -, Maxine
Waters hoje ocupa uma das posições mais importantes da Câmara, como
presidente da Comissão de Finanças.
Deputados republicanos obviamente tentaram explorar o descontrole verbal de Waters e até pedir que ela fosse cassada.
Comentaristas
de direita se arrepiaram e Tucker Carlson lascou: “Durante décadas ela
apoiou o governo totalitário de Cuba”, independentemente das execuções
em massa.
“Ela
nunca teve um problema com a execução de inimigos políticos”, exagerou o
apresentador que faz a cabeça dos trumpistas mais arrebatados. “A
mensagem dela foi clara: façam o que estamos mandando ou vamos
matá-los”.
Declarações
espalhafatosas como as da deputada num momento de alta tensão são um
presente para a oposição e uma encrenca para o governo Biden, que não
pode desautorizá-la nem parecer que repudia o Black Lives Matter, tendo
ao mesmo tempo o ônus de garantir a ordem caso a situação fuja do
controle e seja necessária a intervenção de forças federais.
Foi
isso que aconteceu em Los Angeles em 1992, quando tudo escapou ao
controle. Ao lado das cenas chocantes do espancamento de Rodney King, a
outra imagem que ficou do surto de violência foi o ataque a Reginald
Denny, um caminhoneiro branco espancado por negros a ponto de sofrer 94
fraturas de crânio.
O
ataque foi transmitido ao vivo e ninguém gostaria de ver alguma dessas
coisas se repetindo – tanto a violência policial contra um detido negro
quanto a brutalidade contra alguém por ser branco.
Ou talvez até alguns gostassem, mas não deveria dizer isso em público.
“Gostaria
que representantes eleitos parassem de falar a respeito dessa caso,
especialmente de um modo que desrespeita o estado de direito”, apelou o
juiz Peter Cahill. “Se quiserem dar sua opinião, deveriam fazer isso de
forma respeitosa e coerente com seu juramento à Constituição de
respeitar todos os poderes.”
Em
Minneapolis, para onde foram enviados três mil homens da Guarda
Nacional, até as aulas presenciais foram suspensas, não por causa da
Covid-19, mas pelo vírus da violência.
É triste ver que ele pode ser disseminado com fins políticos.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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