Defender
Renan Calheiros não chega a ser fácil. Mas tê-lo como inimigo é muito
mais difícil. Na guerra da CPI da Covid, Bolsonaro o escalou para
inimigo. Pior: para enfrentá-lo, contava com o Centrão. Mas o Centrão já
deixou claro que, por melhor que tenha sido a acolhida de Bolsonaro a
suas reivindicações, isso é passado: agora, são outros (e muitos)
quinhentos.
O
presidente da CPI, Omar Aziz, do PSD, vem trabalhando com Renan, o
relator, para traçar um roteiro de trabalho. E, embora o PSD seja
Centrão, Aziz disse que ninguém manda numa CPI, que conforme os fatos
toma seus próprios rumos. Aliás, o presidente nacional do PSD, Gilberto
Kassab, sem dúvida um dos políticos mais hábeis em atuação, transmitiu a
orientação de que o partido deve buscar, em cada Estado e município, a
aliança que lhe for mais conveniente; e manter-se neutro na luta
presidencial. Kassab é mestre nisso: está com Doria, está com Bolsonaro,
está fazendo seu PSD crescer.
CPI
pode virar pizza, e muitas já viraram; mas pode arruinar o estômago do
poder. Bolsonaro, com sua capacidade de ocupar o espaço da oposição,
exigiu que a CPI, criada para avaliar ao combate à Covid 19, ampliasse
seus objetivos para investigar o trabalho de governadores e prefeitos. É
justo que cada um responda por seus atos; mas é inviável investigar,
numa só CPI, os quase seis mil municípios do país. E, ao fazer essa
sugestão, o presidente foi atingir, entre outros, o governador de
Alagoas, Renan Filho – filho de Renan.
Jogo duro
Renan
estava quieto. Agora está ativíssimo e Bolsonaro é seu alvo. Não é um
alvo difícil: há vídeos em que o presidente desdenha da CoronaVac por
sua origem chinesa, em que diz que não irá comprá-la de jeito nenhum, em
que determina ao general que tentava ser ministro da Saúde que anulasse
um acordo de compra de vacinas do Instituto Butantan. Há declarações
gravadas do presidente dizendo que a Pfizer lhe oferecera vacinas e ele
as rejeitara. E a própria Pfizer já informou que ofereceu ao Brasil 70
milhões de vacinas e foi repelida. Há a dispendiosa propaganda da
cloroquina, há o caso dramático de Manaus, que precisava de oxigênio e
recebeu cloroquina. Mais: como não havia oxigênio em Manaus, doentes
foram transferidos para outros Estados, difundindo, com dinheiro
estatal, a nova variante amazônica de vírus.
Tem mais
Dizem
que Bolsonaro não terá a menor importância na Conferência do Clima, que
reúne líderes internacionais. Mas terá, sim: desempenhará o papel de
saco de pancadas. Há interesses de grupos econômicos de grande porte na
desmoralização da agroindústria brasileira. Mas o Governo ajuda: no
último mês de março, houve recorde de desmatamento na Amazônia. Uma
carga de madeira ilegal foi apreendida pela Polícia Federal e o Governo
quer porque quer liberá-la. O delegado que apreendeu a madeira foi
demitido em seguida.
Filho 01
Flávio
Bolsonaro sofreu um acidente de quadriciclo na praia da Taíba, no
Ceará. Sem problemas, mas desmentiu, bravo, que tenha ido para a praia
em avião da FAB. É facílimo comprovar: basta mostrar a passagem
comercial. E verificar se não foi paga pelo Senado.
Que gente fofoqueira, não é?
Filho 04
Jair
Renan estreia em negócios: um empresário equipou seu escritório em
Brasília, deu-lhe um carro elétrico de presente, e pouco depois quem o
recebeu no palácio? Sim, o paipai! Já houve representação contra Jair
Renan no Ministério Público e no Tribunal de Contas da União.
CPI assim é fácil.
Espírito Santo
Coisa
brava: um jornal virtual do Espírito Santo, FolhadoES, publicou o nome
do vencedor de uma enorme concorrência pública, de R$ 139 milhões, um
dia antes que a concorrência se realizasse. Valeu o escrito: ganhou quem
o jornal dizia que iria ganhar, uma empresa chinesa, a Dahuá. O
governador do Estado, Renato Casagrande, PSB, é acusado de saber o
destino de uma propina de R$ 40 milhões. O Governo capixaba desmente
tudo. Mas a notícia, que por algum motivo não é divulgada pela imprensa
em papel do Estado nem pelos grandes jornais do país, foi forte o
suficiente para furar o bloqueio: dois colunistas de porte, Cláudio
Humberto (www.diariodopoder.com.br), de Brasília, e Cláudio Tognolli (www.claudiotognolli.com.br) divulgaram amplamente o assunto.
Americanos na briga
Tognolli
e Cláudio Humberto têm conhecimento de um pendrive lotado de
informações, muita coisa para o Ministério Público averiguar. Ontem,
Tognolli noticiou que o IPVM, jornal americano especializado em
tecnologia e vigilância, já está na terceira reportagem sobre a
licitação e deu uma gravação em português de acertos para que a
concorrência atingisse seus objetivos. É bom prestar atenção: os
acontecimentos no Espírito Santo têm tudo para concorrer com os de
Brasília.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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